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Ex-militar confirma tortura no Ex�rcito

| Globo Online Rio de Janeiro As cenas de trotes violentos exibidas pela Rede Globo no alojamento da 2ª Companhia do 20º Batalhão de Infantaria Blindado, em Curitiba, incentivaram a denúncia de outros casos de tortura. As imagens da tortura chocaram o Brasil, mas não surpreenderam um ex-militar, que serviu no mesmo batalhão. ?Quando eu entrei como soldado, passei pelas mesmas torturas, sargentos faziam isso com os soldados, davam socos, pontapés, pisavam na cabeça?, disse o ex-militar, que não quis ser identificado, ao jornal Hoje, da Rede Globo. Ele confessa que também torturou colegas. ?Um sargento ordenou que a gente quebrasse o braço de um soldado e ameaçava que se isso não fosse feito, aconteceria com a gente?, lembra o ex-militar. O militar saiu do 20º Batalhão há cinco anos. No feriado de ontem não há expediente nos quartéis. O novo comandante do 20º Batalhão de Infantaria Blindado, que ocupa o lugar do comandante Ernani Lunardi Filho, afastado após as denúncias, só deve trabalhar hoje. Os 12 sargentos, já identificados pelas imagens, foram afastados. Eles continuam no Exército, mas sem trabalhar, à disposição da Justiça. A fita com as imagens da tortura mostradas no último domingo no programa Fantástico, da Rede Globo, foi requisitada para ajudar nas investigações. Hoje, os sargentos envolvidos vão começar a ser intimados para prestar depoimento. O inquérito policial militar vai ser acompanhado por dois promotores. Para o tenente-coronel que preside as investigações, não é possível chamar o trote de brincadeira, porque aconteceu dentro de instalações, entre homens do Exército. ?As imagens falam por si. São imagens muito fortes, completamente contrárias a qualquer pensamento em vigor no Exército. Num ambiente militar, numa área sob jurisdição militar, não é o tipo de comportamento previsto?, diz Ilton Barbosa, tenente-coronel do Exército. Maus-tratos As cenas lembram as imagens de tortura promovidas por militares norte-americanos a presos de Abu Ghraib, no Iraque. Segundo a gravação, feita pelos veteranos, um dos trotes começou no banheiro da unidade, após a leitura de um texto que anunciava a punição e dava a entender que a prática é antiga. Durante o trote, os ?lobinhos?, como são chamados os novatos, eram obrigados a gritar pedindo socorro aos veteranos. Ao menos cinco teriam sido vítimas da violência. Um deles, já passando mal, foi obrigado a ler o juramento da companhia: ?Respeitar os sargentos mais antigos, receber todas as missões passadas, pagar o churrasco sem ponderação. Não chorar para o subtenente. E, se preciso for, derramar o próprio sangue em prol da tradição do pacote [trote] da 2ª Companhia Pantera Brasil?. A gravação teria sido feita com uma máquina fotográfica digital, de acordo com peritos. Nota oficial divulgada pelo Exército afirma que as imagens são ?verídicas?. O chefe do Centro de Comunicação Social do Exército, coronel Carlos Barcellos, considera a conduta de ?agressão física e moral em qualquer tipo de atividade, inclusive na instituição militar, é totalmente inaceitável?. ### Sargento nega que tenha sido torturado no quartel Começam hoje os depoimentos dos militares que participaram de um trote violento dentro da 2ª Companhia de Fuzileiros, que pertence ao 20º Batalhão de Infantaria Blindada, em Curitiba (PR). O Inquérito Policial Militar (IPM) aberto para apurar responsabilidades tem, no máximo, 60 dias para ser concluído. Ontem, um dos sargentos que aparece apanhando nas imagens entregues ao Exército decidiu se explicar e negou que tenha sido torturado. ?Aquilo não foi tortura, eu participei porque quis. Era uma brincadeira?, garantiu o 3º sargento Giovanni Moscatelli, que está no Exército há dois anos e integra a companhia batizada de Pantera. Nas imagens exibidas no domingo pelo programa Fantástico, da Rede Globo, ele aparece amarrado, levando chineladas, choques e pontapés de veteranos. Mas o militar sustenta que podia escolher pelo que iria passar. ?Eu sou aquele que é colocado em cima do armário. Ninguém me encostou o ferro porque sabia que não estava ligado. Para os novatos, a gritaria era pelo susto!?, afirmou ele. O coronel Ilton Batista disse que ainda de brincadeira, o trote foi irregular e contrário às regras da instituição.