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MODA COM PROPÓSITO

Bordados que cruzam o oceano

Nova coleção da designer alagoana Alina Amaral está integrando o catálogo da temporada de verão da Caju Comporta, em Portugal; peças, com bordados feitos à mão, fazem referência ao Sertão alagoano

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Imagem ilustrativa da imagem Bordados que cruzam o oceano
| Foto: Jonathan Lins/Divulgação

A arte que tem raízes no Sertão alagoano e carrega as marcas da memória afetiva está ganhando espaço no verão europeu. A estilista Alina Amaral, conhecida por suas criações bordadas à mão, acaba de integrar sua nova coleção, batizada de Eco, ao catálogo da Caju Comporta — marca portuguesa que valoriza o feito à mão e a sustentabilidade. As peças trazem bordados que evocam elementos da paisagem sertaneja e a vivência da infância da designer no interior de Alagoas, em um encontro sensível entre identidade cultural e moda contemporânea.

Mais do que estética, Eco também é sobre transformação social. As peças são produzidas com o apoio de mulheres atendidas pelo Centro de Recuperação e Educação Nutricional (CREN-AL), uma ONG que oferece capacitação em bordado livre e promove autonomia para famílias em situação de vulnerabilidade. Alina Amaral não apenas desenha roupas, mas compartilha com essas mulheres uma ferramenta de mudança, resgatando histórias e criando novas possibilidades. Cada ponto bordado carrega não só beleza, mas também resistência e reconstrução.

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| Foto: Jonathan Lins/Divulgação

As criações são agênero e buscam acolher todos os corpos, reforçando um olhar inclusivo sobre a moda. Com design atemporal, Eco propõe uma conexão com a ancestralidade e com o território, sem abrir mão do diálogo global. Ao levar o Sertão para as vitrines internacionais, Alina Amaral mostra que a moda alagoana tem voz própria, é politizada, sensível e, sobretudo, enraizada, mesmo quando cruza o oceano.

“Eco são fragmentos de memórias minhas. Meu trabalho está muito associado com as minhas vivências, minhas raízes, infância, tudo que permeia e é pano de fundo para minhas elaborações estéticas, que hoje, com a maturidade, estão misturadas a cada experimentação, viagens e figurinos que assinei para tantos artistas. A marca é meu depoimento de uma vida, um orgulho das minhas origens”, afirma a designer.

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| Foto: Jonathan Lins/Divulgação

A marca Alina Amaral, inclusive, já integra um calendário importante de design, artesanato e moda no Brasil e também fora dele. Entre os eventos, estão a Feira Rosenbaum, a semana criativa de Tiradentes, em Minas Gerais, exposições nas lojas Pinga em São Paulo e no Rio de Janeiro. Também já esteve presente na Semana de Moda de Milão em 2024, a convite da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), e na Semana de Moda de Nova Iorque, a convite do consulado brasileiro, também em 2024. A marca integra ainda a plataforma Nordestesse, e está no radar dessas importantes representações de moda artesanal e design. E foi por meio dessa movimentação que surgiu o contato com a empresária Helena Lunardelli, curadora e proprietária da loja Caju Comporta, que reúne marcas de todo o mundo com esse perfil.

Para Alina, conquistar um espaço no concorrido verão europeu, levando moda genuinamente alagoana, é mais que uma conquista, é uma vitória coletiva. “Estamos levando para a Europa não só uma marca de moda, mas um exemplo da força criativa do nosso artesanato e das nossas mulheres”, ressalta a design, citando a parceria com a ONG Cren-AL, que vem capacitando mulheres no bordado livre.

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| Foto: Jonathan Lins/Divulgação

“Em 2017 nasceu o Aarteando, Coletivo de Bordado que inclui, abraça e fomenta um lar produtivo, uma experiência de sustentabilidade, econômica e emocional, para as mulheres - mães das crianças assistidas pelo Centro de Recuperação e Educação Nutricional [@cren.al] ou do entorno no Gama Lins. O Coletivo se propõe a qualificar profissionalmente, inspirando um novo olhar destas mulheres em uma região árida a até bem pouco tempo sem nenhum talento natural a manualidades”, relata, destacando que, atualmente, cerca de 200 mulheres foram iniciadas na arte do feito a mão e ganharam a Carteira de Artesã, mudando suas rotas.

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| Foto: Jonathan Lins/Divulgação

A coleção ECO conta com cerca de dez modelos, todos atemporais e contemporâneos, com detalhes que remetem, literalmente, ao chão alagoano. Isso porque cada uma das peças conta com o bordado das coordenadas que levam ao município de Santana do Ipanema, no Sertão de Alagoas. Uma assinatura autêntica, criativa e que, com toda certeza, tem despertado a curiosidade de pessoas de várias partes do mundo, que estiverem de passagem por Portugal nesta temporada de verão.

“São em torno de dez modelos, atemporais e contemporâneos, sem relação com a sazonalidade. O foco é a arte em bordado, sempre se aproximando de uma moda agênero e que busca valorizar todos os tipos de corpos. Os nossos carros chefes são os quimonos e as camisas clássicas, sempre produzidos em bases naturais como o linho, a cambraia e o algodão. Em alguns momentos, a identidade do Sertão está nos códigos literais, mas, a tal liberdade poética e minha vivência real me permitem falar do Sertão sob minha ótica. Não estou falando de uma realidade distante, uma alusão, falo de tudo que vivi, tenho a chancela que vem do pertencimento e isso me orgulha e me enche de prioridade”, afirma.

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| Foto: Jonathan Lins/Divulgação

Alina conta que o bordado é o elemento que vem primeiro, algo que representa o suporte estético principal do seu trabalho e que faz parte da vida dela, desde muito pequena. “Na coleção Eco ele surge em forma de poás ou bolinhas, que refazem as memórias de um vestido que eu tinha quando criança, o relicário que é sobre uma joia de família, a estampa arame que é um símbolo para falar da liberdade e o pavão que remete a uma tela que existia em minha casa”, descreve.

A design fala que, hoje, a tendência na moda é voltar às origens, é reforçar a identidade, diferente dos padrões do fast fashion. “E a marca Alina Amaral, ao lado de tantas outras marcas autorais, que bebem do artesanato e do conceito, fazem parte deste manifesto. O festival de moda Renda-se Alagoas, que eu assino a produção executiva, é um exemplo de resistência das nossas manualidades e joga luz sobre a força e influência que o artesanal têm sobre a consolidação de jovens talentos”, fala.

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| Foto: Jonathan Lins/Divulgação

Também jornalista, especializada em moda, Alina destaca que o interesse pelo tema nasceu ainda quando era criança, na convivência com as tias e avós bordadeiras, e nas idas ao armarinho da família, que eram o seu local preferido para brincar. Segundo ela, unir essa outra paixão ao jornalismo, profissão que escolheu, trouxe a certeza de que moda também é comunicação. “É depoimento de época, é política, é imagem, é texto para ser vestido”, diz.

E nessa mistura de jornalismo com moda não poderia faltar informação. “Moda é texto, bordado é informação. Muitas peças têm palavras e trechos de poemas. As histórias que eu conto são reflexos da minha infância, do meu amadurecimento, são manifestações das minhas emoções e observações. E para além do literal, nós estamos resgatando e fortalecendo nossa ancestralidade, a história da nossa gente”, fala.

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| Foto: Jonathan Lins/Divulgação

Alina Amaral, que já assinou figurinos para artistas como Daniela Mercury, Carlinhos Brown, Elba Ramalho, Mariene de Castro, entre outros, destaca que Alagoas é um estado que detém a maior quantidade de manualidades do país, de acordo com pesquisa do Sebrae. Por isso, considera natural esse olhar do mercado internacional para o Nordeste.

A nova coleção assinada por Alina Amaral já está disponível na Caju Comporta, em Portugal, e vai ser lançada em São Paulo, no próximo mês de agosto. As peças também podem ser conferidas no Instagram @alinaamaraloficial.

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