PLANEJAMENTO FAMILIAR
Liberdade prolongada para mulheres
Métodos contraceptivos de longa duração são quase 100% eficazes e práticos, deixando mulheres modernas despreocupadas


Eles não exigem lembretes diários e são considerados quase 100% eficazes na prevenção de gestações indesejadas. Os métodos contraceptivos de longa duração, conhecidos como LARCs (do inglês Long Acting Reversible Contraceptives), vêm ganhando espaço entre as mulheres brasileiras — especialmente aquelas que vivem uma rotina intensa, cheia de compromissos e pouco tempo para se preocupar com a regularidade da pílula ou as datas de injeções mensais.
Os LARCs englobam dispositivos como o DIU de cobre, o DIU hormonal e o implante subdérmico. Diferente de outros métodos, esses têm longa duração — variando de três a doze anos — e são reversíveis, ou seja, a fertilidade pode ser retomada logo após a retirada. Para muitas usuárias, eles representam liberdade e segurança: uma vez inseridos, não é preciso fazer mais nada para garantir a proteção contraceptiva.
Entre as principais vantagens dos LARCs estão a alta eficácia (com índice de falha inferior a 1%), a praticidade e a autonomia que proporcionam às mulheres. Como não exigem manutenção frequente, nem dependem do uso correto diário ou mensal, são ideais para quem tem dificuldade de manter a disciplina com métodos tradicionais. Além disso, eliminam o risco de falha por esquecimento, um dos principais motivos de gravidez não planejada.
Profissionais de saúde destacam que esses métodos têm boa aceitação e, em muitos casos, ajudam até mesmo na melhora de sintomas como cólicas intensas ou fluxo menstrual excessivo, a depender do tipo de LARC escolhido. Mas, como toda intervenção médica, cada caso precisa ser avaliado de forma individualizada, por isso é fundamental que se busque orientação de um profissional qualificado para avaliar qual a opção mais adequada para cada realidade.
Para a médica ginecologista e obstetra Wanderliza Coutinho, os métodos contraceptivos de longa duração são considerados uma revolução no planejamento familiar, sendo perfeitos para as mulheres multitarefas, que precisam dar conta de várias coisas no dia a dia e, muitas vezes, acabam esquecendo de tomar a pílula anticoncepcional, por exemplo. Os Larcs se configuram como uma opção eficiente e prática, que vai garantir uma melhoria na qualidade de vida dessas mulheres.
“Eles conseguem impactar positivamente no cotidiano feminino, com taxas de falha menores que 1% e uma proteção contínua que vai de três a doze anos, a depender do método utilizado. Além disso, o uso de Larcs dispensa a necessidade de intervenções frequentes e não exige pausas para reposição ou compras mensais, como acontece nos métodos contraceptivos mais populares. Isso sem falar na economia de tempo e de dinheiro, com um custo-benefício superior a médio prazo”, afirma a especialista.
Ela destaca também outras vantagens, como a redução das cólicas menstruais e sangramentos intensos com o uso do DIU hormonal; a diminuição dos sintomas da TPM e dismenorreia [dor no período menstrual] em 77% dos casos com o uso do implante hormonal e a não alteração de humor ou libido, no caso do DIU de cobre, que é uma opção não hormonal.
Entre as três opções, o DIU de cobre é o que tem duração mais prolongada, sendo eficaz por até 12 anos. Já o Diu hormonal libera hormônio no período de cinco a oito anos, dependendo do tipo utilizado. Em relação ao implante hormonal, a proteção é de três anos.

“Os Larcs, como DIUs hormonais, DIU de cobre e implantes subdérmicos, são seguros para a maioria das mulheres, mas existem contraindicações específicas baseadas em condições clínicas e fatores de risco, que devem ser avaliadas pelo profissional médico”, conta Wanderliza.
Alguns dos impedimentos para a colocação de um Larcs é a suspeita ou confirmação de uma gravidez, com exceção do DIU de cobre, que pode ser usado como contracepção emergencial; infecções pélvicas ativas; sangramento uterino inexplicado, que requer investigação prévia para descartar câncer ou outras patologias; alergias a componentes e malformações uterinas que distorcem a cavidade.
Para as adolescentes, os Larcs são seguros e recomendados pelas autoridades médicas como primeira opção de contracepção. Em regra, eles são ideiais para todas as mulheres em idade reprodutiva - até a menopausa -, o que inclui as que não tiveram filhos. “As mulheres podem usar um desses métodos até a confirmação da menopausa, que é quando a mulher passa doze meses sem menstruar. Inclusive, o método pode ser um aliado no tratamento dos sintomas da menopausa. Mas é importante lembrar que cada mulher tem uma história única e são os detalhes que fazem a diferença na escolha mais assertiva para ela”, afirma a médica.
IMPLANTAÇÃO
O processo de colocação dos LARCs é relativamente simples e rápido, mas requer alguns cuidados antes, durante e após o procedimento. Como explica Wanderliza, antes da inserção, a mulher passa por uma consulta médica para avaliação do seu histórico clínico e realização de exames ginecológicos, que podem incluir um ultrassom pélvico para verificar a anatomia uterina. Em alguns casos, são solicitados testes para infecções sexualmente transmissíveis, como clamídia e gonorreia, principalmente se houver fatores de risco
E por mais curioso que pareça, o momento ideal para a colocação costuma ser durante a menstruação, quando o colo do útero está mais aberto, facilitando a inserção, mas o procedimento pode ser realizado em qualquer fase do ciclo menstrual.
“Durante o procedimento, que dura em média 5 a 10 minutos, a mulher permanece na posição ginecológica. Para a inserção do DIU, o médico utiliza um espéculo para visualizar o colo do útero, mede a cavidade uterina com uma sonda especial e então posiciona o dispositivo. Embora a maioria das mulheres não precise de anestesia, algumas podem optar por um anestésico local aplicado no colo do útero para reduzir o desconforto. Já no caso do implante hormonal, o procedimento é ainda mais simples: após a aplicação de anestesia local no braço, o médico insere o pequeno bastão sob a pele usando um aplicador descartável”, diz.
Após a colocação do LARC, a médica explica que é normal sentir cólicas leves no caso do DIU ou um pequeno hematoma no local do implante. Por isso, é recomendado evitar relações sexuais ou o uso de absorventes internos por 24 a 48 horas após a inserção do DIU. Para garantir que tudo está correto, o médico pode solicitar, ainda, que a mulher verifique periodicamente a presença do fio do DIU, no caso dos dispositivos intrauterinos, ou marcar uma ultrassonografia de controle.

“Os primeiros seis meses são o período de adaptação ao método, no qual a mulher irá observar o comportamento do seu ciclo. Embora o procedimento seja considerado seguro e pouco invasivo, algumas mulheres podem sentir desconforto passageiro, similar a uma cólica menstrual”, pontua.
A empresária Adryene Araújo de Carvalho Valentim, de 34 anos, que tem um filho de 11 meses de vida, decidiu colocar um DIU hormonal no retorno do pós-parto, após buscar todas as informações com a médica ginecologista e se sentir segura de adotar esse método contraceptivo.
“A facilidade de não ter que me preocupar em estar tomando o remédio contraceptivo todos os dias e correr o risco de esquecer devido à correria da vida de mãe, mulher e esposa foi o que me levou a optar pelo DIU. Foi um planejamento familiar. Como a minha médica falou, nenhum método será 100% seguro, mas com o DIU a probabilidade é baixíssima. Fazendo uso de remédio o risco acaba sendo maior, por conta de esquecer de tomar algum dia. Visto que a princípio meu planejamento é ter apenas um filho, o DIU acabou sendo a melhor opção até mesmo pela durabilidade”, fala.
Ela destaca que o procedimento para colocação do DIU foi super tranquilo. “Não senti nenhum incômodo ou dor. Foi extremamente tranquilo. E não tive nenhum efeito colateral. Hoje me sinto super segura, muito mais do que na época que tomava anticoncepcional. Melhorou minha qualidade de vida, não sinto cólicas, não tenho um fluxo menstrual como antes, na verdade tenho apenas escapes e mesmo assim não são todos os meses e quando vem é em pouquíssima quantidade. O que torna tudo mais confortável”, destaca a empresária, que fez uso de anticoncepcional por muitos anos, até quando decidiu engravidar.
A orientação da paciente, inclusive, é um dos pontos apontados como essencial pela médica ginecologista, pois é preciso que a mulher compreenda o que pode esperar de cada método.
“O segredo é repassar uma informação clara e um acompanhamento personalizado para que a mulher se sinta confiante e bem cuidada. Não saber o que esperar do método, faz com que a paciente se sinta insegura. Por isso, sempre nas minhas consultas digo que a pressa em colher a história da paciente faz com que muitas não tenham ideia do que as fazem usar um tipo de contraceptivo diariamente. O método deve ser escolhido de acordo com a rotina, as particularidades de cada mulher e o conhecimento que ela possui, alinhado a um profissional competente”, pontua.