OIT diz que crian�as s�o aliciadas aos 13 anos para tr�fico de drogas
Brasília Adolescentes estão sendo aliciados mais cedo para trabalhar no tráfico de drogas, em 21 favelas do Rio de Janeiro. A média de idade para o ingresso neste crime caiu de 15/16 anos, no início da década de 90, para 12/13 anos, recentemente, const
Por | Edição do dia 02/03/2002 - Matéria atualizada em 02/03/2002 às 00h00
Brasília Adolescentes estão sendo aliciados mais cedo para trabalhar no tráfico de drogas, em 21 favelas do Rio de Janeiro. A média de idade para o ingresso neste crime caiu de 15/16 anos, no início da década de 90, para 12/13 anos, recentemente, constatou pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), feita em parceria com o Instituto de Estudo do Trabalho e Sociedade que ouviu 100 pessoas, entre menores, pais, traficantes e professores. Segundo a pesquisa, divulgada ontem pela OIT, apenas 10% dos maiores de 18 anos entrevistados no Rio contaram ter ingressado no tráfico aos 13 anos. O percentual de crianças com 13 anos recrutadas pelos traficantes subiu para 27,5%. Hoje em dia, o ingresso aos 16 anos reúne a minoria (5%). Antes essa faixa etária respondia por 20%. O recrutamento de crianças e adolescentes pelos traficantes aumentou a partir de 1995. Esses menores, em geral, morrem antes de um ano na atividade. O coordenador nacional no Brasil do Programa Internacional de Combate ao Trabalho Infantil da OIT, Pedro Furtado de Oliveira, diz que, no início da década de 90, não era comum o uso de menores porque os traficantes tinham receio de rejeição da comunidade. Religião Mudança na religião dos envolvidos com o tráfico também foi observada pela pesquisa da OIT. Antes o tráfico estava vinculado à umbanda: a proteção dos orixás trazia tranqüilidade aos traficantes, lembra Oliveira. A pesquisa identificou que a maioria acredita em Deus e 30% dos menores pertencem a igrejas evangélicas. As crianças e adolescentes que trabalham para os traficantes têm em média quatro anos de estudo, abaixo da média de escolaridade dos cariocas que é de oito anos. A maioria das famílias desses menores está entre a camada mais pobre da comunidade, com renda mensal de até dois salários mínimos. A motivação para ingresso no tráfico depende da faixa etária. Para os menores de 13 anos, a principal causa é a necessidade de ser aceito pelo grupo, seguido pelo entusiasmo e o dinheiro. Já os adolescentes acima de 14 anos buscam, em primeiro lugar, dinheiro, depois ação e, por último, identidade com o grupo. Para aguentar a pressão, 90% consomem maconha. Eles trabalham como vigia, embalador, vendedor, segurança, como fornecedor e até gerente-geral. A carga horária mínima de trabalho de um vigia é de 40 horas semanais, podendo chegar a 72 horas. O coordenador Pedro Oliveira informa que o maior problema para convencer esses menores a deixar o tráfico é que dificilmente uma atividade alternativa renderia a ele salário equivalente. O dinheiro e a possibilidade de consumo representam 17,5% entre os fatores responsáveis pela permanência do menor no tráfico.