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Nº 5856
Maré

DO OUTRO LADO DA TELA

Professores e professoras revelam experiência durante a pandemia e dizem que precisam usar a criatividade e lidar com a solidão das aulas online

Por DIMITRIA PIMENTEL* ESTAGIÁRIA | Edição do dia 17/10/2020 - Matéria atualizada em 17/10/2020 às 06h00

Eles são espirituosos e se dedicam a fazer o conhecimento ser absorvido da melhor maneira pelos estudantes. Este ano, os professores, que também foram pegos de surpresa, se adaptaram à pandemia do novo coronavírus e agora passam o conteúdo através de um câmera. Por causa das aulas no modelo Ensino a Distância (EaD), os educadores estão fazendo um verdadeiro “se vira nos trinta” para conseguir o mesmo resultado das salas de aula. Esse formato de educação trouxe muita reflexão e debate nas redes sociais nos últimos dias, já que na maioria das vezes, os professores ficam “falando sozinhos” com os alunos deixando a câmera e o microfone desligados durante toda a aula. É preciso lançar mão da criatividade para evitar que os alunos não parem de prestar atenção no conteúdo. Na semana em que é comemorado o Dia do Professor, a revista Maré conversa com três educadores para saber como é a realidade dos que não podem ficar “mutados”. Angela Palmeira é professora de geografia em três diferentes instituições, apenas uma delas adere ao sistema Ead. Ela conta que sente falta dos alunos e que as aulas não são as mesmas desde que começou a fazer de maneira online. “No meu trabalho, o ‘contato’ com os alunos é fundamental. Então, como atualmente esse contato presencial não é possível, é preciso manter a sensação de que estamos perto, para que o trabalho funcione minimamente bem”, afirma. Na tentativa de inovar e fazer os alunos participarem mais ativamente das aulas, Angela passou uma atividade em que os estudantes precisavam fazer uma comida sustentável. Teve bolo de casca da banana, suco feito da casca do abacaxi e até a professora se aventurou na cozinha e fez fritas com a casca da batata, que normalmente vai para o lixo. A atividade, além de ajudar na fixação do conteúdo proporcionou um bom contato com a família e com a escola. Esse vínculo, para ela, é o que faz toda a educação ter sentido. “O retorno foi muito bom! Todos fizeram a atividade proposta. E o mais legal é que eles falaram depois que nunca se imaginaram comendo tais alimentos, pois a maioria das comidas foram feitas com cascas de frutas. Nesse sentido, creio que o retorno foi um sucesso, pois o objetivo era justamente esse: fazer com que eles vejam novas possibilidades nos alimentos, aproveitando-os ao máximo e assim evitando o desperdício. E ainda tiveram os pais, a maioria participou ajudando os filhos na preparação dos alimentos, pois alguns não poderiam fazer sozinhos por ser perigoso, já que utilizava o fogo. E alguns também acharam divertido fazer, não só essa, mas outras tarefas junto com os pais”, diz Angela. Apesar de toda diversão e recompensa em ver os alunos com a mão na massa, ela conta que a saudade da sala de aula ainda é uma realidade e por ser a primeira vez trabalhando à distância, muitas coisas ainda são novidades. “Eu nunca tinha feito isso antes de trabalhar em regime de EAD, então o contato creio que está sendo diferente. Proveitoso, pois é um novo aprendizado, tanto para mim, quanto para os alunos, porém bastante diferente do que estávamos acostumados.” Professor de física da rede Seb Maceió, Jadielson Angelo da Silva, coordenador de tecnologias, conta que sempre gostou das tecnologias e que a rede de ensino em que trabalha oferece muito material. Então a real dificuldade foi descobrir qual aplicativo usar para manter os alunos em sala e o foco. “Como fã da cultura geek, procuro sempre associar eventos que acontecem em filmes de herói. Essa proximidade com os alunos agora tem que ser dobrada, a associação faz a aula ficar interessante para eles. No comecinho da pandemia, gravei pílulas de vídeos falando sobre os conteúdos em um tempo bem curtinhos, de no máximo 5 min. Foi preciso muito poder de síntese para resumir”, comenta. Além da dificuldade com a plataforma que os professores sentiram no começo, também foi preciso treino e tutoriais para alunos e pais. Apesar disso, ele conta que conseguiu driblar os obstáculos e manter um bom contato com os alunos devido o conhecimento que ele tinha sobre a vida dos seus estudantes. Ivan Oliveira é professor de biologia e desde o começo da pandemia só tem visto seus alunos por plataformas de vídeo online. Diferente da rotina que adorava, ele conta que agora a dificuldade em passar o conteúdo só aumentou. “Sinto muita falta do contato com outros professores e com os próprios alunos e tirando o fato de que no colégio tem toda uma estrutura que nem todo mundo vai ter em casa, isso inclui lousa e outros materiais. E nas aulas presenciais fica mais fácil de ver as respostas da turma ao conteúdo, se o pessoal tá acompanhando o que você tá falando”, afirma. Quanto a distância criada com as aulas online, Ivan afirma que é estranho não ver os alunos. É quase como falar sozinho. No entanto, ele tem uma estratégia para fazer a turma participar. “No começo era complicado isso tudo, justamente porque os alunos não estão muito acostumados, e alguns outros professores também não. Então muitos não queriam e, até hoje resistem um pouco, em ligar as câmeras e até falar durante as aulas. Eu particularmente não cobro que eles liguem as câmeras, mas tento sempre gerar discussões para saber que o pessoal tá prestando atenção durante a aula.” Jadielson lembra dos alunos com certa emoção e diz que lembra de cada troca, das risadas. “A cara de felicidade em entender um conteúdo fazia me encantar com a disciplina”, relembra o professor. Com as aulas online, é muito comum que os alunos fiquem com as câmeras desligadas e os microfones mutados. Isso chegou a ser um problema para o professor que adorava conversar com os alunos. “Me senti solitário, eu tinha que fazer eles falarem. Sempre começava a aula com bordões, interagia e nada. Isso só mudou quando o colégio autorizou que os professores viessem dar aula remota das salas e eles me viram no colégio, aí a interação foi outra, ir para o quadro motivou. Inovei tanto e no final das contas o trivial foi o que funcionou”, revela.. * Sob supervisão da editoria da Revista Maré.

Professores reinventam roteiro das aulas para manter alunos atentos
Professores reinventam roteiro das aulas para manter alunos atentos - Foto: Divulgação
 



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