Interferência
Trump dá carta branca à CIA para agir pela queda de Maduro
Plano incluiria operações letais, bombardeios e até captura do líder venezuelano


O governo Donald Trump autorizou oficialmente a CIA, a agência de espionagem dos Estados Unidos com longo histórico de interferência na América Latina, a realizar operações secretas e letais dentro da Venezuela com o objetivo de derrubar o ditador Nicolás Maduro do poder.
A informação foi antecipada pelo jornal The New York Times ontem e confirmada por Trump horas depois. Em conversa com a imprensa na Casa Branca, o republicano disse que a Venezuela “está sentindo a pressão” e não descartou operações em terra.
Horas mais tarde, Maduro reagiu. “Não à guerra no Caribe. Não à mudança de regime, que nos lembra tanto as eternas guerras fracassadas no Afeganistão, no Irã, no Iraque. Não aos golpes de Estado dados pela CIA”, disse em um discurso. “A América Latina não os quer, não precisa deles e os repudia.”
Dois americanos ligados a discussões sobre Venezuela no governo Trump disseram à Folha que o presidente tem em mãos uma série de planos de como asfixiar o regime de Maduro.
A estratégia seria alinhavada com o general Dan Caine, presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, em quem Trump teria grande confiança. A ideia seria ampliar a pressão nas próximas semanas com operações militares nos arredores da Venezuela, sem invadir o país, e trabalhar com a inteligência americana para capturar Maduro. O sinal que os EUA dariam é que estão dispostos a tirar o líder do poder preso ou mesmo morto, para que o ditador se entregue e abandone o comando do país voluntariamente.
Um desses interlocutores ligados à ala linha-dura do governo comparou a operação à mesma que levou ao assassinato do major-general Qassim Suleimani, chefe da máquina de segurança do Irã morto por um ataque de drone dos EUA perto do aeroporto de Bagdá em 2020, no primeiro mandato de Trump.
Essa estratégia de ampliar a pressão com o intuito de mudar o regime tem o apoio do secretário de Estado, Marco Rubio, e se sobrepõe, ao menos por ora, à de Richard Grenell, enviado para missões especiais de Trump, que defende uma abordagem mais focada em negociar com Maduro.
Além da mudança no regime, a operação contra a Venezuela teria ainda outros objetivos, como mandar sinais a toda a América Latina, incluindo o Brasil, de que se não houver controle da atuação do crime organizado latino-americano em território dos EUA, a reação será dura. O principal destinatário do recado seria o México.
Outro objetivo seria mostrar também a característica do rebatizado Departamento de Defesa, renomeado por Trump de Departamento de Guerra, e enviar o sinal de que os EUA agem na ofensiva.
Em um discurso na noite de ontem, Maduro citou o tema indiretamente e afirmou que o povo venezuelano rejeita qualquer tentativa de intervenção no país. “Chega de golpe da CIA. Não à mudança de regime, que tanto nos lembra das guerras eternas e fracassadas no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e assim por diante”, afirmou.
O presidente venezuelano também criticou opositores que estão fora do país e que, segundo ele, convocam os Estados Unidos a atacarem a Venezuela. Ele também criticou o que classificou como ameaças dos EUA e guerra psicológica.
“É uma covardia não dar a cara, se esconder em Miami e pedir para bombardear ou atacar militarmente uma pátria de gente nobre, que só trabalha e vive em paz, como a Venezuela”, disse.