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Nº 5759
Maré

Empreendedoras empoderadas

Mulheres negras de Alagoas criam as próprias oportunidades, investem em seus talentos e se tornam donas das próprias empresas

Por Thauane Rodrigues* ESTAGIÁRIA | Edição do dia 29/10/2022 - Matéria atualizada em 31/10/2022 às 14h45

Seja na gastronomia, na produção de acessórios, no cuidado com os cabelos, fazendo arte e até mesmo na produção de ornamentos sagrados, as empreendedoras pretas de Alagoas têm se desdobrado para resistir e existir dentro do mundo dos negócios, desafiando estatísticas e desafios.

Elas buscam por independência financeira, representatividade, estar mais próximas da família ou solucionar problemas com autoestima. Diversos são os motivos que levam as mulheres a abrirem seus próprios negócios e investirem em seus talentos e sonhos.

“O empreendedorismo feminino é babado!” — é assim que Joyce Nobre define e defende seu ofício, levantando a bandeira de que as mulheres vão sempre muito além, trabalhando com intuição, sensibilidade, olhar clínico, liderança e principalmente humanização.

Com empreendimentos distintos, mas interligadas pelo propósito, Joyce Nobre, Tamires Melo, Thaisa Torres, Laís Oliveira e Manu são exemplos da força negra feminina no empreendedorismo. Driblando o machismo e o racismo, as pretas empreendedoras buscam ânimo para lutar contra os obstáculos que aparecem no caminho de cada uma.

Tornando o hobby em profissão, Laís Oliveira confecciona joias de axé e, assim, conseguiu a independência financeira. Há oito anos, a artesã lida com a rotina de empreender, cuidar do filho e da casa.

“Sou proprietária do Ilekes Jóias de Axé e, recentemente, iniciei um novo negócio, engomando e passando roupas de candomblé, por notar que esse serviço não é oferecido facilmente em nossa cidade. Empreender, por si só, já é muito difícil, já houve muitas situações que me desanimaram, mas nunca a ponto de desistir. Porém, meu orixá, Oyá, sempre me abriu as portas! Sigo ignorando os problemas e tentando me manter o mais profissional possível”, contou ela.

Passeando entre o artesanato e a gastronomia, Thaisa Torres se redescobriu como mulher negra através do empreendedorismo. Foi durante o período de transição capilar que a alagoana sentiu a necessidade de produzir acessórios que trouxessem mais representatividade para seu novo momento, criando, assim, a Duafe Acessórios Afro.

Com o passar do tempo a afroempreendedora decidiu viver um novo momento e, juntamente com a amiga Ivanilda Luz, está dando vida à Kitutu, primeira doceria e cafeteria afro-brasileira e africana de Alagoas. “Não é fácil a luta da mulher negra, e ainda mais empreendedora, mas a gente vai driblando e derrubando portas pra mostrar a nossa força. Sou diariamente impulsionada pela vontade de lutar pelo meu próprio negócio e de me dedicar ao que me move, que é a minha ancestralidade”.

Na área da beleza, Tamires Melo e Manu Vital são empreendedoras que viram nas vivências da infância e do dia-a-dia a necessidade de trazer ao cenário local uma nova forma de olhar para os cabelos afro. Focando na educação capilar e na autoestima de suas clientes, a Assessoria dos Cachos de Tamires Melo realiza um atendimento especial e personalizado para cada pessoa que passa pelas cadeiras de seu salão.

“Ver uma pessoa com autoestima lá em cima após resgatar seus cabelos naturais com tanta qualidade e saber que ela irá conseguir manter, pois aprendeu, me tira da cama todas as manhãs para levar a cada vez mais pessoas meus métodos. Prático, possível, potente! Para as mulheres poderosas da atualidade e que devem chegar nos seus objetivos com os cabelos livres de padrão, lindos como são”.

Já Manu Cabelos é um salão especializado em tranças, técnicas africanas e muitos outros penteados, além de contar com uma loja especializada em fibras, cabelos crespos, cacheados e ondulados. O negócio da afroempreendedora vem resgatando nas mulheres a história e cultura dos povos negros.

Lidando com os desafios do mundo do empreendedorismo, Manu almeja dar um futuro melhor para o filho, seu maior incentivador. “Por ser uma mulher preta, existem fatores que tornam a trajetória um pouco mais difícil, mas ver outras mulheres pretas também tentando, significa força e vontade de continuar. Nós nos inspiramos em nós mesmas”.

O mesmo acontece com Joyce Nobre, que atualmente vive da arte que produz e tem como maior impulso saber que seu trabalho não a afasta das atividades com seu filho e seu esposo. Apaixonada pelo empreendedorismo, a artista realizou a transição de carreira há 2 anos e, hoje, leva para as paredes, roupas e utensílios de decoração mais cor e amor.

A empreendedora afirma que o que a faz seguir em frente com o trabalho é acreditar em sua missão. “Não é só arte pela arte. É aconchego, é educar com arte, é fazer política mostrando minha arte, é trabalhar com exclusividade e emoção para as outras pessoas. Na verdade, quando a gente resolve empreender, é pelo outro e não por nós. Empreender te ajuda a ter liberdade para crescer e isso nos empodera”, afirma Joyce.

*Sob supervisão da editoria da Revista Maré

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