Oriente Médio
Cruz Vermelha recolhe corpos de quatro reféns em Gaza
Israel acusa grupo islamista de violar acordo e não reabre passagem em Rafah


O Exército israelense informou ontem que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) recolheu os corpos de quatro reféns mantidos por militantes palestinos em Gaza. A operação ocorre em meio a um novo impasse nas negociações entre Israel e o Hamas, após Tel Aviv decidir não reabrir a passagem de Rafah — na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito —, acusando o grupo islamista de violar o acordo de cessar-fogo ao não devolver todos os reféns mortos.
De acordo com o CICV, equipes estão adotando medidas para garantir o tratamento digno dos corpos, utilizando veículos refrigerados, sacos mortuários e reforço de pessoal. “Estamos fazendo o possível para assegurar que os mortos sejam tratados com respeito”, informou o comitê em nota.
A entrega parcial reacendeu tensões entre as partes. Na segunda-feira, o Hamas libertou 20 reféns vivos e entregou quatro corpos, mas outros 24 ainda permanecem em Gaza. O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, afirmou que qualquer atraso deliberado na devolução será considerado uma violação do acordo. “O anúncio do Hamas sobre o retorno de apenas quatro corpos é um fracasso no cumprimento dos compromissos assumidos”, escreveu Katz na rede X.
Fontes do Hamas admitiram que o grupo não possui informações completas sobre a localização dos restos mortais dos reféns mortos nos últimos dois anos. Negociadores afirmam que Israel tinha conhecimento dessas limitações quando assinou o plano de cessar-fogo.
Em carta enviada ao enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, o Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas expressou preocupação com o descumprimento do acordo e pediu intervenção imediata. “O que temíamos está acontecendo diante dos nossos olhos”, diz o documento. O grupo anunciou ainda uma reunião de emergência para discutir o caso e apelou à suspensão do cessar-fogo até que todos os reféns sejam devolvidos.
Equipes egípcias atuam dentro de Gaza na busca pelos corpos israelenses, segundo o canal Al-Araby, do Catar. O trabalho enfrenta grandes dificuldades devido à destruição provocada por mais de dois anos de bombardeios. Autoridades de saúde locais informaram à Reuters que 45 corpos de palestinos mortos durante a guerra foram devolvidos ao enclave e encaminhados ao Hospital Nasser.
Israel ainda mantém sob custódia centenas de corpos de palestinos mortos desde 7 de outubro de 2023, incluindo combatentes do Hamas. O CICV classificou a devolução dos restos mortais como um “enorme desafio”, considerando o estado de devastação em Gaza. “É um desafio ainda maior do que libertar pessoas vivas”, afirmou o porta-voz Christian Cardon, alertando que o processo pode levar semanas e que alguns corpos talvez nunca sejam encontrados.
Durante as negociações do cessar-fogo, fontes israelenses disseram à CNN que o Hamas poderia não conseguir entregar todos os 28 corpos de reféns mortos após o ataque de outubro de 2023, que deixou quase 1,2 mil israelenses mortos e marcou o início da guerra. Parte dos corpos estaria soterrada sob toneladas de concreto em prédios e túneis destruídos.
O acordo, mediado por Catar, Egito e Estados Unidos, previa a interrupção temporária dos combates, a troca de reféns por prisioneiros palestinos e o aumento da entrada de ajuda humanitária. No entanto, questões sobre o futuro de Gaza seguem indefinidas.
O plano prevê que o território seja administrado por palestinos sem vínculos com o Hamas, sob supervisão internacional — possibilidade que ainda divide opiniões. Israel e os EUA rejeitam a criação imediata de um Estado palestino, condição que o Hamas considera essencial para avançar em qualquer negociação de paz.