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Nº 5821
Opinião

Desajustes

MARCOS DAVI MELO * Após uma semana dura de trabalho, onde nos intervalos o que se viu foi o esquente para uma nova guerra no Oriente Médio; o malogro da conferência de Joannesburg, que deveria preservar o meio ambiente, e ainda o horário eleitoral nos

Por | Edição do dia 06/09/2002 - Matéria atualizada em 06/09/2002 às 00h00

MARCOS DAVI MELO * Após uma semana dura de trabalho, onde nos intervalos o que se viu foi o esquente para uma nova guerra no Oriente Médio; o malogro da conferência de Joannesburg, que deveria preservar o meio ambiente, e ainda o horário eleitoral nos garantindo milhões de novos empregos para o próximo mandato presidencial, só restou ao eleitor tentar respirar e relaxar pra ultrapassar esta fase. Uma das atrações em Maceió num desses fins de semana era o show em hotel à beira- mar. O palco montado ao ar livre nos acenava com um ambiente despoluído, onde as palhas dos coqueiros expostas ao vento fariam o contraponto. Além de tudo, o início da programação estava prevista para as 21 horas, o que era uma coisa elogiável e de Primeiro Mundo. Saímos de casa com meia hora de antecedência, como muita gente que se acha organizada e precavida. Quando chegamos, já havia um público considerável no local, mesmo assim pegamos uma boa posição. O tempo foi passando, passando. Um cidadão sentou-se logo atrás e passou a fumar um cigarro atrás do outro. As profundas e contínuas baforadas eram seguidas por espessos jatos de fumaça, exalados em nossa direção como mísseis balísticos iraquianos. Pudemos compreender a ira Bush, nas suas cruzadas fóbicas contra a ameaçadora guerra química de Sadam Hussein. Muito depois das 22 horas, uma esforçada e aplicada banda local iniciou sua apresentação, que durou longas horas. Neste ínterim, uma senhora muito gorda sentada ao lado, que havia saído de casa antes das 20 horas, exausta, reclamou da demora do artista anunciado como principal e pegou uma Coca-Cola para aplacar a sede cruel. Ingeriu-a sofregamente, rosnou que estava quente, engasgou, esbugalhou amplamente os sons emitidos pela banda no palco. Serviu-me de eficiente despertador, já que madrugara e não continha os bocejos, premido pelas névoas plúmbeas do sono, sempre ameaçador nestas viradas da noite, o esperado artista só adentrou ao palco depois da meia-noite. Seu bom show – além das músicas, contou estórias picantes de suas parcerias com Vinícius, Tom, Chico Buarque – só acabou a uma e meia da madrugada. Um sufoco, para quem tinha algum compromisso no sábado cedo. No dia seguinte, conversando com um amigo que morou em Miami, relatava-me um show que fora naquela cidade. Marcado para uma sexta-feira, às 20 horas, no caminho foi envolvido por violento furacão, comum naquelas paragens. Retardou-se no trânsito caótico e chegou com 10 minutos de atraso. O evento começava exatamente na hora, apesar da tormenta. Nestas coisas de compromisso com a organização, cumprir horário, o Primeiro Mundo é imbatível. Essas coisas tão importantes são tratadas entre nós com a mesma responsabilidade com que se prometem 8 milhões de empregos e outras utopias eleitorais oportunísticas. (*) é médico

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