SAÚDE DA PELE
Além das manchas: especialista ajuda a entender o melasma
Condição crônica, manchas escurecidas na pele desafiam o espelho, mas podem ser controladas com cuidado e constância


Há marcas que surgem silenciosas, quase como lembranças que a pele decide guardar. De repente, uma mancha aparece sutil, mas insistente, e parece acompanhar cada novo dia diante do espelho. Assim é o melasma, uma condição que, embora não cause dor, mexe com a autoestima e desafia a rotina de quem convive com ela.
Mas o que há por trás dessas manchas amarronzadas que insistem em permanecer mesmo com tantos cuidados? Para a dermatologista Mariana Freitas, compreender o melasma é o primeiro passo para controlá-lo, e também para lidar com ele de forma mais leve e realista.
“O melasma é uma condição crônica caracterizada pelo surgimento de manchas acastanhadas na pele, geralmente simétricas e de limites bem definidos. Ele é distribuído com maior frequência em áreas expostas ao sol, principalmente na face, mas pode acometer regiões extrafaciais, como pescoço, colo e braços”, explica a médica.
Segundo a dermatologista, o quadro é comumente confundido com outros tipos de manchas como sardas (efélides), lentigos solares - que são manchas associadas ao envelhecimento causado pelo sol -, e hiperpigmentações pós-inflamatórias, além de outras dermatoses, por isso, o diagnóstico correto é essencial para um tratamento eficaz.
Ao contrário do que muitos possam pensar, o melasma não tem uma causa única definida e acredita-se que sua origem envolva diversos aspectos. “Ele é uma condição multifatorial, envolvendo a interação de fatores hormonais, genéticos e ambientais”, explica Mariana.
Entre os principais gatilhos estão a gravidez, o uso de anticoncepcionais femininos e, sobretudo, a exposição solar. “A luz do sol é uma das maiores responsáveis pelo aparecimento e pela piora das manchas”, diz a especialista.

Mariana explica que a condição é mais comum em mulheres com idades entre 20 e 50 anos, especialmente aquelas com fototipos intermediários, que possuem pele nem tão clara, nem tão escura. Embora também possa afetar homens, a predominância feminina está relacionada às flutuações hormonais, que estimulam os melanócitos.
“O que acontece é que o aumento da produção de hormônios como estrogênio e progesterona estimula excessivamente os melanócitos, células responsáveis pela produção do pigmento”, ressalta.
Diagnóstico e avaliação
O diagnóstico do melasma é clínico e deve ser feito por um dermatologista. Equipamentos como a lâmpada de Wood e fotografias com filtros específicos podem auxiliar a avaliar a profundidade das manchas. “Esses recursos ajudam a entender o grau de acometimento da pele e a definir o melhor tratamento”, explica.

Sem cura, mas com controle
Apesar de não ter cura, o melasma pode ser controlado e os resultados podem ser bastante satisfatórios. “Falamos em uma condição crônica, com alto índice de recidiva. Mas é possível clarear significativamente as manchas com tratamento contínuo, tanto em casa quanto em consultório”, afirma a médica.
Entre os principais aliados estão o protetor solar, os cremes clareadores, os tratamentos com laser e os peelings. “O primeiro e principal tratamento chama-se protetor solar. Sem ele, todo e qualquer investimento em cremes e tecnologias pode ser em vão”, ressalta a especialista.
Ela orienta o uso de filtro solar de amplo espectro, eficaz contra radiação UVA, UVB e luz visível, esta última emitida inclusive por telas e lâmpadas. “A aplicação diária de um protetor com cor por cima de um protetor sem cor, com reaplicação a cada três horas, é a estratégia mais eficaz no controle e prevenção do melasma”, fala.
Cuidado e cautela
Os cremes clareadores, quando bem indicados, também funcionam no controle das manchas, mas é fundamental que eles sejam prescritos por um médico especialista e utilizados corretamente. “Há bons ativos que são muito eficazes, mas o uso indiscriminado pode causar irritação, sensibilização e até piorar o quadro”, diz.
O mesmo vale para os procedimentos com laser, considerando que energias excessivas ou parâmetros inadequados podem estimular ainda mais os melanócitos e agravar o melasma.

'Maquiagem para disfarçar'
A fisioterapeuta Bianca Stephanie, de 30 anos, tem melasma há cerca de dois anos, após longa exposição solar. Ela conta que é algo que não a deixa confortável e que, para disfarçar, não abre mão da maquiagem em nenhum momento do dia. "Incomoda muito e hoje faço uso de bastante maquiagem para esconder", afirma.
Bianca já fez alguns tratamentos e adotou uma rotina de cuidados com a pele da qual não abre mão.
"Já fiz tratamentos, inclusive sempre estou tomando todos os cuidados e indo ao especialista. Hoje faço limpeza facial profunda pelo menos uma vez ao mês, faço também protocolo com peeling químico e laser e uso uma linha para usar em casa, além do protetor solar diariamente. A maquiagem é minha aliada desde a hora que acordo até a hora de dormir, sempre que possível retoco para cobrir o máximo que posso", afirma.
Fatores que agravam o quadro
Além do sol, outros elementos podem intensificar as manchas, como o calor, a luz visível e até o estresse. “O estresse aumenta a produção de hormônios inflamatórios, que também podem piorar o melasma”, explica.
Por isso, o cuidado vai além da superfície da pele — envolve hábitos diários e um olhar gentil sobre si mesma. “Evitar exposição solar em horários de pico, manter uma rotina de cuidados adequada e contínua e evitar irritações na pele são atitudes fundamentais para prevenir o surgimento e a piora das manchas”, orienta.
Equilíbrio que vem de dentro
Embora a alimentação não substitua o tratamento dermatológico, Mariana ressalta que uma dieta equilibrada e rica em antioxidantes pode contribuir para a saúde da pele como um todo. “Trata-se de um conjunto de cuidados - internos e externos - que se complementam”, pontua.
No fim, lidar com o melasma é um exercício de constância e paciência. É aceitar que a pele tem memória, mas também capacidade de regeneração. Com proteção, cuidado e acompanhamento médico, o espelho deixa de ser um lugar de preocupação e volta a ser apenas reflexo do que realmente importa: o bem-estar e a autoestima de cada um.
