SÃO JOÃO
Do tecido à tradição: o encanto das roupas juninas infantis feitas à mão
Costureiras com agendas lotadas capricham na criatividade para atender aos desejos das pequenas clientes


Com muito tecido colorido, estampas de chita, rendas e fitas, costureiras de Maceió estão a todo vapor na produção de roupas juninas infantis. Criativas e habilidosas, elas transformam o desejo de crianças, mães e pais em trajes personalizados que vão do tradicional ao moderno, sem perder a essência das festas de São João. Cada peça é pensada com carinho, reunindo referências culturais nordestinas e o toque especial de cada profissional, que vê nessa época do ano uma oportunidade de aumentar a renda e celebrar a tradição.
O período junino movimenta os ateliês da capital alagoana, com encomendas que começaram ainda no mês de abril. Os mais pedidos, sem dúvida, são os vestidos rodados para as meninas e as camisas xadrez com remendos para os meninos, muitas vezes combinando com os trajes dos pais. Mais do que vestir, elas ajudam a realizar sonhos e garantir que os pequenos arrasem nas apresentações escolares, quadrilhas e festas de bairro, mantendo viva a alegria e a identidade do São João nordestino.
Há mais de dez anos trabalhando com costuras infantis, Anamélia Aragão conta que, a cada ano, a procura pelos trajes juninos para crianças só cresce, sendo esta a época mais movimentada do ano no ateliê. E haja criatividade para transformar o que está na cabeça das crianças em algo real, de vestir.
Esse é o verdadeiro desafio. Atender às expectativas não só de pais e mães, mas das próprias crianças, - em especial das meninas -, que, cheias de personalidade, chegam ao ateliê com suas próprias ideias para os vestidos, trazendo sempre suas preferências de cores e de modelos.

Com a agenda de encomendas aberta no mês de abril e fechada atualmente - diante de tanta demanda -, Anamélia destaca que é preciso organização para dar conta de todos os pedidos. A esta altura do campeonato, em pleno mês de junho, já não existe mais espaço para novas criações, mas ainda é possível garimpar no ateliê uma peça ou outra feita por ela, nos meses de trabalho mais tranquilos, para pronta entrega.
A preferência para este ano tem sido pelas cores fortes. O colorido característico das festas juninas. “Apesar de a tendência ser os tons terrosos, a maioria das encomendas é de vestidos com cores fortes. As crianças têm personalidade e, na maioria dos casos, já chegam dizendo como querem. Muitas trazem fotos de peças retiradas da internet, mas o que eu gosto mesmo é de criar modelos próprios, após ouvir o que as clientes desejam. Criar uma nova peça, usando a criatividade e o amor que tenho pelo que faço, é uma soma que sempre dá certo”, afirma Anamélia.
Para os meninos, o diferencial fica por conta dos detalhes que, com muita criatividade, dão um toque de autenticidade a cada peça, que se torna única. Misturar o xadrez tradicional das camisas com bordados feitos à mão e com pinturas de mensagens divertidas inspiradas na Literatura de Cordel é uma tendência que tem agradado o público e deixado os meninos ainda mais estilosos para aproveitar as festas juninas.
“Os coletes, que são peças mais tradicionais para esta época do ano, também continuam sendo bastante requisitados. Um verdadeiro desafio para fazer algo diferente todos os anos”, destaca a profissional.

Cada vestido toma, em média, um dia inteiro de trabalho. Já para as camisas dos meninos, o tempo é menor, cerca de quatro horas. Mas a produção de cada peça começa muito antes, ainda na escolha dos modelos.
“Nós começamos com os agendamentos, depois vem a escolha dos modelos e a conferência das medidas. Quando a peça começa a ser confeccionada, eu costumo combinar com as clientes a possível mudança de algum detalhe, que só visualizamos quando estamos montando o vestido. Por exemplo, às vezes, é preciso acrescentar aviamentos ou mudar algum detalhe que não tenha ficado harmônico. O nosso objetivo é sempre ter um resultado incrível e uma entrega dentro do tempo esperado, sem atrasos”, fala.

CAPRICHO DE MÃE
Todos os anos, a servidora pública Fernanda Rocha, de 43 anos, capricha na produção da filha Vitória, de 7 anos, e propõe um verdadeiro desafio à costureira, que precisa fugir dos padrões para criar peças que contem alguma história e sejam autênticas e originais, como o vestido com a temática “noite de São João”, que traz uma fogueira na saia e um céu estrelado na parte superior da peça. Uma verdadeira obra de arte que deixa todo mundo encantado.
Mas, até hoje, o modelo que mais surpreendeu Fernanda foi a roupa de Maria Bonita estilizada, que uniu elementos do cangaço, fugindo do padrão do marrom - tradicional quando se fala nessa personagem -, e trouxe o vermelho como base, fazendo uso de renda de crochê, poá e aplicações. Para este ano, a expectativa é grande para uma rainha do milho “diferente”.
“Minha filha ama festas juninas e os trajes dessa época também. Ela usa nos festejos da escola e arrasa muito. Como gosto bastante de vestidos juninos, vale muito a pena investir em uma peça original, principalmente para ver a minha filha realizada. Isso não tem preço”, relata a mãe coruja.

Fernanda conta que, por ser mãe de primeira viagem e sempre ter sonhado em ter uma menina, faz questão de que a filha esteja sempre impecável. “Gosto de enfeitá-la, de vê-la vestida sempre como uma princesa. Então me dedico nas festas juninas e me realizo na minha filha, já que na minha infância, não tive essa oportunidade”, conta.
Para Anamélia, o período é também importante por representar uma boa fatia dos lucros do ateliê, considerando que o volume de vendas aumenta consideravelmente nesta época. Para ela, o grande diferencial de procurar uma costureira especializada para fazer o traje junino está na qualidade da entrega.
“Na minha opinião, as roupas confeccionadas pelas costureiras fazem sucesso devido à qualidade dos materiais usados e ao acabamento impecável, com roupas forradas e armações embutidas para o conforto das crianças. O São João é uma época festiva contagiante e nos alegra poder vestir as crianças do jeito que elas desejam”, destaca Anamélia.

Erika Lima, que também trabalha com confecção de roupas juninas há cerca de vinte anos, também destaca que a procura pelos trajes este ano foi muito maior que a do ano passado, e, assim como Anamélia, ela tem atendido clientes não só de Alagoas, mas de todo o Brasil.
“Já enviei mais de trinta vestidos para muitos Estados brasileiros. Abri a agenda assim que passou o carnaval e fechei no início de maio. Mas em abril, já estava lotada”, conta.
Ela diz que, para garantir peças mais confortáveis para as crianças, prefere trabalhar com tecidos 100% algodão, como a tricoline. Mas uma coisa é certa: o colorido sempre prevalece.
“Nos últimos anos, os vestidos estão mais estilosos e com uma pegada diferente do que é o matuto tradicional. Mas a mistura de cores e estampas, continua presente nas produções”, afirma.
Para ela, as roupas feitas a mão, acabam agregando valor à peça, pela riqueza de detalhes. “São flores, mosaicos e arranjos desenvolvidos especialmente para cada peça. Isso caracteriza a personalidade do cliente e da artesã a cada vestido”, pontua.