Hacker
Paraguai chama embaixadores e cobra explicação após espionagem da Abin
Chanceler fala em violação do direito internacional e intromissão nos assuntos internos do país
O governo do Paraguai anunciou ontem que decidiu convocar de volta ao país seu embaixador no Brasil, Juan Ángel Delgadillo, e pedir explicações detalhadas ao governo brasileiro sobre a ação hacker realizada contra o país para obter informações sobre a negociação do tratado envolvendo a usina hidrelétrica de Itaipu.
O ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano, anunciou as medidas em uma coletiva de imprensa realizada ontem. Convocar um embaixador, na tradição diplomática, é uma manifestação de descontentamento com o país onde o embaixador fica sediado. É uma reprimenda pública para obter ações do outro país.
O UOL revelou ontem que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) realizou uma ação hacker contra autoridades do governo do Paraguai. A ação hacker consistiu na invasão de dispositivos de informática de autoridades paraguaias. De acordo com as informações de investigação da Polícia Federal, foi planejada no final do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e executada na gestão do presidente Lula.
Em nota divulgada ontem, o Itamaraty confirmou que a Abin sob a gestão Bolsonaro iniciou a ação hacker, mas disse que o governo Lula cancelou a operação em março de 2023, após tomar conhecimento da ação.
O chanceler paraguaio ontem havia dito que o país não detectou nenhum indício de invasão aos seus sistemas. Entretanto, após a nota do governo brasileiro ter confirmado a ação hacker, o governo paraguaio mudou de posição e decidiu exigir explicações do país vizinho.
“Essa é uma violação do direito internacional, uma intromissão dos assuntos internos por parte de um país ao outro”, afirmou Ramírez.
Além de convocar seu embaixador, Ramírez disse que o Paraguai vai solicitar ao embaixador brasileiro no seu país uma explicação detalhada sobre a operação hacker feita pelo Brasil.
O governo paraguaio também anunciou a suspensão por tempo indefinido das negociações do anexo C do tratado de Itaipu, que discute as condições de comercialização de energia da hidrelétrica, e disse que vai abrir uma investigação para verificar se houve invasão efetiva e captura de dados dos seus sistemas de informática.