SAÚDE
Canetas sim, mas mudança de hábitos também: medicação sozinha não resolve
Especialistas alertam que efeitos das canetas emagrecedoras são temporários e podem comprometer a saúde


O uso das chamadas “canetas injetáveis” – medicamentos agonistas de GLP-1, como semaglutida (Ozempic, Wegovy) e tirzepatida (Mounjaro) – se popularizou nos últimos dois anos, impulsionado por resultados expressivos na redução de peso. No entanto, especialistas alertam que elas não são soluções mágicas e é preciso que estejam aliadas a uma mudança de hábitos, para que os efeitos não sejam temporários.
Segundo a médica, as canetas agem reduzindo o apetite e promovendo sensação de saciedade, mas não reprogramam padrões alimentares nem fortalecem a saúde metabólica a longo prazo. “Quando o tratamento é interrompido, é comum recuperar o peso perdido se não houver uma mudança consistente no comportamento alimentar e no estilo de vida”, explica a cardiologista e nutróloga Patrícia Albuquerque.
A ciência confirma a preocupação. Um estudo publicado no Journal of the American Medical Association em 2023 mostrou que, após um ano, pacientes que descontinuaram a semaglutida recuperaram até dois terços do peso perdido em menos de 12 meses. Além disso, o uso sem orientação pode trazer riscos como desnutrição, perda acentuada de massa magra e deficiências nutricionais. “Já atendi pacientes com fadiga extrema e perda muscular significativa por usarem a medicação sem acompanhamento adequado”, alerta Patrícia.

Outro ponto que preocupa é a ilusão do “atalho definitivo”. Dados da IQVIA apontam que o Brasil é hoje um dos maiores mercados para GLP-1 na América Latina, com crescimento superior a 450% nas vendas em 2024. “Esse boom indica que muitas pessoas veem a medicação como solução isolada, o que é um erro”, reforça a médica.
Para que os resultados sejam sustentáveis, Patrícia defende uma abordagem integrada: ajuste alimentar individualizado, prática regular de exercícios físicos – especialmente treino de força para preservar massa magra – e monitoramento clínico. “A medicação deve ser coadjuvante, não protagonista. O pilar é a mudança de hábitos. Sem isso, é como colocar um remendo em um barco cheio de furos”, compara.
A especialista lembra ainda que obesidade é uma doença crônica e multifatorial, que envolve genética, hormônios, comportamento e fatores emocionais. “Não existe fórmula mágica. A caneta ajuda, mas sozinha não resolve. O verdadeiro resultado vem de um tratamento estruturado, com acompanhamento médico e mudanças consistentes”, conclui.