VIRALIZOU
Comem que só
Casal Marcela e “Didico” transformou o amor por comida em um perfil que avalia os bares e restaurantes de Maceió, de forma bem humorada e sincera; conheça como tudo começou


Ela é jornalista. Ele, cirurgião-dentista. Em comum, o amor que nutrem um pelo outro e também pela comida. Juntos, criaram o perfil @comemqueso, no Instagram, que se tornou consulta obrigatória na hora de escolher um bar ou restaurante de Maceió para curtir a dois, em família ou entre amigos.
Com vídeos bem humorados e reviews sinceros sobre a experiência nos estabelecimentos gastronômicos da capital, o casal vem conquistando e influenciando cada vez mais seguidores.
A ideia de criar o perfil veio dele, Diego Perez, o Didico, que sempre gostou de acompanhar perfis de comida no Instagram e no Youtube, e um dia pensou em criar o próprio perfil. Marcela Sampaio, que é formada na área da Comunicação e trabalha com redes sociais, aprovou a ideia e foi a responsável por ‘batizar’ a página. Assim nasceu o ‘Comem que Só’.
“Nosso hobby sempre foi comer e como somos um casal que tem uma veia de humor aguçada, ele pensou…huuumm, acho que podemos dar certo na internet! No mínimo, ficaremos com um bom álbum de recordação”, conta Marcela.
A divisão das tarefas foi clara desde o início: ela traria a parte mais estratégica, de planejamento, resultado, além de ficar com toda a parte de comunicação, escrevendo os textos e interagindo com os seguidores, e ele, por sua vez, viria com as ideias, as referências, as novidades.

“Combinaríamos tudo e veríamos o resultado. A ideia do nome veio de mim, enquanto tentávamos pensar em algo diferente, que trouxesse uma identidade alagoana. Pensei em alguns outros que ficariam com uma sonoridade estranha quando lidos, até que lembrei que nós usamos muito a expressão ‘que só’. ‘Aff, corri que só pra chegar aqui’. ‘Trabalhei que só hoje’. E por que não ‘comem que só’? Afinal, é exatamente isso que a gente faz! E assim surgiu o nosso perfil, que foi criado em 15 de setembro de 2024”, revela.
No início, a página era acompanhada só por amigos próximos do casal. Mas em dezembro de 2024, quando eles postaram o primeiro reel de visita a um restaurante, alcançaram uma grande repercussão, registrando muitas visualizações e ganhando milhares de seguidores. E desde então, não pararam mais.
Hábito de ir a restaurantes
Juntos há oito anos e meio e casados há dois, Marcela e Didico contam que sempre amaram sair para comer e, antes mesmo do perfil, quando ainda eram noivos, estabeleceram o hábito de ir a um restaurante uma vez a cada trinta dias, para comemorar mais um mês juntos.
“Nós amamos sair para comer. Nem sempre pudemos fazer isso, financeiramente falando, mas era algo que a gente prezava muito. Antes do perfil, a gente tinha um ‘encontro marcado’ uma vez por mês, quando comemorávamos um novo período juntos. Começamos esse hábito quando noivamos. É realmente nosso hobby, o que a gente gosta de fazer. Conhecer novos lugares, comer comida boa, sair de casa. É também um momento só nosso, de conexão, conversa. Não deixa de ser algo romântico para o casal, tempo de qualidade mesmo”, relata Marcela Sampaio.
Ela destaca, ainda, que muita coisa mudou desde o nascimento do ‘Comem que só’ e que, agora, eles saem para comer, mas também para produzir conteúdo. “É um investimento no nosso futuro mesmo. Então é muito raro a gente sair sem ser para gravar, a não ser que seja um restaurante que a gente já conhece, em alguma data ‘extra’. E a gente acaba fazendo isso meio automaticamente, sabe? Não conseguimos somente curtir o momento. Temos que gravar a comida, gravar reação, comentar. Confesso que nem sempre é legal, mas é isso que significa produzir conteúdo para a internet, né?”, revela Marcela.

Tendo o bom humor como marca, o casal sai de casa sem roteiro e tudo acontece de forma espontânea, dos comentários sobre os pratos e preços aos takes. Nada é ensaiado. E é justamente essa espontaneidade e a verdade nos comentários que chamam a atenção dos seguidores.
“Atualmente, nosso roteiro é não ter roteiro. A espontaneidade é também uma marca nossa, então a gente vai sentindo o clima do local, o que vale mostrar, o que não vale. Não adianta engessar muito um roteiro em virtude do nosso tipo de conteúdo. Durante as gravações, um ou outro fala alguma coisa e a gente imediatamente pensa ‘o vídeo pode partir daí’. Depende de todas as variáveis do dia, da gravação, da comida, até do nosso humor. É muito imprevisível, mas claro que tem coisas indispensáveis de filmar”, fala Didico.
“É muito natural, porque a gente é daquele jeitinho mesmo. A gente ‘arenga’ um com o outro o tempo todo, principalmente Didico comigo, ele quer comer minha comida sempre, eu não divido doce... tudo que a gente mostra é nossa realidade. Só que tem alguns detalhes que, hoje, a gente se preocupa, do tipo: ‘já que nossa pegada é de humor, vamos fazer uma entradinha engraçada?’. Por exemplo, temos as clássicas entradas em que Didico aparece de ‘surpresa’ no vídeo, bebendo ou comendo escondido. Quando falamos algo engraçado nas gravações, já é quase certo que vai entrar no vídeo. No final das contas, acaba sendo nossa marca, um dos nossos diferenciais”, completa Marcela.
A escolha dos lugares que serão “visitados” acontece de várias maneiras. Parte do casal, de sugestões de seguidores e amigos e também pode ser motivada pela ‘novidade’ ou pela ‘tradição’. “Se um local já é muito conhecido e tem grande fama em Maceió, a gente vai gravar e dar nossa opinião. A curiosidade com o preço também é algo que a gente sabe que as pessoas têm. Elas querem saber quanto custa jantar no restaurante mais caro de Maceió. E isso a gente mostra”, explica Didico.
Uma informação importante, trabalhada em todos os vídeos produzidos pelo casal, é a de que a opinião emitida sobre o sabor dos pratos e o custo-benefício é algo pessoal deles. O que não agrada a Marcela e Didico, pode agradar sim aos seguidores.
“Acreditamos que tudo é a forma de falar. Podemos ser sinceros, dar nossa opinião honesta, mas sem ofender, sem usar palavras inadequadas ou prejudicar algum negócio. Deixamos sempre claro que aquela é apenas a nossa opinião, que as pessoas não precisam deixar de conhecer aquele lugar por causa disso. Tentamos também trabalhar com informações mais palpáveis, tipo o preço, já que julgar sabor e beleza é algo absolutamente subjetivo”, pontua Marcela.

O que um restaurante precisa ter?
Para o casal, a preocupação com a qualidade dos alimentos e os produtos oferecidos tem que ser prioridade em um estabelecimento que trabalha com gastronomia. Mas algo que faz uma grande diferença na experiência é o atendimento. Para eles, ser bem recebido e ter a atenção que desejam é imprescindível.
“Sentir-se bem no local, receber atenção, explicações adequadas, simpatia. Posso dizer que já deixamos de ir a locais com mau atendimento e já voltamos a outros só pelo atendimento. Infelizmente, ainda é algo que precisa ser desenvolvido aqui. E claro que a gente sabe que isso envolve muitas outras coisas: treinamento, condições de trabalho e de vida. É um assunto bem amplo”, reflete Marcela.
Eles elogiam as opções de restaurantes que existem em Maceió, que agradam a todos os públicos, assim como a gastronomia local, que tem o reconhecimento nacional e internacional. Como ponto fraco, citam que muitos lugares ainda pecam pela falta de habilidade no atendimento ao cliente. E isso acontece em pequenos restaurantes e até nos mais renomados e caros.
O lado bom e o lado ruim
E quem se dispõe a emitir opinião em rede social, também precisa estar disposto a receber críticas negativas e comentários desagradáveis. Assim também acontece com o ‘Comem que Só’. Recentemente, eles foram a um dos restaurantes mais famosos e conceituados da capital alagoana - e também um dos mais caros - e não consideraram uma boa experiência. Ao publicarem o review no Instagram, a dona e chef do estabelecimento fez um comentário desaforado, chamando a atenção dos seguidores, que caíram em cima e passaram a defender a opinião sincera do casal.
“Achamos o atendimento inadequado e as comidas nada surpreendentes. Fizemos um review bem honesto, como é nossa cara, e a própria dona e chef viu o vídeo e deixou um comentário meio desaforado. Os nossos seguidores caíram em cima e criticaram a postura dela, que foi pouco madura, e ela acabou apagando o comentário depois”, relata Marcela.
Mas também há o lado bom. Depois de experimentarem uma pizza que consideraram muito boa e fazerem a avaliação no perfil, o estabelecimento firmou um contrato de divulgação exclusivo com o perfil no Dia da Pizza.

“A procura foi tanta que o sistema deles travou, não necessariamente por causa da nossa divulgação, mas pela data mesmo. Vários seguidores nossos reclamaram e o empresário prontamente se dispôs a resolver o problema e estender a promoção para todos aqueles que não conseguiram comprar no dia. Na nossa opinião, esse tipo de postura faz toda a diferença na fidelização do cliente”, afirma Didico.
Na opinião deles, o dono do estabelecimento precisa ouvir verdadeiramente as críticas e tentar mudar o que não funciona no negócio. “Nenhum, absolutamente nenhum empresário de restaurantes sobre os quais falamos alguma coisa negativa entrou em contato com a gente para oferecer uma experiência diferente, para dizer, que pena que não gostaram. Que tal voltar aqui para nos dar outra chance? Isso também poderia ser decisivo para uma empresa”, refletem.
Marcela conta que fica impressionada com a quantidade de pessoas que entram em contato e mandam mensagens no perfil relatando que foram a determinado local influenciadas por eles. Isso sem falar nas pessoas que os reconhecem nas ruas, param e vão lá falar.
“Acho que a gente ainda não tem noção de que somos conhecidos por muita gente. Mas é divertido! Cada vez mais frequentemente, somos parados na rua ou reconhecidos em algum lugar. A gente acha super estranho, fica tímido, mas agradece! Significa que estamos alcançando mais pessoas. Não houve algum feedback específico, mas a gente ainda fica meio impressionado com a quantidade de pessoas que falam que foram em algum lugar ou compraram alguma coisa por causa da gente, porque confiam no que a gente fala. É surreal esse poder, a responsabilidade é grande. Da parte negativa, a gente se surpreende com alguns haters, pessoas que fazem comentários gratuitos dizendo que a gente não sabe de nada, ou que nosso desejo é ‘quebrar’ os restaurantes. Embora a gente não se afete tanto porque sabe que não é isso, nunca é agradável ler/ouvir”, relata.
E atenção, comilões! Para quem já é fã do perfil, o casal, que aguarda a chegada da primeira filha, uma “mini comilã’, deseja alcançar cada vez mais pessoas para, dessa forma, conseguir monetizar o perfil e levá-lo a outro patamar, com publicações mais frequentes, visitas a outras cidades e produções em outros formatos. Eles também já pensam em produtos próprios, mas isso, a longo prazo.
Os queridinhos do ‘Comem que só’
A reportagem pediu uma lista dos locais mais bem avaliados e que eles indicam em Maceió. E a resposta foi essa: Massarella, Garuva, Timo, Cave, Akuaba, Grand Cru. Para pizza, Aquela Pizza. Para sanduíche, Getz e Marisa’s.
