Brasil vive guerra social entre classes, afirma relator da ONU
Rio O relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, concluiu sua visita de 18 dias ao Brasil com a constatação de que o País não cumpre os compromissos firmados nos pactos internacionais sobre a
Por | Edição do dia 19/03/2002 - Matéria atualizada em 19/03/2002 às 00h00
Rio O relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, concluiu sua visita de 18 dias ao Brasil com a constatação de que o País não cumpre os compromissos firmados nos pactos internacionais sobre a questão e que poderá sofrer punições da ONU por causa disso. Há uma guerra de classes no Brasil. São 40 mil assassinatos por ano, de acordo com as estatísticas do Ministério da Justiça. Há uma guerra social aqui. Para a ONU, 15 mil mortos por ano são indicador de guerra, afirmou Ziegler, que retornou ontem para a Suíça. Professor de sociologia em Genebra e na Sorbonne, ex-deputado pelo Partido Socialista, Ziegler, 58 anos, suiço, é autor do livro La Faim dans le Monde Expliquée à mon Fils (Paris, Seuil, 1999), que trata do problema da fome e da carência alimentar. Seu relatório sobre o direito à alimentação no Brasil deve ser apresentado na Assembléia Geral da ONU, em setembro. Questionado sobre as sanções que poderão ser aplicadas ao País, respondeu: Penso que o governo vai ter algumas dificuldades, mas não posso saber que punições serão aplicadas. O relatório fará recomendações, mas a decisão será dos países-membros. Apesar de concluir que há desrespeito aos direitos de alimentação e saúde no Brasil, Jean Ziegler elogiou as ações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e das comissões pastorais da terra e da criança, ligadas à Igreja Católica. A grande esperança do Brasil está nos movimentos sociais das igrejas e da sociedade civil. A revolução, a mudança qualitativa, virá da base e isso é importante para a comunidade internacional, afirmou. Na última etapa de sua viagem, no Rio, passou a tarde de sábado em visita aos mutirões populares contra a fome e a desnutrição no município de São João do Meriti. Este trabalho é coordenado pelo bispo católico D. Mauro Morelli (diocese de Duque de Caxias) e por pastores da Igreja Batista de São João de Meriti. Empapado de suor, sob o calor sufocante da Baixada Fluminense, o alto comissário da ONU fez um resumo de suas impressões em relação aos direitos humanos no Brasil. Ziegler disse ter sido informado pelo governo federal de que existem 23 milhões de desnutridos no País, enquanto o PT e a Igreja Católica falam em 44 milhões e 55 milhões de famintos, respectivamente.