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Valério fez empréstimos para saldar dívidas do PT

Felipe Recondo Folhapress Brasília - O publicitário Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão, admitiu ontem que contraiu empréstimos perfeitamente legais e transparentes para financiar dívidas do PT, de acordo com nota divulgada. Segundo o publicitário, ele capitalizava o partido a pedido do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Valério, no entanto, negou novamente que fazia caixa dois para o mensalão, o susposto esquema de pagamento de mesadas a congressistas aliados do governo. O PT não se pronunciou sobre as novas declarações do publicitário. Na nota, o publicitário afirma que todas as transações foram feitas dentro da legalidade. Todos os pedidos de socorro financeiro feitos pelo senhor Delúbio Soares baseavam-se, de acordo com o próprio secretário do PT, na necessidade de saldar dívidas relacionadas a campanhas eleitorais, informa a nota. A nota informa ainda que o publicitário ordenava os depósitos na rede bancária para pessoas indicadas por Delúbio. Em entrevista ao Jornal Nacional (JN), o publicitário afirmou que os pagamentos das dívidas do PT eram repassados para pessoas indicadas por Delúblio. Eram para pessoas relacionadas [pelo Delúbio]. Nunca houve malas. Tudo era feito nas agências bancárias. Os saques em dinheiro eram para as pessoas que iam na agência sacar, disse Valério. Ele disse ainda que tomou empréstimos bancários em nome de suas empresas para depois repassá-los para o PT. Foi um pedido [do Delúbio]. O Partido dos Trabalhadores está com muita dificuldade financeira. Era um empréstimo exclusivo ao Partido dos Trabalhadores. Essa pessoa [Delúbio] nunca, em momento algum, nos beneficiou em nada, disse Valério ao JN. Ao JN, o publicitário não citou os nomes dessas pessoas, alegando acordo de sigilo com a Procuradoria-Geral da República. Valério não explicou como acreditava ser ressarcido pelo PT. Vamos tentar negociar os empréstimos com a nova direção do Partido dos Trabalhadores, disse. Ele encerra a entrevista ao JN quando é questionado sobre um encontro com Delúbio nesta semana. ### Depoimentos apontam para arrecadação ilegal de fundos Os depoimentos do empresário Marcos Valério e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares apontaram para a existência de um esquema ilegal de arrecadação de fundos para a campanha do PT. A informação foi dada em entrevista pelo presidente da CPI dos Correios, senador Delcidio Amaral (PT-MS), ao sair ontem à noitre do encontro com o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Delcidio não quis revelar detalhes da conversa. Delcidio disse que até segunda-feira os depoimentos dos dois envolvidos no escândalo já deverão estar disponíveis para os demais integrantes da CPI e também para a imprensa. A única coisa que posso afirmar é que o depoimento do Marcos Valério foi nesse sentido, de operações de empréstimos que foram feitas sob a orientação do Delúbio Soares, afirmou o presidente da CPI Mista dos Correios, Delcídio Amaral (PT-MS). Os dois depoimentos adotam esse enfoque, acrescentou. Há integrantes da CPI desconfiados de que Delúbio e Valério teriam combinado seus depoimentos em uma reunião ocorrida ontem, em Belo Horizonte. Na quinta, o publicitário propôs ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, passar informações para colaborar com as investigações em troca de benefícios em uma eventual ação penal. O procurador, no entanto, recusou a proposta. O presidente da CPI dos Correios já adiantou que pretende marcar um novo depoimento de Marcos Valério na primeira semana de agosto. Na próxima semana, deporão o ex-secretário-geral afastado do PT Sílvio Pereira e Delúbio Soares. Na outra semana, os integrantes reservarão o tempo para a análise de documentos. Em seguida, o publicitário Marcos Valério seria chamado. ### CPI pode prender Valério por destruição de provas Indicado subrelator da CPI dos Correios, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) vai sugerir à comissão a prisão preventiva de Marcos Valério devido à tentativa de destruição de documentos. Se for acatado, o pedido será encaminhado ao Ministério Público. O embasamento do pedido seria o artigo 305 do Código Penal, que considera crime destruir, suprimir ou ocultar documentos. Ele está prejudicando as investigações ao destruir provas. Essa visão, no entanto, não é partilhada pelo presidente da CPI, o senador Delcídio Amaral (PT-MS). Para ele, o mais importante no momento é Valério prestar depoimento novamente à CPI. A Polícia Civil de Minas Gerais e o Ministério Público do Estado apreenderam ontem mais documentos da DNA, da qual Marcos Valério é sócio, em Contagem (MG). Os documentos - faturas referentes a serviços prestados pela DNA - foram recolhidos entre montes de papel queimado. Estavam numa calçada de terra, em um bairro vizinho à casa do irmão do contador de Valério, na qual foram apreendidas anteontem milhares de notas fiscais da DNA. Segundo o delegado que participou da apreensão, a disposição dos papéis na calçada indica que foram queimados no local. Em cerca de dez montes de papel carbonizado, a polícia recolheu cinco envelopes de pedaços intactos. O delegado disse que foram identificadas faturas da DNA para o Banco do Brasil, Eletronorte, Ministério do Trabalho e Telemig. O material foi encontrado por uma pessoa, que ligou para uma TV, assim acionando a polícia. Um morador da região encontrou o material e ligou para uma TV local, que acionou a Polícia Civil. Na rua em que os papéis foram encontrados, no bairro Jardim Riacho, não há casas, apenas indústrias. Segundo a Polícia Civil, o local fica a cinco minutos de carro da casa do ex-policial Marco Túlio Prata, 50, o Pratinha, irmão do contador de Valério. O material encontrado ontem será periciado pela Polícia Civil mineira, que investiga o crime de supressão de documento. Depois será repassado ao Ministério Público do Estado. O promotor Geraldo Ferreira afirmou que, como havia fragmentos de documentos datados de menos de cinco anos, ficou caracterizado crime de supressão de documentos. Em alguns documentos era possível ler as palavras autorização Marcos Valério. ### Oposição diz que PT não pode continuar existindo A oposição radicalizou o discurso depois da divulgação da nota do publicitário Marcos Valério. Sem dúvida agora amplia bastante o raio de ação desse esquema dentro do PT, passando por um dos artífices da relação do Executivo com os partidos. A tarefa agora é buscar os beneficiados. Ele [Valério] tem agora a obrigação de indicar quem se beneficiou desse esquema, disse o deputado Alvaro Dias (PDT-RN). Isso é improbidade de quem aprovou esses empréstimos. Aí há uma intermediação das empresas. Acaba sendo um empréstimo para beneficiar o partido político e quem calça essas operações é o dinheiro público. E se o Marcos Valério faz esses empréstimos é porque tem a certeza de que será compensado, acrescentou. Para o senador Cesar Borges (PFL-BA), o PT não tem a menor condição de continuar existindo como partido. O senador criticou a manobra de Valério e disse que o PT violou as mais elementares leis e regras de convivência dentro do sistema político. Esse partido se valeu de um artifício ilícito, burlou o sistema eleitoral e o sistema financeiro, afirmou Borges, que considerou o procedimento ilegal. O resultado eleitoral de 2002 está mascarado por essa farsa. Estou convicto de que há muita lama a aparecer. É a falência do sistema política que está no poder. Fim de contrato O Banco do Brasil rescindiu os contratos para prestação de serviços de publicidade com a agência DNA Propaganda, na qual o empresário Marcos Valério detém participação. A agência trabalhou na publicidade do Banco Popular do Brasil, uma subsidiária do BB focada na concessão de microcrédito e abertura de conta corrente para a população de baixa renda. O contrato da DNA tinha validade até setembro deste ano.