JOIAS COM LEMBRANÇAS
De Alagoas para Paris: a joalheira que transformou memórias em arte
Fabrícia Feitosa levou coleção que faz referência ao Filé para evento internacional e encantou visitantes


Há memórias que se guardam como pedras preciosas. Elas brilham na lembrança de uma infância à beira-mar, nos passeios de fim de tarde para ver o Farol da Ponta Verde, nas histórias de um pai que transformava o Gogó da Ema em poesia e no carinho de uma mãe que enchia a casa de bordados de filé. Esses fragmentos de vida, tão íntimos e afetivos, poderiam ter ficado apenas no coração de quem os viveu. Mas, nas mãos de Fabrícia Feitosa, se transformaram-se em joias capazes de atravessar oceanos e encantar o mundo.
As peças da joalheira, que formam a Coleção Alagoas, foram levadas à Paris Design Week - evento que termina neste sábado (13) - e fazem uma homenagem ao estado onde Fabrícia nasceu e cresceu. Em meio às vitrines parisienses, suas peças chamaram atenção não apenas pelo brilho e pela sofisticação, mas pela força de um enredo maior, o de um território contado em delicados fios e pedras cintilantes.

A história de Fabrícia Feitosa começou de forma despretensiosa, há 30 anos, nos leilões da Caixa Econômica, quando ela comprava joias para uso próprio, mas que depois acabava não usando. Um dia, ela levou algumas joias para mostrar às amigas da academia. Voltou para casa sem nenhuma: todas se encantaram e quiseram comprá-las.
“Foi assim que percebi que poderia continuar garimpando, ficar com as que amava e vender as outras. Desse gesto simples nasceu uma paixão que virou negócio”, relembra.
Três décadas depois, aquela decisão levou Fabrícia a um dos maiores palcos do design mundial. Na Paris Design Week, ela conquistou a atenção de visitantes do mundo todo com peças que unem ouro, gemas preciosas e o delicado bordado filé - patrimônio imaterial que é a cara do estado que dá nome à coleção. Mais do que joias, suas criações revelam memórias de infância, tradições culturais e a identidade de sua terra natal.

O caminho até a criação da marca FF Joias não foi imediato. Durante anos, Fabrícia trabalhou de maneira informal, com receio de mudar o que já estava dando certo. “Meu maior aprendizado foi entender que o verdadeiro crescimento exige coragem. Aos poucos, fui percebendo que, para construir algo duradouro, era preciso profissionalizar meu trabalho, investir em conhecimento e transformar minha paixão em uma marca com identidade própria. Foi um processo de amadurecimento: aprender a confiar no meu olhar, assumir riscos e enxergar a joalheria não só como um ofício, mas como uma forma de contar histórias”, afirma.
Esse amadurecimento deu à marca identidade e propósito. Hoje, as peças criadas por ela não são apenas acessórios de luxo, mas também formas de contar histórias.Cada joia carrega símbolos, memórias e afetos.
Alagoas em forma de arte
A Coleção Alagoas nasceu de lembranças pessoais. A mãe dela, apaixonada pelo artesanato local, enchia a casa de toalhas e jogos de mesa em filé e levava peças feitas com o bordado para presentear amigas em viagens. O pai, por sua vez, alimentava a imaginação da filha com histórias sobre o Gogó da Ema, coqueiro icônico, de formato único, que existia na orla de Maceió, e passeios ao Farol da Ponta Verde.

“Eu sabia que, se um dia criasse uma coleção autoral, ela teria que trazer tudo que remetesse à nossa terra”, conta Fabrícia, lembrando que Alagoas foi o único representante brasileiro no evento em Paris, um dos mais prestigiados do calendário mundial do design.
O resultado foi um conjunto de joias feitas em ouro 18k, com pedras como esmeraldas e topázios, e tramas de seda que reproduzem a leveza do filé. O processo de produção foi cuidadoso: parte da inspiração e segue por testes de materiais até a execução final.
“Nas peças em Filé, a trama é feita com fios de seda, para respeitar a delicadeza das joias. Cada material ajuda a contar a história das peças e a reforçar a identidade da coleção. O processo criativo começa sempre pela inspiração, que pode vir da natureza, da cultura ou de histórias que quero contar. Depois vem o estudo histórico e cultural, para que cada peça tenha significado e identidade. Em seguida, fazemos o desenho, pensando em cada detalhe, e passamos para os testes de materiais e técnicas. Por exemplo, nas peças de Filé, foram feitos diversos testes de fios, amarrações e acabamentos para garantir delicadeza e durabilidade. Mais do que acessórios, nossas joias permitem levar um pedacinho de Alagoas para qualquer lugar”, afirma.

E diante de peças com tanta beleza e significado, não poderia ser diferente: o impacto foi imediato entre os visitantes da Paris Design Week. Muitos deles, segundo Fabrícia, disseram nunca ter visto algo parecido. “Foi emocionante perceber que nossa tradição podia tocar pessoas de lugares tão diferentes. Cada olhar de encantamento reforçava a ideia de que estávamos mostrando ao mundo um pedacinho de Alagoas”, pontuou.
Para além do orgulho pessoal, a joalheira acredita que a participação no evento reforça o valor da joalheria brasileira. “Quando mostramos nossas peças, junto com as histórias que carregam, é impossível não se encantar. Nosso estado é incrível, cheio de riqueza cultural e histórias que merecem ser celebradas. Quero que cada joia seja uma forma de mostrar isso ao mundo”, afirma.
Na delicadeza de cada fio de seda, na imponência do ouro e no brilho das pedras preciosas, Fabrícia Feitosa mostra que a joalheria pode ser mais do que estética. Suas criações são memória, identidade e celebração. E, ao transformar lembranças em arte, a alagoana fez o mundo inteiro se curvar ao brilho de sua terra natal.
Apesar da repercussão internacional, Fabrícia mantém os pés fincados em suas origens. O objetivo da marca segue o mesmo: difundir a cultura e as tradições de Alagoas. E já há novidades no horizonte. A FF Joias está em fase de testes para novas coleções, sempre mantendo a essência que conquistou Paris. “O que posso adiantar é que elas vão surpreender. Cada nova peça será um tributo à nossa cultura”, lembra.
Atualmente, as joias podem ser encontradas na loja física e também pelo Instagram (@ffjoias). Em breve, com o lançamento do site, será possível adquiri-las de qualquer lugar do mundo.