loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
segunda-feira, 05/05/2025 | Ano | Nº 5959
Maceió, AL
29° Tempo
Home > Maré

Entenda

Disformia corporal está ligada a pressão estética nas redes sociais

Estudos apontam que exposição crescente a imagens perfeitas e retocadas nas redes sociais está ligada ao aumento dos casos de dismorfia corporal

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp

Imagens retocadas, filtros em cima de filtros — É assim que a imagem humana vai desaparecendo nas redes sociais e dando lugar a seres aparentemente perfeitos, simétricos, retocados e… irreais. De acordo com estudos recentes, a crescente exposição a imagens perfeitas e inalcançáveis está ligada a um aumento dos casos de dismorfia corporal entre jovens, transtorno que é caracterizado pela preocupação excessiva dos indivíduos com sua aparência física, o que leva a outros problemas emocionais e físicos.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos, a dismorfia corporal afeta cerca de 1,7% da população mundial, com maior incidência em adolescentes e jovens adultos. No entanto, com o aumento do uso das redes sociais, essa estatística pode estar subestimada.

O assunto voltou ao centro das discussões nas redes sociais após a blogueira Rafaella Santos, irmã do jogador de futebol Neymar, divulgar uma foto em que aparece pronta para desfilar como musa da escola de samba Salgueiro. O problema é que os seguidores que viram a modelo na televisão apontaram que a imagem publicada no Instagram estava excessivamente retocada.

“São duas pessoas”, disse uma usuária na foto publicada. “Gente, eu tô passada. Ela tem um corpo normal, como muitas mulheres, um corpão bonito. Não tem necessidade de tanto photoshop”, comentou outra seguidora.

Um estudo da Royal Society for Public Health do Reino Unido revelou que as redes sociais têm um impacto negativo na autoimagem dos jovens. Em uma pesquisa com mais de 1.500 pessoas com idades entre 14 e 24 anos, mais da metade relatou sentir-se inadequada em relação a sua aparência física depois de usar as redes sociais. Além disso, o estudo mostrou que o Instagram, em particular, é a plataforma mais prejudicial para a autoestima dos jovens, devido à grande quantidade de imagens retocadas e perfeitas que são compartilhadas.

A dismorfia corporal é um distúrbio mental que se caracteriza pela preocupação excessiva com um defeito imaginário ou leve em sua aparência física. Essa condição pode levar a problemas emocionais, como depressão e ansiedade, e até mesmo a comportamentos autodestrutivos, como distúrbios alimentares e uso excessivo de cirurgias plásticas.

De acordo com a psicóloga Ana Luiza da Silva (CRP - 15/6988), a internet ocupa um lugar de sociabilidade significativo para sujeitos. Com isso, as pessoas buscam exibir a melhor imagem possível e recorrem a recursos que vão desde a utilização de filtros até a edição de imagens, onde é possível alterar informações de si em graus altos, podendo provocar imagens ilusórias.

“A preocupação com a aparência se tornou assunto recorrente no cotidiano das pessoas, junto a isso as comparações e sensações de inferioridade por questões relacionadas a aparência em relação ao outro, o que culmina no que se pode chamar de dismorfia corporal, quando o sujeito se sente feio ou defeituoso em relação ao outro (social). As afetações se movimentam pela baixa autoestima, oscilação de supervalorização de si e declínio dessa percepção, podendo desencadear crises de ansiedade e depressão”, explica a psicóloga.

A estudante de medicina Juliana Borges revela que deixou de usar o instagram durante quase um ano depois de desenvolver problemas de autoestima. Com apenas 19 anos, a jovem passou a se questionar sobre o próprio corpo e querer realizar procedimentos estéticos.

“Era verão, mais da metade das meninas do meu instagram estavam na praia, exibindo seus corpos em várias fotos. Comecei a me comparar com todas elas, afinal, eu tinha passado por uma fase difícil após o término de um namoro e saí um pouco do peso que eu considerava ideal. Passava horas na frente do espelho, procurando falhas que só eu enxergava”, desabafa.

Na época, Juliana chegou a realizar dois procedimentos estéticos, que alteraram um pouco seu rosto e seus seios. Após quase quatro anos, a jovem afirma que conseguiu vencer o momento difícil com terapia e apoio dos familiares.

Outra alagoana, que preferiu não se identificar, revela que passou a utilizar filtros e optar por posições de foto que escondem o que ela considera “imperfeições”. A jovem tem 22 anos e trabalha com gerenciamento de redes sociais. Ela diz que desde criança sua aparência era um problema para ela, mas isso foi intensificado nos últimos anos.

“Mesmo sabendo o que se passa por trás das fotos de instagram, tenho me cobrado cada vez mais pela aparência perfeita, isso me desencadeou uma ansiedade absurda, que já comecei a cuidar. Só consegui perceber que estava exagerando nos filtros das fotos quando minhas amigas começaram a me chamar a atenção, até tentei parar, mas nunca me achava bonita o suficiente para postar algo sem filtro”, conta.

A psicóloga Ana Luiza da Silva afirma que é necessário prestar atenção nos pequenos sinais que podem evoluir para um possível transtorno.

“É importante estar atento à maneira como se enxerga na realidade e ao sinal de incômodos frequentes que afetam a vida social real, deve-se procurar ajuda de profissionais capacitados”, orienta.

Para a especialista, as plataformas digitais e a indústria da moda podem adotar práticas mais inclusivas e diversificadas para combater essa questão. Também é crucial que os jovens sejam incentivados a valorizar outros aspectos da vida além da aparência física, como a saúde mental, as habilidades e as relações interpessoais.

Relacionadas