Conflito
Putin eleva pressão sobre plano de paz com a Ucrânia
Líder russo condiciona fim dos combates à retirada ucraniana de áreas ocupadas


Com o plano de paz elaborado pelos Estados Unidos ainda indefinido, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, endureceu o tom ontem ao condicionar o fim dos combates na Ucrânia à retirada das tropas de Kiev dos territórios reivindicados por Moscou como anexados — exigência considerada inaceitável pelo governo de Volodymyr Zelensky.
A Rússia ocupa amplas áreas de Donetsk e Luhansk, no leste, além de trechos de Kherson e Zaporizhzhia, no sul, embora Putin não tenha detalhado a quais regiões se referia.
“Se as forças ucranianas se retirarem dos territórios que controlam, cessaremos as operações de combate. Caso contrário, vamos alcançar com meios militares”, afirmou o líder russo durante visita ao Quirguistão.
O impasse ocorre no momento em que americanos e ucranianos revisam o esboço inicial do plano de paz, apresentado por Washington. A primeira versão, com 28 pontos, incluía exigências amplamente favoráveis à Rússia — entre elas, a cessão de cerca de 20% do território ucraniano ocupado, seu reconhecimento internacional como parte da Rússia, limites às Forças Armadas da Ucrânia e veto permanente ao ingresso na Otan.
A proposta enfrentou forte resistência de Kiev e aliados europeus. Após dias de negociação, o plano foi reduzido para 19 pontos, com mudanças em temas sensíveis, como o tamanho das forças ucranianas e o destino de US$ 100 bilhões em ativos russos congelados, que seriam usados na reconstrução da Ucrânia.
A cessão territorial segue como principal ponto de bloqueio nas conversas. O enviado especial da Casa Branca, Steve Witkoff, deve ir a Moscou na próxima semana para discutir o texto revisado com autoridades russas.
Zelensky, em reunião com o grupo de países autodenominado “coalizão dos dispostos”, afirmou estar pronto para avançar nas discussões, inclusive sobre aspectos mais delicados, que deverão ser negociados diretamente entre ele e o presidente americano, Donald Trump.
“Decisões de segurança sobre a Ucrânia devem incluir a Ucrânia. Quando algo é decidido pelas costas de um país, há grande risco de não funcionar”, disse Zelensky, destacando a necessidade de participação europeia e o envolvimento pessoal de Trump.
O governo americano adota um tom cautelosamente otimista. À CNN, um integrante da administração afirmou que “os ucranianos aceitaram o acordo de paz”, faltando apenas “detalhes menores” a resolver. Nas redes sociais, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou que houve “progressos consideráveis”, ainda que existam “detalhes delicados” a serem concluídos
Ontem, Putin voltou a questionar a legitimidade de Zelensky e afirmou que seria “inútil” assinar qualquer documento com o atual governo ucraniano. Disse ainda que um acordo de paz exigirá o fim da lei marcial e a convocação de eleições — algo que, segundo ele, fragilizaria as chances políticas do presidente ucraniano.
“Queremos chegar a um acordo com a Ucrânia, mas hoje isso é impossível na prática e do ponto de vista legal”, disse Putin. “Precisamos que nossas decisões sejam reconhecidas pelos principais atores internacionais.”
