Diplomata brasileiro morre em atentado a bomba no Iraque

Bagdá - Uma forte explosão de caminhão-bomba atingiu ontem a sede da Organização das Nações Unidas (ONU)) em Bagdá, matando 17 pessoas, incluindo o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, 55, e deixando dezenas de feridos, segundo a ONU. Outras cinco pessoas, que haviam sido dadas como mortas, estão desaparecidas. Todas elas trabalham para o Banco Mundial. A explosão ocorreu na região do hotel Canal, que abriga o quartel-general da ONU na capital iraquiana, às 16h40 (9h40 em Brasília). ?Ao menos 200 pessoas trabalhavam no prédio quando ocorreu o atentado?, disse Veronique Taveau, porta-voz da ONU. ?Vi o caminhão de uma empresa de cimento, de cor amarela, chocar-se contra o muro que rodeia o hotel Canal e explodir?, afirmou Fayez Sarhan, funcionário da ONU que estava no local no momento da explosão. Vieira de Mello, representante especial da ONU para o Iraque, morreu soterrado sob os escombros. Seu escritório foi destruído pela explosão. Equipes de resgate lutaram por várias horas para tentar retirar o diplomata das ruínas, mas uma barra de ferro que caiu sob as pernas do brasileiro, impedia que ele se movimentasse. Segundo Salim Lone, porta-voz da ONU, a explosão ocorreu debaixo da janela de Viera de Mello. ?Acho que foi planejado para isso.? A explosão feriu também Benon Sevan, diretor do programa Petróleo por Comida no Iraque, que estava dando uma entrevista coletiva no local. A explosão foi uma tragédia pessoal e um atraso político para a missão da ONU no Iraque, declarou Fred Eckhard, outro porta-voz da entidade. O Ministério das Relações Exteriores divulgou, ontem à noite, nota oficial de pesar pela morte de Sérgio Vieira de Mello. ?Chocado e compungido, o governo brasileiro recebeu com profunda tristeza a notícia da morte de Sérgio Vieira de Mello, em decorrência de bárbaro e insensato ato terrorista?, afirma o Itamaraty. De acordo com o documento, Sérgio Vieira de Mello ?sempre se desincumbiu com grandeza e profissionalismo das difíceis missões que lhe foram confiadas no Camboja, na Bósnia e no Kossovo, entre outras. No Timor Leste, teve papel fundamental, na qualidade de chefe da Autoridade Transitória das Nações Unidas, na reconstrução do país e na consolidação de suas instituições. Era um defensor incansável do humanismo, da paz, do direito e do multilateralismo. Honrou a cidadania brasileira e é motivo de orgulho para toda a Nação?. O Itamaraty informou, também, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou luto oficial por três dias e decidiu outorgar a Ordem Nacional do Mérito, em seu grau máximo, a Sérgio Vieira de Mello, como homenagem póstuma. O avião presidencial foi colocado à disposição da família para transportar o corpo de Sérgio Vieira de Mello para o Brasil, ?se esse for o desejo da família?. De acordo com Assessoria de Comunicação do Itamaraty, o governo brasileiro está recebendo inúmeras manifestações de pesar de líderes mundiais. Entre muitos telefonemas, o ministro das Relações Exteriores, embaixador Celso Amorim, atendeu o do secretário de Governo dos Estados Unidos, Collin Powel, que apresentou em nome de seu país, condolências ao governo do Brasil. Autoridades de vários países condenam ataque à ONU Washington - Governos de diversos países e autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU) condenaram o ataque contra a sede da ONU em Bagdá. O presidente norte-americano, George W. Bush, disse em Washington que o ataque demonstra que os terroristas ?desprezam os inocentes? e novamente mostraram seu medo do progresso, seu medo da paz. ?Eles [terroristas] são os inimigos do povo iraquiano e de todos os países que ajudam o povo iraquiano?, acrescentou. ?O mundo civilizado não vai se intimidar. Esses terroristas não vão determinar o destino do Iraque. Os iraquianos que querem paz e liberdade devem rejeitar os terroristas?, afirmou. Bush prometeu assistência à ONU em seus esforços de reconstrução. O administrador dos EUA no Iraque, Paul Bremer, também disse que ?os terroristas são inimigos do Iraque e de todos os países civilizados?. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, expressou choque e consternação com o ataque, mas prometeu que a ONU vai continuar sua missão no Iraque. A Rússia disse estar chocada com o que chamou de ?ato bárbaro?, e pediu maior participação internacional na reconstrução do Iraque. Jack Straw, ministro britânico das Relações Exteriores, disse estar ?atemorizado com este ato insensível?, acrescentando que o Reino Unido fará de tudo para ajudar a Autoridade Provisória e o Conselho de Governo Iraquiano a levarem os criminosos à Justiça. A França prometeu apoio à ONU no Iraque e condenou o ataque de ontem. ?Atos odiosos como este só conseguem causar indignação e franca condenação?, disse o presidente Jacques Chirac, em mensagem a Annan. A Interpol (polícia internacional), com base na França, também condenou o ato, afirmando tratar-se de um ?ataque contra todos os funcionários públicos internacionais do mundo?.