Internacional
EUA dizem que j� capturaram 4.000 iraquianos

Qatar e Washington As forças militares dos Estados Unidos disseram ontem que mais de 4.000 iraquianos foram feitos prisioneiros em uma semana de guerra. O brigadeiro-general Vincent Brooks disse que as operações lideradas pelos EUA continuariam, apesar das más condições climáticas no golfo Pérsico, atingido por fortes ventos, chuva e tempestades de areia. A operação aérea e terrestre no país ocorrem conforme os planos e os comandantes estão con-fortáveis com a maneira como a batalha se desenvolve, acrescentou Brooks. Nossas operações não foram feitas para ser um cerco, explicou ele durante uma entrevista coletiva na sede do Comando Central, no Qatar, enquanto que a Casa Branca, em Washington, denunciava que alguns soldados americanos capturados no último domingo, depois de caírem em uma emboscada na cidade iraquiana de Nasiriya, terem sido aparentemente executados pelos iraquianos, provavelmente na frente de moradores da cidade, indicaram oficiais americanos. Os oficiais alertaram que a informação foi baseada em uma fonte e que eles estão buscando evidências comprovadoras. Ainda não está claro qual dos sete corpos foi executado, em vez de morto no combate, como os iraquianos afirmam. Cinco outros americanos foram capturados e, pelo menos, três continuam desaparecidos. As acusações surgiram dias depois de uma fita de vídeo dos prisioneiros e soldados mortos ser exibida pela Al Jazeera, a rede de televisão árabe. Ela trazia imagens de pelo menos quatro corpos; alguns deles com feridas à bala na cabeça. Quando a verdadeira história vier à tona, as pessoas ficarão revoltadas, disse um militar. As acusações vieram no final de um dia no qual oficiais seniores do Pentágono e da Casa Branca acusaram os iraquianos de uma série de crimes de guerra, incluindo fingir a rendição para então atirar contra as forças americanas, além de usarem um hospital como área de preparação para ataques militares. A Casa Branca também disse que as forças paramilitares do Iraque estão impedindo a entrada de assistência em Basra, no sul do país. No Pentágono, o secretário de Defesa, Donald H. Rumsfeld, e o presidente da Junta de Chefes de Estado, o general Richard B. Myers, defenderam seu plano de guerra contra as críticas de que as forças terrestres foram concentradas na linha de combate, deixando a retaguarda vulnerável a ataques de guerrilhas das forças paramilitares. É um bom plano, e é um plano que em quatro ou cinco dias posicionou as forças terrestres à uma curta distância de Bagdá, disse Rumsfeld, depois de perguntas dos repórteres. E as forças no país só aumentam. O general Myers considerou o plano de guerra brilhante, dizendo que todos os obstáculos decorreram das violações iraquianas à Convenção de Genebra. É um plano que segue o programado, afirmou. É um plano apoiado por todos. Um oficial sênior do governo, que participou intensamente do planejamento da guerra, disse em uma entrevista que os soldados do presidente Saddam Hussein lutam como terroristas, e atribuiu a falta de uma boa recepção às tropas a presença do terrorismo em algumas cidades, com esses paramilitares e organizações especiais impondo o mesmo terror brutal de anos. Não encontramos grandes segmentos da população iraquiana ainda, alertou o oficial. Ele disse ainda que Bush decidiu assumir que o governo iraquiano ainda está funcionando. /// Guarda Republicana trava intensa batalha Bagdá Tropas dos Estados Unidos e do Iraque travaram na ontem uma violenta batalha pelo controle de uma ponte sobre o rio Eufrates, perto da cidade de Najaf, no sul do país. Foi a primeira batalha envolvendo unidades especiais da Guarda Republicana, as tropas de elite do regime iraquiano. Um porta-voz iraquiano disse que houve graves perdas. Até as 13h30 (hora de Brasília), a batalha ainda prosseguia, cerca de 20 quilômetros a sudeste de Najaf. Um oficial norte-americano que acompanha os combates disse que um número desconhecido de tanques e blindados Bradley, dos Estados Unidos, foi destruído pelos iraquianos, que estavam armados com lança-granadas e rifles automáticos. O militar disse que os ocupantes dos veículos conseguiram escapar, mas não se sabe o que aconteceu com eles. Já o Iraque disse que um grande número de soldados americanos ou britânicos foram mortos neste ataque e seis blindados foram destruídos. Segundo o porta-voz, as forças iraquianas também destruíram um helicóptero britânico na região de Basra (sul) e lançaram um míssil Al-Samud contra a base aérea Ali Salem no Kuwait. As forças americana e britânica perderam, no total, além do helicóptero, 11 tanques e 12 veículos de transporte de tropas nas últimas 24 horas, segundo o comunicado. A porta-voz do Pentágono, nos Estados Unidos, Victoria Clarke, afirmou que o governo não está escondendo as baixas na sua tropa. O número oficial do Pentágono indica 24 militares mortos e 19 feridos. O correspondente da Reuters Andrew Gray, que está perto da cidade, disse ter ouvido jatos sobrevoando a região. O oficial que relatou o combate confirmou que os EUA chamaram reforços aéreos, apesar de a visibilidade ser ruim por causa da tempestade de areia. Funcionários da inteligência dos EUA afirmaram que as forças iraquianas se dirigiam para o sul a partir de Bagdá, em uma rota de colisão com as forças norte-americanas que lutam em Nassiriya. Os oficiais disseram que cerca de 3 mil homens da Guarda Republicana foram vistos perto da rodovia 7 e outros 2 mil em outra estrada. Cerca de mil veículos participariam do comboio. A marcha pode representar uma mudança na estratégia iraquiana, e desencadear batalhas mais violentas. Em outro incidente, um comboio dos marines que transportava mantimentos e combustível para as tropas aliadas foi atacado no sul do Iraque. O tiroteio durou cerca de meia hora, de acordo com o correspondente da Reuters Matthew Green, que acompanhava a operação. Segundo os militares, o ataque foi coordenado e partiu de várias direções ao mesmo tempo. Não houve notícia de baixas. /// Saddam sobrevive depois de uma semana de guerra Bagdá O presidente iraquiano Saddam Hussein, após uma semana de combates, sobreviveu aos ataques contra a capital iraquiana, acabando com os rumores que o davam como morto ou ferido e exortando seu povo a se defender e concentrando suas tropas especiais para tentar resistir ao ataque final da coalizão contra Bagdá, a capital convertida em fortaleza. Os golpes assestados pelas tropas inimigas têm despertado um vigoroso sentimento nacionalista e reafirmado a resistência no sul do Iraque, surpreendendo americanos e britânicos, que esperavam uma acolhida favorável. Aproxima-se a vitória, afirmou Saddam Hussein segunda-feira ao seu povo, em um pronunciamento. No entanto, o temível avanço das colunas blindadas, o intenso bombardeio e a superioridade tecnológica da maquinaria de guerra da coalizão que pode atacar objetivos específicos sempre que desejar, são um mau augúrio para o futuro do dirigente iraquiano, com 65 anos. Suas três décadas no poder, marcadas por duas guerras, Iraque-Irã (1980-88) e a do Golfo (1991), foram tão longas como a semana que acaba de passar. O pior virá nos próximos dias. As poderosas forças americanas pulverizam sistematicamente os símbolos do regime, entre eles os ministérios, os palácios presidenciais e os complexos militares, ainda que estas operações se realizem a um ritmo mais lento do que o previsto. Durante a sexta noite de bombardeios sobre Bagdá, os canais de televisão foram tomados como alvos. Um deles recomeçou suas transmissões depois de ser momentaneamente forçado ao silêncio. Washington e Londres buscam assim calar a máquina de propaganda do governo.