Após telefonema, Boric recebe Kast e inicia transição de governo

O presidente do Chile, Gabriel Boric, recebeu ontem, no Palácio de La Moneda, o presidente eleito José Antonio Kast, em um encontro que marcou o início formal do processo de transição governamental no país. A reunião ocorreu após um telefonema feito por Boric no domingo (14), logo após a divulgação do resultado do segundo turno das eleições presidenciais.

Kast, líder do Partido Republicano, venceu a disputa ao derrotar a candidata comunista Jeannette Jara com 58,17% dos votos, contra 41,83%, segundo o Serviço Eleitoral do Chile, após a apuração de mais de 99,6% das urnas. A posse do novo presidente está marcada para 11 de março.

Antes de entrar no palácio presidencial, Kast afirmou esperar uma “conversa republicana” com Boric e agradeceu pela recepção. O presidente eleito ressaltou que o atual chefe de Estado mantém “uma grande responsabilidade” até a transferência oficial do comando.

Nas redes sociais, Boric destacou o caráter institucional do encontro. Segundo ele, a reunião deu início a uma “passagem de comando ordenada e exemplar”, em respeito às normas democráticas e republicanas.

“A capacidade de trabalhar pelo bem-estar do Chile é o que engrandece e faz avançar o nosso país”, escreveu.

Kast chegou acompanhado da esposa, María Pía Adriasola, e de integrantes centrais de sua equipe política, entre eles Jorge Quiroz, Claudio Alvarado, María Jesús Wulf e Arturo Squella, nomes ligados ao núcleo ideológico e programático de sua campanha.

O encontro ocorre em um ambiente político marcado por forte polarização e simboliza o retorno da direita ao poder no Chile após quatro anos de governo de esquerda.

Em seu primeiro discurso como presidente eleito, Kast prometeu promover mudanças profundas, com foco no combate ao crime organizado e na contenção da imigração irregular, e afirmou que o “respeito” será o princípio orientador de sua gestão. Ele também fez um apelo à união e ao diálogo, destacando o papel da oposição no funcionamento da democracia.

A vitória de Kast repercutiu dentro e fora do país. Boric foi o primeiro a reconhecer o resultado, classificando-o como “uma vitória clara” e ressaltando a responsabilidade do cargo. Líderes conservadores da região, como os presidentes da Argentina, Javier Milei, do Equador, Daniel Noboa, e do Paraguai, Santiago Peña, parabenizaram o presidente eleito, assim como o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, afirmou que espera aprofundar a parceria com o Chile sob a nova gestão.

Jeannette Jara também telefonou para Kast para reconhecer a derrota e desejar sucesso ao futuro governo. Em declaração a apoiadores, afirmou que é hora de exercer a oposição, mas sem promover divisões no país.

Para analistas, o resultado eleitoral reflete o peso das preocupações com segurança pública e imigração, além do desgaste do governo Boric. Segundo o cientista político Gilberto Aranda, da Universidade do Chile, Kast soube capitalizar o medo da população e o voto de protesto, criando um ambiente favorável à sua vitória.