Juventude 50+
A nova cara da maturidade
Longe de limitações, os 50+ são sobre bem-estar, escolhas e celebração da vida


Elas são profissionais dedicadas, mães presentes, avós corujas e, ao mesmo tempo, não abrem mão de cuidar de si mesmas. Malham, dançam, viajam, marcam encontros com as amigas e ainda encontram energia para aproveitar uma boa música ao vivo em um barzinho ou um show. Aos 50+, essas mulheres vêm ressignificando o que representa a palavra envelhecer, mostrando que a vida pode, sim, ganhar ainda mais brilho com o tempo.
Longe da imagem ultrapassada de que essa fase da vida seria sinônimo de limitações, a chamada nova juventude 50+ é marcada por vitalidade, autonomia e escolhas conscientes. Hoje, muitas mulheres chegam à maturidade mais seguras, confiantes em sua aparência, no corpo que habitam e nas experiências que acumulam. O resultado é uma geração que faz do bem-estar uma prioridade e que não se prende a padrões antigos sobre o que ‘pode ou não pode’ depois dos cinquenta.
Esse movimento, cada vez mais visível, traduz uma mudança cultural: os 50 anos já não carregam o peso da velhice, mas a leveza da liberdade. Com mais acesso à informação, cuidados com a saúde e valorização da autoestima, elas transformam a maturidade em um momento de expansão, descobertas e prazer. Afinal, se os 30 foram a década da construção, os 50 estão se tornando a da celebração.

Aos 62 anos, a empresária Arlete Gineli Serafim conta que vive, atualmente, a melhor fase da vida: saudável, ativa e com mais tempo para cuidar dela, da família e ainda fazer tudo o que gosta. Casada há 44 anos, com três filhos e três netos, ela tem uma rotina de dar inveja a qualquer jovem de 20. Trabalha, gerencia a casa e pratica exercícios físicos diariamente.
“Vivo a melhor fase da minha vida, apesar da idade estou saudável, ativa, tenho mais tempo para cuidar da família, de mim e fazer atividades que gosto. Treino diariamente, estou sempre com a minha família, e frequentemente tento tirar um tempo para me reunir com as amigas, além de ir à praia. O que mudou pra mim após os cinquenta anos foi que passei a aproveitar mais cada momento com as pessoas que eu amo”, afirma.
Arlete concorda que as mulheres maduras de hoje vivem um novo momento, quando comparadas a pessoas que tiveram essa idade há algumas décadas atrás. Para ela, a geração atual tem mais conhecimento a respeito da importância de cuidar do corpo e da mente, e isso tem feito toda a diferença. “A academia para mim, por exemplo, é fundamental. Inclusive, chego a me sentir mal quando não vou”, destaca a empresária.
Ela conta que, nessa fase da vida, os filhos já estão adultos e é possível equilibrar melhor as obrigações e os momentos de lazer. Na empresa dela, por exemplo, está ocorrendo atualmente um processo de sucessão familiar e, com isso, Arlete tem conseguido mais tempo para conciliar o trabalho com outras coisas.
“Eu não acredito em hora de desacelerar e sim equilibrar, afinal de contas, a vida é feita de fases. Meus filhos estão criados, estamos no processo de sucessão familiar e, assim, consigo mais tempo para conciliar essas outras coisas. Me sinto muito lisonjeada pela vida que levo hoje. Escolhi me cuidar e colho os frutos disso”, destaca Arlete, que diz ter como regra para o dia a dia o “viver o agora, pois a vida é um sopro”.

NOVA GERAÇÃO
O médico geriatra e psicogeriatra Denis Melo, ressalta a clara diferença entre quem chega aos 50 ou 60 anos hoje, quando comparado com gerações passadas. “Essa geração está mais conectada à informação, mais aberta a mudar hábitos e com mais vontade de aproveitar a vida. Vejo muitos buscando atividade física, viagens, cursos e novas experiências. Antes, aos 50, muita gente já se considerava ‘velha’. Hoje, é um momento de recomeço”, afirma.
O especialista conta que o termo juventude 50+ faz muito sentido na atualidade, desde que se entenda que ele não é sobre “voltar a ser jovem”, mas sobre viver com vitalidade. “Há pessoas de 50, 60 ou até 70 anos que têm disposição, energia e saúde melhores do que muita gente mais nova. É uma fase em que podemos unir experiência de vida com projetos e sonhos que ainda queremos realizar. E a ciência mostra que, com bons hábitos, é possível manter um corpo e uma mente muito ativos por muito tempo”, diz.
Movimentar-se mais e não ficar parado, comer melhor e cuidar da mente são hábitos que, segundo o médico, deveriam ser incorporados na vida de todas as pessoas, pois, mantidos no dia a dia, eles somam benefícios que se acumulam com o tempo, fazendo muita diferença para quem os pratica. E apesar de todos esses pontos serem considerados fundamentais, a atividade física é a que ele ressalta como um fator crucial.
“Todos esses hábitos são fundamentais e se reforçam mutuamente, mas se tivesse que escolher um para começar, eu diria atividade física. Ela é uma espécie de ‘chave mestra’ que melhora o sono, reduz o estresse, regula o humor, protege o coração, fortalece músculos e ossos e até ajuda a preservar a memória. A partir daí, os outros hábitos acabam vindo mais naturalmente”, afirma.
Do ponto de vista da Medicina, o geriatra também ressalta que o hábito da prevenção ‘mudou todo o jogo’ e que, hoje, as doenças são detectadas muito mais cedo, antes mesmo de apresentarem sintomas.
“Isso vale para problemas no coração, cânceres iniciais e até alterações na memória. Detectar cedo significa tratar de forma mais simples, evitar complicações e garantir mais anos de vida com autonomia e qualidade. A medicina atual não quer apenas ‘curar doenças’, mas promover saúde. Isso inclui programas de reabilitação, exercícios personalizados, acompanhamento para saúde mental, uso de tecnologia para monitorar parâmetros de saúde e até intervenções que estimulam a socialização e o aprendizado. Envelhecer hoje pode significar continuar ativo, trabalhando, viajando, aprendendo e vivendo de forma plena”, pontua.
E para quem pensa que idade avançada é sinônimo de perdas, essa é a hora de mudar de opinião e transformar não só a maneira de pensar, mas também de agir. “O primeiro passo é mudar a forma de pensar: envelhecer não é sinônimo de perda, é uma fase de ganhos - mais liberdade, mais clareza sobre o que importa e mais possibilidade de investir em si mesmo. Buscar novos interesses, cercar-se de pessoas positivas, manter-se ativo física e mentalmente e cuidar da saúde permitem viver essa fase com entusiasmo. É como abrir um novo capítulo, cheio de oportunidades”, conclui o médico.

VIVER E NÃO TER VERGONHA DE SER FELIZ
Aos 56 anos, a nutricionista e professora universitária Andrea Aragão é uma inspiração. Tempos atrás, era muito comum encontrar mulheres “maduras” como ela cuidando de casa, dos filhos ou sonhando com a aposentadoria. Encerrando ciclos. Mas os anos não são mais os mesmos. E que bom que a busca pela melhor qualidade de vida virou moda em todas as faixas etárias.
Os 50+ sabem a importância de cuidar de si, sem esquecer o passado. Na verdade, o que passou é ensinamento e ponto. Trata-se de uma fase cheia de maturidade e de reflexão, com isso uma maior consciência sobre qualidade de vida, prevenção e autocuidado.
Sobre as atividades e hábitos que Andrea considera fundamentais para manter energia e disposição no dia a dia, a nutricionista cita que vem do tripé alimentação saudável, atividade física regular e sono reparador, aliados a boas conexões sociais e gestão do estresse.
E o que mudou na sua forma de ver a vida depois dos 50 anos? Andrea é taxativa e poderia ser porta voz de muitas mulheres alagoanas, nordestinas e brasileiras. “Não tenho mais pressa de agradar todo mundo, nem carrego pesos que não são meus. Aprendi a valorizar o presente, a respeitar meus limites e a cuidar de mim com mais carinho”.
Sim, isso se chama autocuidado. Uma palavra que é mais do que um modismo de expressões que invadem a internet. É uma filosofia de vida, que as mulheres custam a adotar mas, depois, é uma “virada de chave”.
“A saúde e o bem-estar ganharam prioridade. Descobri que ter energia é resultado de escolhas diárias e da comida que coloco no prato, do movimento que faço com meu corpo e da paz que busco dentro de mim. Também aprendi a dizer ‘não’ sem culpa e a me cercar apenas de pessoas e situações que me nutrem. Relações leves, conversas sinceras e momentos simples têm um valor enorme”, relata Andrea Aragão, que aguarda a chegada do primeiro neto e está prestes a lançar o primeiro livro, que trata sobre uma vida feliz na menopausa.

As mulheres 50+ de hoje vivem com mais saúde, liberdade, autoestima e possibilidades. Não se trata de negar a idade, mas de viver cada fase com energia e autenticidade, algo que as gerações passadas não tiveram tanto espaço para experimentar, devido à criação e regras impostas pela sociedade.
Sobre o papel da atividade física na rotina e no seu bem-estar, Andrea é taxativa. “Atividade física é um dos pilares principais para quem busca saúde e longevidade, e hoje aos 56 anos vejo isso no meu dia a dia, com mais força, energia e vitalidade. Isso é reflexo de uma vida onde o exercício sempre foi uma prioridade”, completa.
E como conciliar a vida profissional, a atenção à família e ainda manter espaço para viajar, sair e cuidar de si? Andrea diz que o segredo é se colocar como prioridade, se amando sempre, reservando manhãs para si ou fins de semana para a família, tornando assim a vida mais leve.
“Dividir responsabilidades com filhos adultos, parceiros ou colegas de trabalho não é fraqueza, é inteligência emocional. Sono, alimentação equilibrada, exercícios e momentos de pausa garantem disposição para dar conta das demandas. Viajar, sair, cultivar hobbies, ter momentos de silêncio, é combustível para continuar cuidando de todos”, conta Andrea.
Mais do que fazer tudo, o importante é estar presente de verdade em cada momento.
“Desacelerar não significa parar, e nem significa perder a energia de viver. Aos 50, 60, 70 anos ou mais, é hora de redescobrir prioridades, escolher o que faz sentido e viver com propósito. É o momento de escolher sua própria velocidade, dedicar-se ao que dá prazer, cuidar da saúde, cultivar relações e se permitir aprender e recomeçar quantas vezes quiser”.
Andrea fala que a vida não perde ritmo, ela se transforma. E você continua podendo viajar, criar, se reinventar e sentir-se plena. Cada fase tem sua beleza, sua energia e sua liberdade. Ela percebeu que nunca é tarde para recomeçar. Depois dos 50, os sonhos mudam de cor, mas continuam vivos.
“Digo sempre que é o tempo da liberdade, da coragem e da autenticidade. Hoje, não espero mais o momento perfeito para viver, acredito que o momento é agora”, conclui.