Paci�ncia
DOM FERNANDO IÓRIO * Agere est romanum, pati christianum (agir é próprio do romano, suportar é coisa dos cristãos), assim se pensava no mundo romano. Entretanto, agir é tão cristão, quanto suportar. São dois aspectos da vida que devem ser usados e coo
Por | Edição do dia 03/09/2002 - Matéria atualizada em 03/09/2002 às 00h00
DOM FERNANDO IÓRIO * Agere est romanum, pati christianum (agir é próprio do romano, suportar é coisa dos cristãos), assim se pensava no mundo romano. Entretanto, agir é tão cristão, quanto suportar. São dois aspectos da vida que devem ser usados e coordenados, nas proporções devidas. Não foi debalde que Jesus dedicou alguns macarismos à paciência. São as conhecidas bem-aventuranças: Bem-aventurados os mansos..., bem-aventurados os pacíficos..., porque aqueles possuirão a terra e estes serão chamados filhos de Deus. Paulo escrevia aos Coríntios: A caridade é paciente... Entretanto, não se pode conquistar a paciência sem associar, sem combinar, sem coordenar, no recôndito do ser, vontades e orientações, as mais profundas, as mais necessárias, as mais urgentes. Trazemos à baila alguns segredos para a conquista da paciência. Antes de tudo, é importante alimentar convicções. Aprendei de mim que sou manso e paciente de coração, afirma de si mesmo Jesus. Se Jesus deseja que assimilemos, por contínua e progressiva aprendizagem, a sua mansidão é para que tenhamos a convicção de que nada mais agrada tanto ao Senhor, nada mais torna o outro tão feliz, nada mais nos dá tamanha paz e felicidade, como o exercício da paciência em mundo ainda mesmo dominado pela violência. Enquanto os violentos atemorizam, amedrontam, exterminam, incineram e, por isso, não são desejados, os mansos, ao contrário, reconciliam, unificam, constroem pontes de amizade e muros de rosas. Outro segredo é ser humilde. A humildade é a verdade. Ser humilde é conhecer-se a si mesmo, é não dizer o que quer, enquanto estiver o coração inquieto. É silenciar, quando as palavras falam menos do que o calar-se. Para tanto, faz-se urgente grande domínio de si mesmo. Quem sabe? Contar até 10 para vencer o instinto da imediata resposta. Não dramatizar é outro importante segredo. Não tornar uma tragédia as coisas simples. Na maioria das vezes, a impaciência está ligada a pequenina fagulha, a uma tola divergência, a uma gota de incompreensão. Um cônjuge anotou as impaciências que haviam provocado brigas durante 15 anos de casamento, por causa de ninharias; brigaram os dois: 1.689 vezes porque a mesa não estava pronta na hora devida; 1.282 vezes porque ele gastava demais nas festas; 1.631 vezes porque ela demorava para sair; 853 vezes porque um e outro entravam em casa com os sapatos enlameados; por 550 vezes brigaram os dois porque não iam morrer no mesmo dia; umas 5 vezes porque ele parecia mastigar a água que bebia... Mínimas coisas, que dramatizadas, tornavam-se obstáculos à paciência. Entretanto, o grande segredo é manter-se perto de Deus. A vivência da presença de Deus concede ao homem e à mulher a dimensão exata das coisas transitórias. (*) É BISPO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS