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SAÚDE

Lúpus: a doença silenciosa que afeta mais as mulheres jovens

Sem cura, doença pode atingir diversos órgãos do corpo; diagnóstico precoce e acesso a tratamento adequado são essenciais para a qualidade de vida

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Reumatologista Nathalie David conta que o lúpus afeta mais mulheres jovens
Reumatologista Nathalie David conta que o lúpus afeta mais mulheres jovens | Foto: Arquivo pessoal

Lúpus é uma doença autoimune crônica em que o sistema imunológico ataca o próprio organismo, confundindo células normais com corpos estranhos. Esses ataques causam inflamações em partes do corpo, principalmente a pele e as articulações, além de afetar o sistema nervoso central, pulmões, rins e coração. O lúpus não tem cura, mas existem tratamentos que melhoram a qualidade de vida dos pacientes.

As causas ainda são desconhecidas, mas fatores genéticos, ambientais e hormonais estão relacionados ao lúpus. A reumatologista Nathalie David explica por que o lúpus afeta mais as mulheres jovens. “O fator genético é importante, porém o lúpus não é diretamente hereditário, ou seja, não é transmitido de mãe para filho, mas há predisposição genética. O estrogênio, hormônio feminino, tem papel relevante”, conta.

Entre os fatores ambientais, destacam-se a exposição aos raios solares, o tabagismo e algumas infecções, como a causada pelo vírus Epstein-Barr. “Essa combinação de fatores pode desencadear a doença em indivíduos predispostos”, pontua.

A doença pode se manifestar de diferentes formas. No Lúpus Discóide, as inflamações se limitam à pele, com o surgimento de lesões avermelhadas – as chamadas “asas de borboleta” – em áreas mais expostas ao sol, como rosto, couro cabeludo e pescoço. Nesse caso, entre 70% e 80% dos pacientes apresentam dores articulares e fadiga intensa.

Já o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é o tipo mais grave e comum. Além das inflamações cutâneas, compromete os órgãos internos de forma lenta e progressiva. Os sintomas incluem queda de cabelo, febre, perda de peso e manifestações renais, como a nefrite lúpica, que acomete até metade dos pacientes. Também podem ocorrer inflamações nas membranas que recobrem o pulmão e o coração, causando dores na região do peito, e sequelas no sistema nervoso central, como psicose e convulsões.

O lúpus pode ser induzido pelo uso de certos medicamentos. Nesse caso, é reversível com a suspensão da droga. O lúpus neonatal é um caso raro, em que mulheres portadoras da doença afetam seus bebês. Essa condição é transitória e tende a desaparecer nos primeiros anos de vida.

Ingrid Oliveira foi diagnosticada com lúpus e diz que a doença interfere diretamente no dia a dia dela
Ingrid Oliveira foi diagnosticada com lúpus e diz que a doença interfere diretamente no dia a dia dela | Foto: Arquivo pessoal

Segundo a reumatologista, o diagnóstico consiste na avaliação de sintomas e exames laboratoriais. “São realizados exames específicos, como o anticorpo antinuclear (FAN), que é positivo em cerca de 98% dos casos, além de outros autoanticorpos e exames, tais como o hemograma completo e a dosagem de ureia e creatinina no sangue”, explica.

DIAGNÓSTICO PRECOCE

O diagnóstico precoce é essencial para o controle da doença e prevenção de complicações. No entanto, sua confirmação é dificultada pela variedade de sintomas, que podem oscilar e são frequentemente confundidos com outras enfermidades.

“O diagnóstico em fases iniciais é fundamental para iniciar o tratamento adequado e evitar danos permanentes aos órgãos, além de melhorar a qualidade de vida do paciente. Infelizmente, o tempo médio para o diagnóstico pode chegar a dois anos ou mais, devido à variabilidade dos sintomas e à necessidade de investigação cuidadosa”, reforça a especialista.

O tratamento do lúpus varia de acordo com o estágio da doença e o modo como ela afeta cada paciente. Em geral, inclui antimaláricos, como a hidroxicloroquina; glicocorticóides para controle da inflamação; e imunossupressores para reduzir a resposta do sistema imunológico. Para casos refratários, ou seja, resistentes ao tratamento, terapias biológicas são indicadas por atuarem de forma precisa no sistema imune.

“Os tratamentos podem ter efeitos colaterais que precisam ser monitorados, como infecções, alterações metabólicas e efeitos relacionados aos corticoides. Além dos medicamentos, outros cuidados não medicamentosos, como o uso contínuo de protetor solar, cessação do tabagismo, reposição de vitamina D, prática de atividade física e alimentação equilibrada, são essenciais”, destaca a especialista.

Ingrid Oliveira, 27 anos, procurou atendimento médico após perceber manchas vermelhas na pele. Seu diagnóstico foi considerado rápido: em dois meses, teve a confirmação do Lúpus Eritematoso Sistêmico. As dores articulares e as quedas de plaquetas são recorrentes, com fases de atividade e remissão, interferindo diretamente em seu dia a dia. “No início, quando descobri, precisei parar de estudar, pois eu me sentia cansada muito rápido, mas hoje, como a doença não está em atividade, consigo ter uma rotina normal”, diz.

O caráter imprevisível da doença mantém os pacientes ansiosos e apreensivos. “O maior desafio é saber que a qualquer momento ela pode entrar em atividade, e de formas diferentes das quais eu já lidei”, relata.

E para enfrentar o lúpus, Ingrid conta que a presença de familiares e amigos formou uma forte rede de apoio emocional. “Se não fossem eles do meu lado desde o início, o processo teria sido muito mais difícil”, fala.

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