CORRIDA DE RUA
No ritmo da superação
Às vésperas do 4º Circuito Arnon de Mello, corredoras falam dos benefícios do esporte em suas vidas


As corridas de rua vêm conquistando cada vez mais adeptos. E não se trata apenas da busca pelo condicionamento físico, pois o impacto desse esporte ultrapassa a melhora da saúde cardiovascular, respiratória e muscular. Correr também se mostra um poderoso aliado para o equilíbrio emocional. Ao calçar um par de tênis e percorrer quilômetros a céu aberto, muitos corredores relatam a redução do estresse, o aumento da autoestima e até mesmo o alívio de sintomas de ansiedade e depressão. O simples ato de colocar o corpo em movimento transforma-se em terapia ao ar livre, acessível a qualquer hora e lugar.
Esse movimento de “sair para correr” também está associado a mudanças profundas no estilo de vida. Pessoas que antes cultivavam hábitos sedentários ou pouco saudáveis encontram na corrida um novo propósito. Deixar o cigarro, reduzir o consumo de álcool e reorganizar a rotina para incluir treinos regulares torna-se uma consequência natural da dedicação ao esporte.
Democrática por essência, a corrida não exige equipamentos caros nem matrículas em academias sofisticadas e, apesar de ser um esporte individual, a corrida revela um forte aspecto coletivo. Quem participa de provas de rua sabe que o incentivo mútuo é constante. Cada palavra de apoio, aplauso ou sorriso entre corredores funciona como combustível para seguir em frente e cruzar a linha de chegada. É o momento de cada um superar seus próprios limites.

A aposentada Maria Lúcia Amorim, de 68 anos, participou da primeira corrida ainda em 2014, junto com o filho, Ewerton Amorim, de 38. De lá para cá, não parou mais e hoje também conta com a companhia do marido, José Renilton, de 65 anos, que começou a tomar gosto pelas corridas de rua em 2016.
Nove meias maratonas depois dos primeiros passos na pista, Maria Lúcia comemora tudo o que a corrida tem lhe proporcionado. E isso vai muito além dos pódios que ela já conquistou. “É uma sensação muito boa estarmos participando juntos de uma corrida de rua. Eu, meu filho e meu esposo largamos juntos, mas quando a corrida começa, cada um vai no seu ritmo. É muito mais que corrida. É também saúde e amizades que fazemos”, destaca a aposentada.
Ela diz que a energia de uma corrida de rua oficial é diferente de quando as pessoas estão apenas treinando na orla. Isso porque esse esporte proporciona muito mais do que sair do sedentarismo e passa por muitas questões pessoais. “Na corrida, o clima é diferente, é um grande encontro de amigos de corrida e de famílias”, afirma.

EQUILÍBRIO E SAÚDE MENTAL
A corrida de rua é, no fundo, uma competição íntima, de cada um contra si mesmo, e que acaba unindo pessoas de diferentes histórias em uma mesma jornada de superação. No fim, a corrida é menos sobre vencer os outros e mais sobre descobrir, a cada quilômetro, a força que existe dentro de cada corredor.
A empresária Marianna Guimarães, de 35 anos, sabe bem disso. Ela conta que começou a correr em 2018, após ser incentivada por um primo. Com um histórico de prática de atividade física desde criança, quando fez ballet, jazz, sapateado e natação, ela diz que acabou perdendo o foco na prática de esportes quando ficou adulta e passou a se dedicar, apenas, à musculação. Depois de algumas pausas na corrida iniciada em 2018, hoje ela está totalmente focada e se prepara para participar de um super desafio em 2026.
“Demorei um pouco a ter consciência da relação entre o esporte e a saúde e a enxergar o esporte como algo que eu não posso escolher não fazer. Talvez isso tenha contribuído muito para que eu chegasse ao sobrepeso em 2024. Foi quando realmente virou uma ‘chavinha’ na minha cabeça e a corrida voltou com tudo na minha vida, tanto na busca pela saúde como pelo prazer de correr. Hoje a corrida é minha principal atividade física, apesar de eu também fazer musculação, natação e tênis. A transformação que ela me proporcionou começou no corpo, pois emagreci e ganhei condicionamento, mas hoje a vejo como uma grande aliada de saúde mental, tenho muito mais controle de ansiedade e consigo ter objetivos pelos quais buscar, o que me deixa motivada. Exerço a disciplina, a resiliência e a paciência, além de fazer muitas amizades e me divertir”, afirma Marianna.
Hoje, ela treina corrida cinco dias por semana, pois está se preparando para participar do Desafio da Disney, que acontecerá em janeiro de 2026. Ele consiste em quatro dias seguidos de corrida, percorrendo os percursos de 5 km, 10 km , meia maratona (21 km) e maratona (42 km).

“Desde janeiro de 2025 treino uma base de corrida estável para conseguir realizar o desafio e treinar sem me lesionar. Tenho o acompanhamento de uma profissional de educação física, minha treinadora Larissa Amaral, que semanalmente me passa planilha. Sempre que posso, treino com meus colegas de assessoria e 90% com meu marido, Rômulo, que também vai fazer o desafio”, afirma Marianna, cuja maior distância que percorreu em corrida de rua, até hoje, foi 21 km, na meia maratona SP City.
Quando questionada o que a corrida representa para ela, a empresária responde de pronto: “É minha melhor amiga, me ajuda quando preciso, me freia quando necessário, me lembra dos meus limites, mas também me mostra que eu posso tudo desde que eu me dedique”, fala.
E para quem pensa em começar, mas tem algum tipo de receio, a corredora dá a dica de ouro: “Só comece. Comece como uma obrigação, com o que tem. Depois que sentir a endorfina pós-treino uma vez, é quase impossível largar”, diz Marianna, que também tem praticado, junto com o marido, o turismo de corrida, com três viagens já marcadas para 2026, para os Estados Unidos, para a Itália e para Porto Alegre-RS. “A gente se diverte e corre pelo mundo”, completa.

VIDA TRANSFORMADA
A paranaense Naddya Emmendoerfer, de 47 anos, que trabalha com vendas pela internet, conta que pratica a corrida de rua há nove anos. A história dela com a rotina de treinos começou em uma fase da vida dela que foi marcada pelo sedentarismo, muito trabalho e consumo de álcool. Até que a tão desejada “virada de chave” chegou, em um momento inesperado.
“A minha vida era de casa para o trabalho e do trabalho para casa, e nas horas livres, eu tomava umas cervejas, o que era a minha alegria. Eu estava me sentindo muito mal. Tive filhos e continuei assim, sem que eu percebesse que estava acabando com a minha própria vida. Até que um fim de semana, no shopping, eu encontrei uma pessoa pela qual era apaixonada quando era bem mais nova. Essa pessoa estava super bonita, bem cuidada e eu olhei para mim e falei ‘caramba, eu não tô me cuidando’. E naquele dia tive um start. Foi um dia bem especial”, conta.
Na segunda-feira após o episódio, Naddya, que morava em Curitiba-PR à época, já estava matriculada em uma academia que tinha espaço kids, onde ela podia deixar os filhos enquanto treinava. E foi lá, entre aulas de crossfit e musculação, que ela se encontrou com a corrida.
“Um dia, vi o pessoal treinando na esteira, algo que eu nunca tinha feito. Sempre tive bronquite, falta de ar, asma, todas essas essas doenças e, por isso, não me via correndo. Mas, quando vi o pessoal lá me interessei e comecei a fazer aula que era ali mesmo, com um professor. Caminhava, corria um pouco, colocava uma inclinação, subia, descia e aumentava a velocidade. Depois de uns 15 dias, esse professor disse que a aula seria na rua”, relata.
Naddya começou a participar da corrida de rua e o professor, percebendo que ela levava jeito, fez a primeira planilha de treinos para ela seguir. E nunca mais parou. Hoje, morando em Maceió e influenciando outras pessoas, por meio das redes sociais, a levarem uma vida focada na atividade física, ela treina seis vezes por semana.

“A corrida mudou tudo, mudou minha forma de enxergar a vida. Eu me transformei em outra pessoa, fiquei mais bonita, não só por emagrecer, mas pela minha saúde também. A gente fica mais viva quando a gente corre. A corrida é vida. O esporte abriu muitas portas para mim, mas também abriu minha cabeça”, reflete.
Atualmente, ela já coleciona duas maratonas (42 km) e vem se preparando para a terceira. Mãe de Lucas, de 14 anos, e de Alice, de 12 anos, Naddya conta com a ajuda do mais velho para cumprir a rotina de treinos com êxito e continuar tendo bom desempenho no esporte que mudou a vida dela.
Durante os treinos, que em regra começam na madrugada, Naddya conta com a companhia de Lucas, que percorre o trajeto de bicicleta, levando hidratação, carbogel e outros itens que ajudam a manter a energia até o final do percurso.
“Eu precisava da ajuda de alguém e não tinha com quem contar e decidi levá-lo para ver no que dava. Na verdade, eu nem sabia se isso ia dar certo. Mas deu muito certo. Ele virou meu parceirão e hoje é incrível. Uma das melhores partes de treinar para a maratona, com os treinos longos, é ficar com ele ali do ladinho. É muito legal”, diz Naddya, que se imagina correndo até o fim da vida, ou enquanto tiver saúde e forças para tal.
“Eu vou correr para sempre, enquanto tiver força e saúde. Quero fazer um monte de provas ainda pelo mundo, de maratonas. Quero mostrar para as pessoas que a corrida serve para que a gente se sinta bem”, pontua.

4º CIRCUITO DE CORRIDA ARNON DE MELLO
No próximo dia 28, a orla de Maceió vai ser colorida com o azul da camisa do 4º Circuito Arnon de Mello, evento solidário promovido pela Organização Arnon de Mello (OAM) e que arrecada fraldas para serem entregues a instituições que cuidam de crianças e idosos.
Já consolidada no calendário anual de corridas de rua de Maceió, a corrida da OAM vai reunir quatro mil corredores de todas as idades, que vão percorrer a orla mais bonita do país fazendo os trajetos de 5 km e 10 km, além da corrida kids, que insere as crianças no universo desse esporte, tão democrático e universal.
A largada para a 4ª Edição do Circuito de Corrida Arnon de Mello acontece às 6h, no Estacionamento da Pajuçara, em frente ao Restaurante Dragão. As inscrições já estão encerradas e agora é só preparar o tênis e o protetor solar. Vamos correr!