Opinião
Trapiche de moenda a armaz�n de estivas

A palavra ?trapiche? nunca me chamou atenção como agora. Envolvido em uma pesquisa sobre bairro de Jaraguá, percebo que a referência aos grandes armazéns do bairro veio da Espanha, oriunda de um dialeto moçárabe (trepiche) e não de Portugal, com a colonização. A introdução da palavra ao vocabulário logístico portuário aconteceu no alvorecer do Brasil, enquanto eram instalados os primeiros engenhos de cana-de-açúcar. Na verdade era a engrenagem da moenda na força da água,onde na Espanha servia para extrair o azeite,que teve seu apelido transmutado. Com o tempo não só a moenda, mas o edifício passou a se chamar trapiche. Mais tarde vira até armazém de estivas. O interessante é que no século 17 Gaspar Barlaeus ao se referir aos carregamentos de açúcar, menciona a figura do ?trapiche?. João Antonil também faz alusão ao local onde era depositado o açúcar. Mesmo assim Fernão Cardim, no seu livro Uma Viagem e Missão Jesuítica, publicado em 1817, ao abordar a abundância de água corrente usa a expressão?trapiche? como engenho para moer cana. O que é ratificado pelo Diccionario da Língua Portugueza, de D. Rafael Bluteau, de 1789, editado em Lisboa: trepiche, também chamado de trapiche, aparece como ?uma máquina de peneirar farinha?. Ao contrário do Diccionário da Língua Brasileira, de 1832, publicado em Ouro Preto que menciona a palavra como ?casa de guardar gêneros para embarque(...)?. Uma contradição que a Carta Régia de 28 de janeiro de 1808, onde Dom João VI abre os portos às nações amigas, mencione os tais ?trapiches? simplesmente como ?armazéns?. Para um rei vindo de uma terra de navegadores seria bem comum que lá em Lisboa também se denominasse estes armazéns por ?trapiche?. No entanto, a publicação de Cristóvão Rodrigues de Oliveira, com um longo de título: ?Sumario(...)? ou na versão mais recente: ?Lisboa em 1551?, vamos ver, claramente, citada a palavra ?armazém? como depósito de mercadorias para embarque. O certo é que a palavra se transformou de tal maneira que em Recife, por volta de 1862, segundo O Vocabulário Pernambucano, de F.A. Pereira da Costa, a palavra já definia quaisquer ?armazéns de compra e venda?. Daí citar expressões como: ?O Leão vende estivas em seu trapiche(...)? ou ? Aquele moço é um caixeiro de trapiche?. Em Jaraguá o primeiro dono de trapiche foi, segundo Moreno Brandão, José Antônio de Aguiar. E em 1868 o presidente da província, homologava o ?Trapiche Novo? como parte da herança do Comendador Manoel de Vasconcelos, o segundo presidente da Associação Comercial de Maceió. (*) É escritor.