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‘TEM NOÇÃO DE QUEM SOU?’: MULHERES RELATAM ABORDAGENS DE JUIZ

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Imagem ilustrativa da imagem ‘TEM NOÇÃO DE QUEM SOU?’: MULHERES RELATAM ABORDAGENS DE JUIZ
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Duas das três mulheres que decidiram levar à frente na Justiça as denúncias de assédio sexual contra o juiz do trabalho de São Paulo Marcos Scalercio relataram ao g1 e à TV Globo detalhes da abordagem.

Uma delas afirmou ter sido impedida de fazer perguntas por Scalercio durante uma audiência por não ter aceitado sair com ele. A advogada diz que era aluna dele no cursinho Damásio em 2014, onde Scalercio dava aulas, e que foi abordada por ele em redes sociais.

O juiz, que também é professor, começou a oferecer ajuda a ela. “Ele ficava falando de me levar livros até a minha faculdade e um dia simplesmente apareceu. Entrei no carro dele e nós fomos numa cafeteria próxima ao local, quando ele tentou me agarrar. Na hora, eu falei que não queria isso, fiquei assustada e me retirei daquele local. Depois ele passou a mandar mensagens nas redes sociais dizendo que a gente tinha que sair juntos. Eu me recusava, e ele falava coisas do tipo: ‘Como você não quer sair comigo, eu sou juiz, você não tem noção de quem eu sou?’. Depois disso, eu bloquei ele nas redes”, disse.

A advogada conta que continuou frequentando as aulas normalmente, e que Scalercio passou a tratá-la com indiferença. Depois de formada, ela afirma que o encontrou em audiências e que teria sofrido retaliações profissionais por parte do juiz. “Eu estava numa audiência que deveria ocorrer normalmente, onde o advogado faz perguntas, e a parte responde. E todas as perguntas que eu fazia, ele falava: ‘Está indeferido, não vai perguntar nada’. Na época, o cliente até me perguntou o que estava acontecendo, e eu ficava constrangida em responder”, afirmou.

Assédio dentro do fórum

Uma outra vítima, funcionária do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), contou que foi agarrada e beijada à força por Scalercio dentro do gabinete dele no Fórum Trabalhista Ruy Barbosa na capital, em 2018.

“Ele se levantou, veio perto da minha cadeira, se apoiou na minha cadeira e começou a tentar me beijar, me assustei e fui para trás com a cadeira. Mas ele forçava todo o corpo pesado nos meus braços, até que teve uma hora que ele fez menos força, e eu consegui me desvincular. Ele tentava me beijar e falava que ‘sabia que eu queria’ e, como não tinha câmeras no gabinete, eu podia ficar tranquila”, afirmou a vítima.

Ela também conta que ficou com marcas nos braços por ter sido pressionada com força pelo juiz. Ela é uma das três denúncias contra Scalercio que são apuradas pelo CNJ e pelo Ministério Público Federal (MPF).

A servidora se lembra de que ele disse: “Sei que você quer”. Assustada, ela fala que tentou se livrar do magistrado e chegou a colocar a mão no rosto dele e o empurrou. Ainda segundo a mulher, Scalercio “começou a falar que era juiz, que tinha um monte de mulheres que queriam sair com ele”.

“Ele só falou: ‘Eu sou juiz, tem um monte de mulher que quer sair comigo, e você não tem prova e não vai poder fazer nada’. Na hora eu não falei nada, só teve um momento um pouco antes que eu peguei o celular e tentei filmar, mas ele tirou da minha mão e disse que eu não tinha provas e que eu não poderia fazer nada. Fui fechada naquele gabinete e com certeza, pelo fato de eu ter um cargo inferior, quem sairia punida seria eu”, continuou.

A servidora conta que, no dia em que sofreu assédio, estava em um evento no fórum e comentou com Scalercio sobre uma possível troca de lotação no tribunal. “Só fui perceber todas essas questões depois, voltando nos fatos, percebendo desde o momento como eu entrei e como que foi, também era numa sexta-feira - que é o dia de menor movimentação no Tribunal. Então essas questões eu só fui realmente perceber depois”, continuou.

Na época, ela não o denunciou porque acreditava que “não tinha provas” contra ele, exceto suas próprias palavras. Mas mudou de opinião quando viu outras mulheres acusando o magistrado por assédio sexual nas redes sociais. Procurou então o Me Too Brasil para formalizar sua denúncia contra Scalercio.

Segundo a defesa de uma das três mulheres que decidiram formalizar na Justiça as denúncias de assédio sexual contra o magistrado, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ainda não marcou uma data para analisar as acusações contra Scalercio.

“Com novas denúncias de assédio, a expectativa é que a Corregedoria do CNJ faça novas diligências para melhor instruir o procedimento, antes de novamente pautá-lo para decisão do plenário do CNJ, com elementos mais robustos para uma abertura de processo disciplinar”, disse ao g1 o advogado José Lúcio Munhoz.

De acordo com ele, o CNJ irá decidir se abre um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) contra o juiz ou se arquiva o caso, assim como já havia sido feito antes pelo TRT.

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