Um estudo encomendado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento revelou que o pescado de áreas afetadas por manchas de óleo estão aptos para consumo humano. De acordo com o laudo, amostras coletadas na Bahia, no Ceará, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte não contêm níveis significativos de contaminação por petróleo. As amostras utilizadas no estudo foram coletadas nos dias 29 e 30 de outubro em estabelecimentos registrados no Serviço de Inspeção Federal (SIF) e foram testadas para 37 compostos diferentes de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) - substâncias que indicam a contaminação por derivados de petróleo. Além de diferentes espécies de peixes, os testes também avaliaram a condição de lagostas. Ainda de acordo com a nota divulgada pelo ministério, a reavaliação de pescados será contínua e os resultados serão publicados com atualizações das recomendações de saúde.
TARTARUGAS
Fragmentos de óleo foram encontrados ontem na praia de Pontal do Ipiranga, na cidade de Linhares (ES) onde há uma base do Projeto Tamar. Esta é a segunda localidade capixaba atingida pelo produto nos últimos quatro dias. Na quinta-feira (7), pequenos fragmentos de óleo foram recolhidos na praia de Guriri, em São Mateus (ES), a cerca de 85 quilômetros ao norte de Linhares. Ou seja, após ter se espalhado pelos nove estados nordestinos (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe), o produto de origem ainda desconhecida avança pela região Sudeste em direção ao sul. A capital capixaba, Vitória, está distante cerca de 170 quilômetros de Pontal do Ipiranga. De acordo com a Marinha, análises da substância recolhida há quatro dias em São Mateus confirmaram que se trata do mesmo óleo que atingiu praias, mangues, costões marítimos, desembocaduras de rios e outros habitats litorâneos do Nordeste. Na praia de Pontal do Ipiranga, atingida hoje, funciona uma base do Projeto Tamar, dedicado à pesquisa, proteção e manejo de tartarugas marinhas ameaçadas de extinção. No site do Tamar consta que, “na região caracterizada por mata de restinga razoavelmente bem conservada”, são monitorados e protegidos, em média, cerca de 200 ninhos de desovas de tartarugas-cabeçuda (Caretta caretta), cujas fêmeas, anualmente, buscam a região para construir a cama onde colocam seus ovos. “Estamos em plena época reprodutiva, que vai até março”, contou o biólogo responsável pela base, Ciro Jardel Bérgamo, a Agência Brasil. “Já temos, até o momento, 206 ninhos de tartaruga-cabeçuda mapeados ao longo dos 43 quilômetros de praia. Além de uma desova confirmada de tartaruga-gigante, o que indica que algo em torno de 80 tartarugas-gigantes estão prestes a nascer”, acrescentou Bérgamo.
PLAQUETAS
Segundo o biólogo, ao menos 60 militares da Marinha e 15 servidores do Ibama já estão no local para tentar limpar a praia, mas os pequenos fragmentos continuam chegando. “São pequenas plaquetas de 3 centímetros, quatro centímetros, que atingiram uma longa extensão de areia. O risco é que as fêmeas enterrem seus ovos junto com o produto que se misturou à areia. Ou que, se a praia não for totalmente limpa, os filhotes, ao nascerem e tentarem chegar ao mar, tenham contato com o óleo”, acrescentou Bérgamo, lamentando uma nova tragédia para o litoral capixaba quatro anos após o rompimento da barragem do Fundão, da Samarco, em novembro de 2015, que lançou milhares de tonelada de resíduos tóxicos sobre o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, atingiu o Rio Doce, e chegou ao Oceano Atlântico. “A costa capixaba está sendo castigada. Principalmente os pontos de desova das tartarugas. Ainda estávamos sob efeito do rompimento da barragem do Fundão, e, agora, isto”, lamentou o biólogo. Antes que os primeiros vestígios de óleo fossem encontrados na praia, a prefeitura de Linhares e o Corpo de Bombeiros instalaram o Sistema de Comando em Operações para fazer frente a situação. Uma das primeiras medidas preventivas adotadas, ainda na sexta-feira (8), foi o bloqueio da foz do Rio Doce, em Regência. Segundo a prefeitura, o objetivo é evitar que o material poluente atinja e contamine o estuário da região.