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Den�ncia de acord�o estremece CPI

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Chico de Gois Fernanda Krakovics Leila Suwwan Folhapress Brasília - Tinha tudo para ser uma sessão tranqüila. Na ordem do dia, apenas a votação de requerimentos e, 30 minutos depois, a CPI dos Correios passaria a ouvir o depoimento do policial civil Davi Rodrigues dos Santos, que sacou mais de R$ 5 milhões da SMPB do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. Mas bastou a deputada Juíza Denise Frossard (PPS-RJ) aludir a um possível acordão que poderia acabar em pizza para que a comissão pegasse fogo. “Esta CPI está rolando ladeira abaixo”, iniciou a deputada. “Vamos ouvir um carregador de malas [Santos], ao invés de ouvir o deputado José Dirceu (PT-SP)”, afirmou. Ela disse que a CPI está perdendo o foco e não é função da comissão investigar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como quer a oposição por causa da citação de Roberto Jefferson (PTB-RJ) que envolveu Lula numa suposta transação com a Portugal Telecom. “O cheiro de pizza está fedendo pela sociedade e o que se fala nas ruas é que há um grande acordo entre o PT, PSDB e PFL.” Ira A frase acendeu a ira dos petistas, tucanos e pefelistas. O primeiro a retrucar foi o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS). “Não há acordo nenhum”, disse, resoluto. “Eu não fui procurado por ninguém para fazer acordo.” Delcídio, que um dia antes de a CPI ser instalada chegou a abdicar da função de presidente, alegando que a CPI seria chapa branca por ter o presidente e o relator da base de apoio ao governo, desdisse a si mesmo. “Esta CPI não é chapa branca; vamos investigar tudo.” Para ele, “não há cheiro de pizza, o que há é uma energia ruim aqui porque estamos mexendo com coisas ruins.” O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) pegou carona no mote. “Sou um bom pizzaiolo, mas estou aqui disposto a colocar lenha na fogueira para apurar tudo.” Outro pefelista que se insurgiu contra a observação de Denise Frossard foi Antonio Carlos Magalhães Neto (BA). “Um acordão significaria a cassação dos 513 deputados e 81 senadores.” Pelo lado dos tucanos, o deputado Eduardo Paes (RJ) tentou atacar Denise Frossard porque, em seu entendimento, a parlamentar estaria criticando colegas para ganhar pontos com a sociedade. “A senhora também é política porque está aqui há dois mandatos e foi eleita pelo PSDB.” No entendimento de Paes, “o povo quer o sangue generalizado de todos nós”. Frossard devolveu a provocação: “E, com minha votação, elegi mais dois do PSDB.” A senadora Ideli Salvati (PT-SC) concordou com o “cheiro de pizza”. “Acho que o acordão poderia ter acontecido, sim, na semana passada, mas nós do PT o denunciamos”, disse. ### Policial diz que entregava dinheiro a sócio de Valério Segundo maior sacador das contas da SMP&B no Banco Rural (R$ 4,9 milhões), o policial civil Davi Rodrigues Alves afirmou ontem na CPI dos Correios que atuou apenas como transportador de valores para Cristiano Paz (sócio), Simone Vasconcelos (diretora financeira) e Geiza Dias (gerente financeira). Contradiz, assim, a versão de que sacava o dinheiro a pedido de Marcos Valério Fernandes de Souza para a sócia de Duda Mendonça, a publicitária Zilmar Silveira. Simone Vasconcellos havia dito na quarta-feira na CPI que nunca teve contato com Davi, que teria sacado com cheques parte dos R$ 15,5 milhões supostamente destinados a Zilmar. Como ambos Simone e Davi depuseram sob juramento, o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) pediu ao Ministério Público a apuração do crime de falso testemunho. Para Serraglio, Davi disse a verdade. Outros parlamentares foram mais contundentes, chamando Simone de “mentirosa” e “protagonista de um show de falsidade e frieza”. Davi se classificou de “peixe pequeno” e trouxe documentação bancária para demonstrar suas dificuldades financeiras e reforçar a necessidade que teve, em 2003, de fazer um bico em sua folga de plantão na Polícia Civil para complementar sua renda. Ligações suspeitas Porém, suas ligações levantaram dúvidas. Ele disse ter sido apresentado a Cristiano Paz por Haroldo Bicalho e que não sabia que este era um doleiro preso pela Polícia Federal. Também disse ter feito serviços diversos para a Solida Factoring em Belo Horizonte. “O sr. diz a verdade, mas não é inocente. O sr. é policial e sabe que foi usado de mula”, disse o policial e deputado Alberto Fraga (PFL-DF). Em sua defesa, Davi disse ter sido ingênuo à época. “Na minha ignorância, jamais poderia ter imaginado que era um sacador. Eu era um transportador”, disse. ### CPI deve ouvir sócio de Marcos Valério O policial civil David Rodrigues Alves detalhou para a CPI que ia, armado, diretamente à tesouraria, “no porão” de uma das três agências do Rural em BH onde os maços lacrados já estavam preparados. Apresentava apenas sua identidade e levava, até três vezes no mesmo dia, quantias de R$ 50 mil a R$ 150 mil dentro de caixa de celular ou sapato. Levava o dinheiro para Cristiano, Simone ou Geiza. Por cada serviço, recebia entre R$ 50 e R$ 100, incluindo a corrida de táxi. “Isso tudo foi em 2003. De lá prá cá nunca mais botei no meu bolso uma nota de R$ 100 que fosse minha”, disse. O depoimento reforçou a importância das convocações de Zilmar e Cristiano para a próxima semana. Causou estranheza uma afirmação de David muito semelhante à de Renilda Santiago, mulher de Marcos Valério: “Todo mundo só fala de Marcos Valério. Até parece que o Cristiano não é dono da SMP&B”. “É muito importante a ligação de Cristiano Paz aos saques”, disse o relator Serragalio. “A Simone não queria responder pela outra banda do esquema, que envolve o Cristiano Paz. Não há dúvida de que ele seria outro pagador”, avaliou o deputado Carlos Abicalil (PT-MT). Segundo Davi, Cristiano o contratou porque estava fazendo um “operação financeira e precisava de alguém para buscar dinheiro vivo por um período”. Sobre Zilmar, foi veemente: “Nunca ouvi falar dessa senhora. Não sei nem pronunciar o nome dela”. O depoimento durou apenas três horas e meia. David foi acompanhado por advogados de seu sindicato e está sendo investigado pela Corregedoria da Polícia Civil de Minas Gerais. ### Reduzida apuração de fundos de pensão Um acordo entre governo e oposição amenizou ontem as investigações na CPI dos Correios sobre os fundos de pensão. A intenção é investigar, por meio dos fundos, uma das possíveis origens do dinheiro que abastecia o caixa dois do PT. Em outra frente, foi aprovada a convocação da publicitária Zilmar da Silveira, sócia de Duda Mendonça, que recebeu R$ 15,5 milhões das contas do empresário Marcos Valério de Souza, segundo depoimento do próprio. Ela vai depor na próxima semana. A proposta inicial do PFL era quebrar o sigilo bancário dos dez maiores fundos de pensão do país, mas em café da manhã ontem com o presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS), a medida foi reduzida a um pedido de informações ao ministro Antonio Palocci (Fazenda), à Secretaria de Previdência Complementar e aos presidentes dos fundos. O requerimento aprovado ontem se resume aos investimentos dos fundos de pensão em títulos pós-fixados pelo IPCA e pelo IGP-M. Os parlamentares querem saber as datas de emissão, de compra e de vencimento desses papéis, além da taxa de juros e o preço de compra. Não foram pedidas informações sobre as aplicações no Banco Rural e no BMG, que eram consideradas atípicas pela oposição e faziam parte do pedido inicial. Os pefelistas negam que houve recuo. “Queremos ver se esses títulos foram comprados com valores acima do mercado e também rastrear esse dinheiro. Para isso o pedido de informação é suficiente”, disse o líder do PFL, deputado Rodrigo Maia (RJ). Há suspeita de desvio de recursos através do pagamento de comissão a corretoras. “Vamos começar por aí, não podemos abrir a porteira de uma vez”, disse o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS). A resistência dos petistas se deveria, segundo os próprios, ao temor de que a quebra de sigilo bancário gerasse instabilidade no mercado financeiro. “Os investimentos dos fundos são ativos da escala de bilhões. Temos que ter responsabilidade com a economia do país”, disse o deputado Maurício Rands (PT-PE). O foco da CPI são 11 fundos de pensão: Previ, Sistel, Funcef, Petros, Centrus, Real Grandeza, Eletros, Serpros, Postalis, Portos e Geap. Ao convocar a sócia de Duda Mendonça, os parlamentares querem tentar esclarecer a finalidade do repasse de R$ 15,5 milhões. Como esses saques foram feitos em 2003, não faria sentido a justificativa de que o dinheiro foi utilizado para pagar dívidas de campanha, já que nesse ano não houve eleição.

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