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Caixa dois foi para campanha de Lula

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Ranier Bragon Sílvio Navarro Folhapress Brasília - O ex-deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL, afirmou ontem na CPI do Mensalão que os R$ 6,5 milhões que recebeu entre fevereiro de 2003 e janeiro de 2004 das empresas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza foram integralmente usados para pagar dívidas da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva - de quem José Alencar, do PL de Valdemar, foi candidato a vice. “Para as eleições de 2002, involuntariamente recebi dinheiro não-oficializado do PT. (...) [o recurso] Foi totalmente gasto na campanha do presidente Lula”, disse Valdemar, que é mais um dos que afirmam que houve uso de caixa dois na campanha presidencial do PT. Segundo o ex-deputado, o dinheiro quitou dívidas contraídas com a confecção de material de campanha da coligação Lula-José Alencar (PL) distribuído na região metropolitana de São Paulo, no segundo turno das eleições. Valdemar afirmou que Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, teria dito: “Faz a despesa que depois acertamos”. Em outro momento do depoimento, Valdemar foi mais direto: “Pendurei tudo”. “Encomendei material para toda São Paulo e região metropolitana. Com fornecedores do PT. Foi onde investi todo o dinheiro. A única chance que me restava era o Lula ganhar a eleição”, afirmou Valdemar, se referindo ao fato de que sua legenda não havia conseguido atingir o número de votos mínimo exigido para obtenção do tempo de TV e de recursos do fundo partidário. Isso só foi resolvido após a fusão com dois partidos nanicos. “O PT pediu para concentrar a campanha em São Paulo porque ali era tudo ou nada”, disse. “A única salvação era o Lula ganhar a eleição, porque senão ficaria mais oito anos na oposição.” Em seu depoimento Valdemar Costa Neto afirmou também que nunca tratou de questões financeiras com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Costa Neto, o presidente Lula sabia apenas dos acordos políticos e não dos financeiros. “Com o presidente Lula foram conversas políticas. O presidente nunca conversou nada de assuntos econômicos”, afirmou. Apesar de dizer que está decepcionado com o comando financeiro do PT, Costa Neto afirmou não se sentir usado pelo PT ou pelo governo. “Eu não tenho nada para falar deste governo. Quando eu falei que o presidente Lula sabia do acordo, eu disse o que ele sabia era do acordo político, do apoio. Ele jamais negociou comigo.” ### Costa Neto nega existência de mensalão A CPI do Mensalão investiga a suspeita de que o PT pagava mesada a deputados da base governista em troca de apoio político. Valdemar teria recebido R$ 10,8 milhões das empresas de Valério, o suposto operador do “mensalão”, embora assuma apenas R$ 6,5 milhões. Ontem, Valdemar disse ter “certeza que o mensalão nunca existiu” e seria uma “fantasia” de Jefferson para obter repercussão popular. “O envolvimento do PL no mensalão é uma fantasia do Roberto Jefferson. O partido que tem o vice-presidente da República não precisa de mensalão para votar com o governo”, disse. No depoimento, o ex-deputado diz ter recibo de apenas R$ 1,7 milhão dos R$ 6,5 milhões. Apesar disso, não quis nominar quais fornecedores teria pago, afirmando apenas que eles trabalhavam para o PT. Ele negou também que tivesse conhecimento sobre a empresa Guaranhuns, que seria a intermediária do dinheiro de Valério ao PL. Disse que recebeu das empresas de Valério cheques direcionados à Guaranhuns, no valor de R$ 1,2 milhão, mas que emissários de Delúbio trocaram esses cheques por dinheiro posteriormente. O ex-deputado - o único a renunciar até agora devido ao escândalo - confirmou ainda que fez um acordo financeiro com o PT em 2002 para compor a candidatura Lula. Pelo acerto, R$ 10 milhões dos R$ 40 milhões que a coligação PL-PT esperava arrecadar iriam para os candidatos liberais. “Isso é um acordo eminentemente político, isso é normal em qualquer aliança que você faz. O PL tinha o vice”, argumentou. O acerto não teria sido cumprido durante a campanha -somente parte dele teria sido honrado em 2003 e 2004, por meio dos R$ 6,5 milhões repassados por Valério. Desse montante, Valdemar disse que 80% viera da SMP&B e o restante disse desconhecer a procedência. Sobre Jefferson, declarou que o PL foi inúmeras vezes procurado por emissários do petebista em busca de acordo. Eles queriam, segundo Valdemar, que o PL retirasse o pedido de cassação feito contra Jefferson, que, em troca, não pediria a cassação de integrantes do PL. “Dou um recado a Roberto Jefferson”, disse olhando para a Câmara da TV e com dedo em riste: “Não retiro seu processo, você vai ficar oito anos cassado e vai ser banido da vida pública”. O PTB pediu a cassação de Valdemar, que renunciou antes da abertura do processo na Câmara, o que o livrou da ameaça da perda dos direitos políticos até 2015. “A renúncia libertou-me das ameaças do Roberto Jefferson. Preferi a liberdade à chantagem.” O depoimento do presidente do PL também deu a entender que o ex-ministro José Dirceu (PT-SP) saberia do esquema montado entre Delúbio e Valério para arrecadar recursos para o caixa do PT. Segundo Valdemar, Dirceu disse a ele em meados de 2003, quando chefiava a Casa Civil da Presidência, que Delúbio “estava viabilizando o dinheiro” e que o PT “iria honrar” todos os compromissos assumidos com ele, Valdemar, durante a campanha presidencial. ### Jefferson é acusado de chantagem Valdemar Costa Neto diz que Roberto Jefferson tentou negociar com o PL acordo para evitar processo de cassação de mandato O presidente do PL, ex-deputado Valdemar Costa Neto, acusou ontem o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de tentar chantageá-lo com as denúncias do pagamento de mesada a deputados. “Ele me procurou duas vezes com proposta de acordo. Eu rejeitei. Renunciei para não ceder às chantagens do senhor Roberto Jefferson.” Aos membros da comissão, Costa Neto disse que a primeira tentativa de acordo feita por Jefferson ocorreu no dia 7 de junho, no mesmo dia em que o PL ingressou com a representação contra ele no Conselho de Ética da Câmara. “Por esta Roberto Jefferson não esperava. Ele se deu mal. No dia 7, por volta da meia-noite, o deputado Sandro Mabel [PL-GO] me ligou e disse que precisava conversar. Ele foi à minha casa e afirmou que Roberto Jefferson reconheceu que fez mal em colocar o PL na lista do ‘mensalão’. Ele está arrependido”, informou Costa Neto à Comissão Parlamentar de Inquérito da Compra de Voto, popularmente chamada de Mensalão. Em relação ao primeiro acordo, o presidente do PL disse que Jefferson se propunha a entregar um documento assinado por ele inocentando o PL e em troca Costa Neto transferiria a representação para a Corregedoria da Câmara ou para “alguma CPI, o que lhe permitiria renunciar”. O presidente do PL afirmou que recusou a proposta, com o apoio de Mabel, porque um documento assinado por Jefferson não teria valor. A segunda tentativa de acordo ocorreu dias depois. “Foi uma proposta de acordão indecente para que eu jogasse a bóia para que Roberto Jefferson se agarrasse e pudesse renunciar.” Pouco crível A maioria dos integrantes da CPI considerou a versão de Valdemar pouco crível. “Ele repetiu o que já havia dito e falou sobre coisas que já sabíamos. O que devemos é confrontar a fala com a investigação em cima de documentos”, avaliou o senador Amir Lando (PMDB-RO), presidente da CPI. “Os depoimentos vão no sentido de que o dinheiro ia para a campanha. A história do “mensalão’ parece mesmo ser uma armação criada para jogar um vendaval sobre a Câmara”, disse por sua vez o senador governista Sibá Machado (PT-AC). ### Acuado, ex-deputado vai para o ataque Contrariando o tom adotado pela maioria dos que prestam depoimento à CPI, Valdemar Costa Neto partiu para o ataque quando foi acuado por parlamentares da oposição. Diante do questionamento sobre a causa do inchaço do PL, que passou de 26 deputados federais eleitos para 49, o ex-deputado reagiu perguntando ironicamente se também seria o “mensalão” a razão do crescimento da bancada do PSDB durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). O deputado Júlio Redecker (PSDB-RS) abordou o assunto durante sua dura inquirição a Valdemar. “As maiores liberações [do dinheiro de Valério] são no início da legislatura, quando houve um incremento na sua bancada. Como o senhor explica isso?”, questionou Redecker. Valdemar sacou então uma tabela e afirmou que responderia com um pergunta: “Como o PSDB, que tinha 65 deputados em 1995, passou para 97 em 1997. Foi com o “mensalão’?”, rebateu. Redecker então deu uma resposta que arrancou manifestações de deboche em toda a sala da CPI, que abrigava vários assessores do PL. “Muitas pessoas naquela oportunidade queriam participar do PSDB e foram participar. É diferente do seu caso”, disse, sendo interrompido por um longo “ahhhhhh” da platéia. “Peço que a claque não se manifeste”, irritou-se Redecker. Ao retomar a palavra, Valdemar atacou o tucano. “Quero dizer que sempre admirei muito o trabalho do senhor e estou surpreso da maneira violenta como me inquiriu. O senhor, que foi presidente da juventude do PDS do Paulo Maluf, não podia me inquirir dessa maneira”, afirmou. Outro momento inusual do depoimento ocorreu quando o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA) perguntou se Valdemar era um “divorciado apaixonado”. “Dizem que o verdadeiro amor nunca acaba, apenas adormece”, disse o deputado. Valdemar, que possui um ruidoso processo de separação com a ex-mulher Maria Christina Mendes Caldeira - que também o acusa de participação no “Mensalão” - afirmou que não falaria “mal de mulher”. “Tive momentos felizes com Maria Christina. (...) Evidente que gostei dela, porque fui casado com ela. Mas isso passou e restaram apenas mágoas.”

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