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Nº 5759
Opinião

Criminalidade

MILTON HÊNIO * Olhamos o passado e nos lembramos do Brasil de 30 anos atrás – todas as classes sociais viviam relativamente em paz, tranqüilas no país do carnaval e do futebol. Ninguém tinha medo de sair na rua, nem mesmo à noite, as casas tinham port

Por | Edição do dia 27/07/2003 - Matéria atualizada em 27/07/2003 às 00h00

MILTON HÊNIO * Olhamos o passado e nos lembramos do Brasil de 30 anos atrás – todas as classes sociais viviam relativamente em paz, tranqüilas no país do carnaval e do futebol. Ninguém tinha medo de sair na rua, nem mesmo à noite, as casas tinham portões baixos e a criminalidade surgia de forma esporádica. O Brasil era menos violento e todos, inclusive os pobres, usufruíam de maior segurança. Ninguém via mendigos sendo queimados na calçada. Vivíamos, realmente, com paz de espirito. A mudança foi tão grande que, hoje, o Brasil parece ser outro país. Assistimos diariamente pela televisão cenas que nos chocam: assassinatos de jovens por outros jovens delinqüentes para o roubo de um celular, de um boné, de um tênis; seqüestros relâmpagos (vários por dia em São Paulo) em troca de um cartão de crédito; invasão de domicílios e assassinatos dos donos da casa, mortes no trânsito, etc. A Associação Paulista de Medicina possui em seu fichário a relação de mais de 30 médicos que foram mortos no exercício da profissão nos últimos anos. Quantas vidas preciosas, de pessoas que lutaram para ter conhecimento científico e salvar vidas, ceifadas de forma estúpida por marginais. Bernardo Blay Neto, psiquiatra, morto com um tiro dentro do seu consultório em 14 de janeiro; Matheus Romeiro Neto, pneumologista de renome, morto a tiros após discussão no trânsito; Isaura Virgínia, morta com um tiro ao sair do seu consultório em 6 de maio. A relação é muito grande, chegando próximo dos 30. É inacreditável. Mas se tornou rotina em todas as cidades brasileiras essa criminalidade. Os hospitais de emergência não param de atender pacientes que chegam a toda hora frutos dessa violência. E por que isso? São múltiplas as causas, merecem um estudo profundo. A violência atinge proporções devastadoras que se agravam a cada dia. Medidas de urgência estão sendo programadas como a proibição do uso de armas de fogo pela população e aumento das penalidades. Entretanto, o básico da questão está no povo, no subdesenvolvimento, na miséria e na falta de educação. Um povo que se presa trata todo ser humano com dignidade e respeito, ao mesmo tempo em que pune os desvios, a criminalidade e a violência. A verdade é que o Brasil vem sendo saqueado desde o descobrimento. Não há riqueza, mesmo sendo grande como a nossa, que resista a tantas falcatruas. Enquanto perdurar a filosofia do malandro, do aproveitador, do roubo mas faço, do comigo ninguém pode, dos sabe com quem está falando, do uso do poder para lucro pessoal, a violência social só trará desespero, vitimando a todos indistintamente. O subdesenvolvimento caracteriza-se pela estreiteza mental, não havendo espiritualidade para se pensar no todo. A desorganização dos nossos serviços públicos durante décadas são, em parte, responsáveis pelo clima social em que vivemos. E não se vê o empenho de nossa comunidade na construção de um ambiente menos hostil para todos. Nossas cidades, em geral, refletem isso: são sujas, a população joga lixo no espaço comum, no quintal do vizinho, na rua, em frente a sua casa, os jardins são depenados, e os habitantes raramente demonstram apreço pelo local onde vivem, quebrando e sujando o ambiente onde residem, como se estivessem ali de passagem. Existe atualmente um clamor público da população por justiça, pela ética dos nossos governantes e pela punição dos que erram, quer sejam ricos ou pobres. Pedir mais policiais na rua é bom, ajuda, mas não resolve. Construir mais penitenciárias é útil, mas quando milhares de pessoas precisam ficar encarceradas é sinal de que algo muito errado existe na organização de um país. Vamos esperar que os tempos melhorem e tenhamos paz nessa passagem terrena. (*) É MÉDICO [email protected]

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