Brasília- As críticas à escalada do protecionismo no comércio global deram o tom dos discursos no primeiro dia da XI Cúpula dos Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), promovida em Brasília. No encerramento do fórum empresarial dos países do grupo, a fala mais assertiva foi a do dirigente da China, Xi Jinping, que vem criando tarifas a produtos americanos como resposta às taxas criadas pelo governo de Donald Trump a bens do país asiático. A guerra comercial entre os países vem causando queda nas previsões de crescimento global. As declarações são feitas em um momento em que o governo brasileiro adota uma postura de alinhamento aos Estados Unidos. “O crescente protecionismo e ameaças no mundo estão colocando em risco o comércio e o investimento internacional, levando à desaceleração da economia internacional”, disse a uma plateia formada por empresários e sob os olhares dos demais líderes do bloco. O chinês defendeu a queda de barreiras comerciais entre os países em desenvolvimento e ressaltou que o mundo passa por um momento de transformações que aumenta as oportunidades para acordos.
“As nossas economias enfrentam desafios e creio que as inovações são a melhor maneira de enfrentar esses desafios que comprometem nosso desenvolvimento econômico. Nós temos de propor novos caminhos para a nossa indústria”, disse.
Ele ressaltou que, nos últimos cinco anos, a China teve participação de 30% no crescimento econômico mundial e que não recuará na decisão de abrir o seu mercado ao mundo. “Nós queremos abrir a nossa economia, aumentar nossas exportações e importações e criar ambiente mais favorável aos negócios”, afirmou. Xi fez ainda um chamado para que os países dos Brics participem da Iniciativa Cinturão e Rota, de grandes obras de infraestrutura em parceria com a China e com financiamento do Banco de Desenvolvimento Chinês. “A Iniciativa Cinturão e Rota está entrando em novo patamar, espero que todos vocês possam participar mais ativamente desta plataforma”, afirmou. A iniciativa sofre críticas dos EUA, que acusam a China de aumentar o endividamento de países e fazer investimentos predatórios, apenas para garantir fornecimento de commodities. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que a situação da economia global “continua complexa” e defendeu que os países do bloco não se abatam com o crescimento das barreiras ao comércio. “Temos visto crescimento de atitudes protecionistas e de problemas alfandegários. Os países do Brics têm que se esforçar para não se deixar abater por essas coisas. Temos que manter o nível de vida de nossas populações e aumentá-las”, disse. Em linha semelhante, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, afirmou que a desaceleração do mercado global e o crescimento do protecionismo diminui oportunidades de investimento e gera mais incertezas ao comércio global. “Permanecemos empenhados em [defender] mercados livres e justos para o comércio global. Continuamos apoiando a governança que crie oportunidades para o crescimento inclusivo”, disse. Outro ponto comum nos discursos foi a menção a medidas econômicas tomadas nos respectivos países para melhorar o ambiente de negócios e o chamado por investimentos. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, fez um apelo para que empresários desembarquem no país. “A estabilidade política e previsibilidade econômica, além das reformas, tornaram a Índia mais próspera”, disse. Putin citou a melhora do país no ranking de ambiente de negócios do Banco Mundial e a valorização dos títulos de dívida do país. Ele também disse estar disposto a trabalhar em conjunto em áreas como a nuclear, a farmacêutica, aeronáutica e em tecnologia da informação. “Gostaríamos que outros países olhassem para nossos avanços nessas áreas para participar conosco”, afirmou. Xi, Modi e Putin deram destaque especial ainda a investimentos em energias renováveis e economia verde, algo que não é prioridade do governo brasileiro. Modi agradeceu a Bolsonaro pela medida que elimina necessidade de visto para indianos entrarem no país. Xi não mencionou isso em seu discurso, apesar de a China também ter sido beneficiada.