Nacional
Vice da Caixa vê ilação política em relatório

| Rubens Valente e Adriano Ceolin Folhapress Brasília - O vice-presidente de Finanças e Mercado de Capitais da Caixa Econômica Federal, Fernando Nogueira, chamou ontem de ilação política o relatório da Secretaria de Controle Externo do Tribunal de Contas da União (TCU), que apontou suposto favorecimento da Caixa ao banco mineiro BMG - uma das fontes dos empréstimos supostamente tomados por Marcos Valério de Souza para financiar o valerioduto. Nogueira atacou a divulgação do relatório, sob alegação de que é sigiloso. Afirmou ver interesse político na atuação do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que solicitou ao TCU e ao Ministério Público investigações sobre o negócio Caixa-BMG. O senador Dias rebateu as críticas feitas pelo vice-presidente da Caixa de que teria quebrado o decoro parlamentar ao promover as denúncias. Eu não quebrei o decoro. A corrupção é que afronta qualquer cidadão, completou. O vice-presidente da Caixa afirmou, em entrevista coletiva, que eles, supostamente os tucanos, visariam voltar ao poder com a intenção de privatizar os bancos públicos. Acho que há pessoas que interpretam que os bancos públicos não têm papel tão relevante como de fato têm na história do nosso País, disse Nogueira. Em resposta, o senador divulgou o seu projeto de lei nº 263/99, que, pelo contrário, exclui a Caixa, o Banco do Brasil e outras empresas estatais de possíveis processos de privatização. Erros A análise técnica do TCU, divulgada na quarta-feira pela Folha de S.Paulo, apontou irregularidades na compra, pela Caixa, da carteira de crédito consignado (com desconto na folha de pagamento) do BMG. Ontem, a Caixa informou que já foram pagos R$ 163,9 milhões a título de lucro ao BMG. Nogueira criticou o relatório do TCU: Acho que existem erros conceituais, erros de desconhecimento da causa e erros de interpretação de pareceres internos. Não buscou o testemunho verbal dos servidores da Caixa que participaram da negociação. Agora, tudo isso é preliminar. Semelhante Ele revelou que outro acordo semelhante foi fechado no fim de 2005 com o Banco Mercantil do Brasil. Mas se recusou, sob alegação de sigilo comercial, a revelar o valor e a taxa do ágio pago pela Caixa, o valor global da transação e todos os documentos sobre a negociação - o que permitiria uma comparação com as bases do acordo com o BMG. Nogueira afirmou que a decisão de alterar a forma de pagamento dos lucros do BMG (de a prazo, conforme decisão do Conselho Diretor da Caixa, para à vista, segundo nova decisão dois meses depois) foi tomada oralmente durante reuniões que o conselho teria mantido entre uma e outra decisão formalizada por escrito. ### Comissão quer detalhes de documento FOLHAPRESS Brasília Nos documentos da própria Caixa, obtidos pelo TCU, não há registro dessas decisões orais relatadas por Fernando Nogueira. Após a entrevista, a reportagem indagou por escrito se a Caixa poderia dar acesso às fitas que gravaram tais conversações. A assessoria da Caixa respondeu: Conforme foi informado durante a entrevista, as reuniões do Conselho Diretor da Caixa têm caráter privado. Devido à necessidade de fecharmos a operação, este ponto foi discutido com o Conselho Diretor, que aprovou o pagamento à vista e sua retificação aconteceu a posteriori, visando formalizar por escrito a questão, acrescentou. Outro ponto questionado pelo relatório do TCU foi a celeridade para o fechamento do acordo (23 dias). Nogueira usou uma carta enviada pelo próprio BMG para afirmar que o banco mineiro levou seis dias para vender uma carteira de crédito consignada para o banco Itaú. Indagado se o Itaú havia feito uma auditoria antes do acordo e se a Caixa conhecia os detalhes do contrato (como o lucro pago, por exemplo), ele disse que os dois bancos é que deveriam elucidar esses detalhes. Na quinta-feira, o BMG informou à reportagem que o Itaú realizou auditoria na carteira antes da compra. O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), afirmou ontem que pretende reunir-se com o ministro do TCU Ubiratan Aguiar para saber detalhes do relatório. Precisamos saber o que aconteceu. Porque temos de olhar isso com rigor. A burocracia da Caixa costuma não deixar passar irregularidades desse tipo, disse. Ele descartou uma suposta ação oposicionista para destruir a imagem da Caixa com o objetivo de privatizá-la. Isso seria, no mínimo, uma sandice. Eu acho politicamente impossível. Duvido que qualquer presidente da República tenha coragem de fazer isso. Delcídio Amaral considera absolutamente necessário ouvir representantes da Caixa, do INSS e do BMG a despeito do relatório preliminar do TCU que aponta indícios de irregularidades entre operações envolvendo essas instituições. Acho que é absolutamente necessário que se ouça a CEF, o BMG e o INSS para que a gente tenha um equilíbrio nas investigações, disse. ### Delcídio rebate crítica feita a Serraglio Adriano Ceolin Folhapress Brasília - O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios (CPI), senador Delcídio Amaral (PT-MS), saiu ontem em defesa do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da comissão, por causa das ameaças de abertura de processo por quebra de decoro contra ele. Na quinta-feira, Serraglio afirmou estar convencido de que existe um acordo entre os partidos para evitar cassações de parlamentares envolvidos nas denúncias do mensalão. A declaração irritou líderes de partidos da base aliada que insinuaram um pedido de cassação por quebra de decoro. Delcídio afirmou que os parlamentares têm o objetivo de enfraquecer as investigações da CPI ao tentar descredenciar o relator. Temos de ficar alerta porque a pizza pode estar atrás dessa pressão, disse. absolutamente natural Para o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios, senador Delcídio Amaral, o relator Osmar Serraglio fez apenas um comentário absolutamente natural. Ele só revelou uma preocupação, que é de toda a população brasileira, disse. Só não quer que fatos sejam repetidos, completou. Delcídio afirmou ainda que o relator não atacou nem depreciou nenhum partido ou parlamentar. Ele é um homem íntegro e trabalhador, disse. ida aos estados unidos O presidente da CPI dos Correios disse ontem que está negociando novamente a visita de integrantes da comissão aos Estados Unidos a fim de conseguir informações sobre as operações do valerioduto no exterior. O objetivo é realizar visitas ao Departamento de Justiça, em Washington, e à Promotoria Distrital de Nova York. A viagem deve ocorrer no fim deste mês. É fundamental que a gente feche a origem dos recursos que financiaram o esquema, disse. Desde agosto passado, a CPI tenta pôr as mãos nos documentos relacionados às operações financeiras do publicitário Duda Mendonça no exterior. A Polícia Federal, a Procuradoria Geral da República e o Ministério da Justiça já têm cópias dos documentos, mas a Promotoria de Nova York vetou a acesso de integrantes da CPI aos documentos por temer vazamento de informações.