Entre o hype e a ciência: conheça os cuidados que são essenciais para a pele

Nos últimos anos, o cuidado com a pele ganhou espaço nas conversas do dia a dia e virou até tendência nas redes sociais. Termos como “skincare”, “rotina de beleza” e “autocuidado” se popularizaram, mostrando que a preocupação com a saúde da pele deixou de ser um tema restrito a consultórios dermatológicos e passou a fazer parte da rotina de muitas pessoas. Mas, em meio a tantas dicas e lançamentos de produtos, fica a dúvida: quais cuidados realmente fazem diferença? Devemos nos preocupar com os excessos?

Dermatologistas são unânimes ao afirmar que uma pele saudável não depende de dezenas de cosméticos, mas sim de hábitos básicos e consistentes. Limpeza, hidratação e proteção solar estão entre os pilares de uma rotina eficaz, independentemente da idade. O problema surge quando o excesso de informações e de produtos leva ao uso indiscriminado, muitas vezes sem considerar as necessidades individuais da pele.

Além da rotina essencial, há também o fator tempo: a pele passa por transformações naturais ao longo da vida, que exigem adaptações nos cuidados. Se na juventude o foco costuma ser a prevenção da oleosidade e da acne, após os 40 anos as preocupações se voltam para a perda de firmeza, manchas e sinais de envelhecimento. É nesse momento que entram os protocolos específicos, sempre com acompanhamento profissional.

Mais do que uma questão estética, o skincare é também um cuidado com a saúde. Produtos inadequados ou em excesso podem desencadear alergias, irritações e até agravar problemas dermatológicos. Por isso, especialistas reforçam a importância de buscar orientação médica antes de adotar novos ativos ou tratamentos, evitando que a busca por uma pele bonita acabe comprometendo sua saúde.

A dermatologista Íris Alencar conta que existem alguns cuidados básicos que todas as pessoas deveriam ter com a pele no dia a dia, o que inclui o uso de sabonete líquido para face e corpo, sendo um específico para cada região, hidratação após o banho e aplicação de protetor solar. Além disso, para manter a saúde da pele, é fundamental evitar banhos muito quentes e também adotar o hábito de beber muita água.

“A rotina mínima de skincare que funciona para qualquer pessoa é formada por sabonete, hidratante e protetor solar preferencialmente com cor”, afirma a profissional, destacando que, na adolescência, quando começam a surgir os primeiros sinais de oleosidade e acne, é importante que seja iniciada uma rotina estruturada de skincare.

A médica conta que a pele mais jovem e brasileira tende a ser mais mista e oleosa, enquanto a pele madura apresenta uma estrutura mais seca, não só pelos efeitos da menopausa nas mulheres, como também devido a perda de água corporal que vai ocorrendo com o envelhecimento.

Quando se fala em cuidados com a pele, é importante estar atento às inúmeras variáveis que existem: de seca a normal, de mista a oleosa, por isso é fundamental procurar um profissional para saber, exatamente, quais os produtos ideais para cada pessoa.

Usar itens que viraram tendência e foram indicados nas redes sociais, pelas influencers de beleza e moda, ou até mesmo que deram certo com uma amiga ou amigo, é um erro que ninguém deveria cometer, pois a situação pode acarretar em irritações e desencadear até mesmo algumas doenças.

“Há inúmeras variáveis quando falamos em pele. Além de seca, normal, mista e oleosa, ela pode ser sensível em qualquer combinação e ainda ter outras doenças associadas, como rosácea, melasma e acne. Usar o creme que a influencer ou o amigo comprou pode, além de não fazer o efeito esperado, predispor a irritação, dermatite de contato, descamação, ardor e coceira, por exemplo”, afirma a dermatologista.

E com o assunto da adultização de crianças em alta, também se faz importante levar as discussões para a questão da utilização de produtos de beleza pelos pequenos. Navegando pelas redes sociais, não é difícil encontrar meninas fazendo tutorial de skincare e aplicando dezenas de produtos no rosto. A prática é extremamente prejudicial para a saúde da pele e pode acarretar em problemas sérios de saúde.

“A meu ver, isso é o maior absurdo de todos os tempos. Para além das questões relacionadas à adultização, o ph da pele das crianças é diferente, os produtos não são testados em crianças e há diversos conservantes e corantes, como parabenos e ftalatos que podem predispor a puberdade precoce. Houve um caso na Inglaterra em que uma jovem perdeu parte da visão após uma celulite na região ocular causada por uso inadequado de retinoides”, conta a dermatologista Íris Alencar.

Para os adultos, o excesso de produtos também pode ser prejudicial, em especial quando não há uma remoção adequada do protetor solar. “Nesses casos, além da dilatação e obstrução de poros, podendo deixar a pele com aspecto envelhecido e predispor a acne, há a possibilidade de irritação e dermatite de contato, por exemplo”, explica a especialista.

CUIDADOS DESDE CEDO

Aos 25 anos, a assistente jurídica Mariana Miranda conta que começou a fazer skincare por volta dos 7 anos, com o acompanhamento de um dermatologista, após o surgimento de acne, o que ocorreu de forma precoce. A prática acabou virando um hábito e hoje ela sente os benefícios dos cuidados adequados com a pele, que vem tendo desde muito cedo.

“Tenho acompanhamento com dermatologista desde os meus 7 anos e acho isso essencial. Não dá para brincar com a pele. Já fiz uso de roacutan acompanhada por eles e logo logo farei novamente por ter acne genética. Hoje, eu sinto que, se paro de fazer minha rotina por alguns dias, minha pele enche de espinha e fica mais oleosa. Por isso, é sagrado para mim fazer todos os dias”, afirma Mariana.

Ela conta que compra os produtos de skincare à medida em que eles vão acabando. Na rotina dela, estão inclusos gel de limpeza, vitamina C, sérum de olheiras, hidratante e protetor solar, que é sempre retocado ao longo do dia.

“À noite, eu faço uso de cleansing balm, gel de limpeza, sérum de olheiras, hidratante e adapaleno. Uso essa rotina todos os dias. Uma vez por semana faço uso de um peeling químico levinho para ajudar na regeneração da pele e com as manchas. Quando estou com espinhas, uso um adesivinho secativo e me ajuda muito”, revela a jovem.

Mariana relata ainda que já teve uma reação alérgica a um produto para controle de espinhas que adquiriu sem indicação do dermatologista. “Foi horrível, senti minha pele queimar e corri para tirar o produto. Minha pele ficou muito vermelha e tive que usar bastante hidratante. Depois descobri que tinha alergia a um dos ingredientes”, pontua.

PELE MAIS MADURA

Para grande parte das mulheres a partir dos 40 anos, a pele começa a passar por algumas mudanças que tornam mais visíveis a questão do envelhecimento, devido à perimenopausa. O período pode passar de forma assintomática para algumas, mas a tendência é que surjam transformações, em especial quando se fala em hidratação.

“A partir dos 40 nos vemos diante da perimenopausa nas mulheres que pode passar assintomática ou começar a gerar transformações, sobretudo quando falamos em hidratação. Na mulher, a pele tende a ficar mais seca, necessitando de mais hidratação na face, no corpo e até na região genital. Ainda nessa fase, começam a surgir mais manchas, podem surgir vasinhos mais finos na face, chamadas telangiectasias, principalmente em pessoas mais brancas e que não usam protetor solar. As questões acima citadas também ocorrem nos homens, mas numa velocidade menor, principalmente devido às diferenças hormonais [níveis mais altos de testosterona]”, afirma a dermatologista.

Segundo ela, quando a mulher chega na menopausa, nos primeiros cinco anos ocorre uma perda de 30% do colágeno remanescente da pele, com isso, a tendência é que ocorra um aumento ainda maior da flacidez, um bigode chinês mais marcado, rugas e vincos mais profundos e perda de viço da pele. “Essa perda de colágeno também ocorrerá no homem, mas certamente numa velocidade também mais lenta e, portanto, menos expressiva”, diz.

Por isso, para quem tem pele madura, é fundamental caprichar na hidratação para o tipo de pele específico, além da utilização de ativos com ácido hialurônico, preferencialmente de alto peso molecular e uso do protetor solar para pele seca. Também é preciso avaliar manchas que, porventura, venham a surgir, além de procurar um profissional qualificado para remover os sinais existentes, e não fazer o procedimento com qualquer pessoa.

“No mundo digital, vemos muita gente sem formação alguma fazendo propaganda de ‘remoção de sinais’ como se fosse algo banal, mas como um profissional que não seja dermatologista ou cirurgião oncológico vai saber diferenciar uma lesão banal de um câncer? Na nossa prática diária nos vemos muitas vezes diante de lesões duvidosas que necessitam, inclusive, de biópsia antes da remoção definitiva, para saber exatamente que lesão é esta e qual será a margem de segurança para retirada”, afirma.

Antes de começar a usar determinados produtos ou ativos mais potentes, é fundamental que o paciente procure um profissional médico que possa apontar se há indicação de utilização e se a pele vai tolerar uma eventual aplicação.

“A diferença entre o remédio e o veneno pode ser simplesmente a dose. É importante entender o status de hidratação da pele e fortalecê-la antes de fazer uma rotina de skincare. Lembrar também que, infelizmente, nem todas as queixas serão resolvidas apenas com cremes. O arsenal de tecnologias e injetáveis existentes no mercado vem sendo desenvolvido justamente por sabermos que só skincare não vai resolver a flacidez, as rugas, manchas ou sinais. Faz-se necessário complementar tratamentos para ter mais resolutividade”, destaca.

E se a aquisição de itens de beleza para a pele ficar inviabilizada devido ao alto preço desses produtos, a indicação da dermatologista é que invista no protetor solar, que é o melhor produto de skincare existente.

A profissional destaca que, antes mesmo da beleza, manter de rotina de cuidados com a pele do rosto e do corpo representa saúde. “Primeiro vem a saúde, a beleza vem de bônus! A Organização Mundial da Saúde classifica diversos agentes como Grupo 1 - carcinogênicos para humanos, quando há evidência suficiente de que causam câncer. Além do tabaco e do álcool, a radiação ultravioleta é sabidamente carcinogênica. E como prevenir? Usando protetor solar e tendo uma barreira cutânea fortalecida, o que significa limpeza e hidratação adequadas”, afirma.