Publica��o evita citar crise pol�tica

| Eduardo Scolese e Pedro Dias Leite Folhapress Brasília - O leitor que tiver acesso a um exemplar do jornal que o Palácio do Planalto preparou sobre os três anos da gestão Luiz Inácio Lula da Silva não verá quase nenhuma menção às denúncias de corrupção que derrubaram parte da cúpula do governo federal. Além da praticamente total omissão à crise do mensalão, no balanço não há lembranças ou simples citações à recente derrapada da economia, aos buracos nas rodovias federais e às milhares de famílias sem terra acampadas em todo o País. O jornal de prestação de contas, de 36 páginas e com uma tiragem de 1,2 milhão de exemplares, segue a linha ensaiada por Lula para a campanha eleitoral do segundo semestre deste ano, quando promete comparar números de seu governo com os da gestão tucana de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Em formato tablóide (meio jornal), o balanço traz comparações em diferentes áreas, como controle do desmatamento, turismo, agricultura familiar, agronegócio e exportações. Essa é a sexta edição da chamada prestação de contas, sendo a primeira em versão jornal. As quatro primeiras foram revistas, e a última, apenas distribuída em versão on-line na página da presidência na internet. O jornal, produzido pela agência Lew Lara a um custo de R$ 976 mil, começou a ser distribuído ontem a agentes públicos de todo o País, com preferência a prefeituras, câmaras municipais, escolas públicas, bibliotecas, consulados, embaixadas e setores do Legislativo e do Judiciário. O PSDB afirmou que estuda ações na Justiça contra a propaganda. ?O governo está antecipando a campanha eleitoral e isso não pode ser aceito. Por isso o PSDB estuda acionar tanto a Justiça Eleitoral quanto a comum?, afirmou o deputado Eduardo Paes (RJ), secretário-geral do partido. Em sua capa, o jornal traz a manchete ?Mais Desenvolvimento, Menos Desigualdade? e citações à criação de empregos, ao aumento das exportações e ao Bolsa-Família, programa de transferência de renda que deve se transformar num dos carros-chefes da virtual campanha de Lula à reeleição. ?E o salário mínimo real em 2005 ficou 23% superior ao vigente em dezembro de 2002?, diz uma das chamadas da primeira página do tablóide. Um resumo geral da gestão aparece no editorial da página dois. Nele, o governo fala numa economia estável e em crescimento. E faz a avaliação de que ?a superação dos enormes desafios históricos não se dá em apenas 36 meses de governo?. O tema da corrupção, que dominou a crise política vivida pelo governo federal desde meados do ano passado, é citado de forma discreta e sutil na página 33. O destaque é para as ações de fiscalização da Controladoria Geral da União nas administrações municipais. Em meio a esse texto, menciona-se num único parágrafo a auditoria especial nos Correios, criada, segundo o jornal, ?em conseqüência das denúncias divulgadas pela mídia?.