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Nº 5885
Maré

ORGULHO DE EMPREENDER

No mês que celebra a diversidade, empreendedores LGBTQIAP+ de Alagoas comentam desafios e preconceitos

Por Thauane Rodrigues* ESTAGIÁRIA | Edição do dia 25/06/2022 - Matéria atualizada em 25/06/2022 às 04h00

Na luta pelo direito de ser, de amar a quem quiser e da forma que quiser, a comunidade LGBTQIAP+ de Alagoas tem encontrado no empreendedorismo uma forma de ingressar no mercado de trabalho e conquistar a independência financeira para, dessa forma, deixar de tentar se encaixar nos padrões impostos pela sociedade e viver a liberdade de ser quem é.

O Brasil é o país que mais mata LGBTQIAP+ e Alagoas o 10º estado mais violento para essa comunidade, aumentando ainda mais o receio de assumir a sexualidade e viver. De acordo com o presidente do Grupo Gay de Maceió, Messias Mendonça, não é fácil ser LGBT em Alagoas, mas a luta por direitos tem garantido avanços.

“É uma Alagoas homofóbica, mas é uma Alagoas que dá pra viver. Infelizmente, nossa sociedade, e até mesmo nossas autoridades, ainda são muito preconceituosas, mas nós seguimos resistindo e nos reinventando para sobreviver e driblar os desafios”, diz ele.

Buscando formas de existir na sociedade, sem se esconder atrás de imagens criadas para satisfazer aos padrões, a comunidade LGBTQIAP+ tem embarcado no empreendedorismo para alcançar locais de protagonismo no cenário social.

“O empreendedorismo é uma das formas que a comunidade LGBTQIAP+ consegue trazer para o mundo seus dons e adentrar no mercado de trabalho sem precisar se esconder. Empresas LGBTs empregam pessoas LGBTs, tirando nossa comunidade da exclusão social”, afirma Messias Mendonça.

Atuando desde 2009, o Grupo Gay de Maceió irá realizar, em novembro, uma feira de empreendedorismo LGBTQIAP+, em parceria com a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo.

De acordo com Leizer Pereira, fundador e diretor executivo da Empodera, uma plataforma pioneira na construção de negócios inclusivos e que valorizam a Diversidade, existe uma queixa recorrente sobre ambientes tóxicos e de muitos constrangimentos devido às piadas e comentários pejorativos dentro dos ambientes de trabalho.

“61% dos funcionários LGBTQIAPN+ no Brasil optam por esconder a sexualidade no trabalho, desta forma a principal queixa é de um espaço seguro para ‘ser você mesmo’, assumir sua orientação sexual sem comprometer carreira ou atrair hostilidades. Mulheres LGBTQIAPN+ por exemplo, sofrem duplamente preconceitos e discriminação devido ao machismo e também homofobia”, comenta.

Para ele, as empresas precisam e devem ter treinamentos e vivências em Diversidade, Equidade e Inclusão para que todos os envolvidos estejam preparados. Ele exemplifica:

“Investir em treinamentos e vivências que aceleram a curva de conscientização e engajamento das lideranças e colaboradores é essencial. Precisamos capacitar mais lideranças inclusivas nesta longa e complexa jornada. Existem estatísticas que apontam a necessidade de + 100 anos para alcançarmos a equidade de gênero, isto considerando o crescimento dos últimos 15 anos e sem nenhum período de retrocesso futuro. Se queremos construir uma sociedade mais justa, menos desigual, mais moderna e civilizada, isso só será possível com uma plataforma de inclusão e valorização da diversidade.”


EM BUSCA DO “PINK MONEY”

O empresário e estilista Augusto Christoff conta que o empreendedorismo chegou em sua vida como uma necessidade e que seu maior desafio é conseguir ser respeitado como empresário. Ele possui uma marca fashion em que ele mesmo produz e vende as peças, cada vez mais conceituadas em todo o Brasil.

“Tudo começou vendo, principalmente, que o que eu e meus amigos queríamos vestir não existia ao nosso alcance, ficávamos dependendo de lojas de departamento para ter algum tipo de roupa que nos agradasse. Foi a partir daí, após acabar a faculdade, que resolvi abrir a minha própria marca. Como LGBTQIA+ aprendemos sobre a sobrevivência, que precisamos criar nossas próprias oportunidades antes de esperar que alguém nos dê de mão beijada. E empreender está diretamente ligado a isso”, diz ele

“Entender que nosso ‘Pink Money’ é valioso e que precisamos nos apoiar como comunidade é muito importante. Tanto quanto prestar atenção em empresas que realmente abraçam a comunidade, que saíram de membros da comunidade, ou empresas que apenas usam do marketing em meses como junho para lucrar em cima de nós”, reflete.

“Ser respeitado como empresário, como alguém que lida todo dia com todas as intempéries de gerir uma empresa, é um desafio. Ser enxergado como uma empresa além do LGBTQIA+ também é uma questão crucial. Para um empreendedor, ter um público-alvo é algo extremamente necessário, mas também ser visto e alcançar qualquer tipo de público é essencial”, completa Augusto.

Ainda de acordo com o empresário, enfrentar o preconceito diário, por mais que pareça clichê, é uma luta, pois a comunidade LGBTQIAP+ é sempre subjugada e colocada em nichos, tendo a capacidade profissional questionada.


VALORIZA

Com quase três anos de existência, o projeto Valoriza surgiu como uma rede de apoio para a comunidade e promove ações que fomentam a independência financeira. Segundo Emerson Kadsi, diretor do projeto, diversos LGBTQIA+ empreendem ou começaram a empreender com apoio do Valoriza em Alagoas.

“O projeto surgiu na necessidade de criarmos ações em várias áreas que pudessem trazer uma vida digna para pessoas da comunidade LGBTQIA+ de Maceió, porém começamos a observar que um dos maiores déficits do Estado para esse público é a falta de reconhecimento e impulsionamento da classe empreendedora com o recorte específico da comunidade LGBTQIA+”, conta ele

“Trabalhar com a população LGBTQIA+ no estado que já foi líder em número de mortes para essa comunidade é um grande desafio, mas de fundamental importância, pois começou-se a criar uma rede de apoio entre os empreendedores e o incentivo à independência financeira”, relata.

“Já impactamos diversos empreendedores direta e indiretamente, além de conseguir um diálogo com entidades como o Sebrae Alagoas, que começou a ter um olhar especial na realização de projetos de incentivo para esses empreendedores, pois mostramos a grande força econômica da comunidade LGBTQIA+ alagoana”, completa Emerson.

Para ele, mesmo com o desenvolvimento de políticas públicas para os LGBTQIAP+, muito ainda precisa ser feito para que a comunidade viva com tranquilidade e segurança.

“Precisamos apoiar ainda mais o empreendedorismo LGBTQIA+, ou como gostamos de chamar dentro do Valoriza o queer-empreendedorismo, para que o desenvolvimento econômico desse público também possa ser a ascensão para uma vida digna com saúde, segurança e educação de qualidade”, finalizou o diretor do Projeto Valoriza.

Para entender mais sobre o Valoriza, basta acessar o perfil do projeto no Instagram: @somosvaloriza.

*Sob supervisão da editoria da Revista Maré.

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