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Nº 5759
Opinião

Tempos futuros

JOSÉ MEDEIROS * Quando mais de 100 chefes de Estado reuniram-se para discutir o futuro do planeta esperava-se alguma coisa a mais que um simples documento de boas intenções, que pode virar letra morta nas gavetas dos governantes. A conferência chamada

Por | Edição do dia 12/09/2002 - Matéria atualizada em 12/09/2002 às 00h00

JOSÉ MEDEIROS * Quando mais de 100 chefes de Estado reuniram-se para discutir o futuro do planeta esperava-se alguma coisa a mais que um simples documento de boas intenções, que pode virar letra morta nas gavetas dos governantes. A conferência chamada de Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável tentou fazer um balanço do que aconteceu no período entre a Eco-92, ocorrida no Rio de Janeiro, e a Rio+10, que foi concluída na semana passada, em Johannesburgo, na África. Em várias regiões do mundo são graves os problemas de água potável, saneamento, energia, mudanças climáticas, biodiversidade, só para referir os temas que dizem respeito ao meio ambiente. Nelson  Mandela, liderança política  símbolo da  distante África,  chamou a atenção para o fato de que boa parte da população africana não tem acesso à água de boa qualidade. Prevê que na segunda metade deste século, os grandes conflitos que serão travados não terão como motivo o petróleo, e sim a disputa por água, por seus mananciais e reservatórios. Na aridez dos desertos africanos e em algumas localidades do sertão nordestino são gravíssimos os problemas desse precioso líquido. Vejamos uma historieta, um trecho adaptado e reformulado de um conto oriental: a mulher caminha à procura de água. É magra, esquálida, de pele encarquilhada e queimada pelo sol escaldante. Carrega na cabeça um pote; pretende enchê-lo num barreiro, pequeno poço que ainda conserva água das chuvas do inverno. São três léguas de caminhada, numa estreita trilha batida pelos animais. Chega lá, enche o pote e o ajeita na rodilha de pano que mantém na cabeça. Inicia o caminho de volta. E vai pensando em como é difícil sua vida, trabalhosa, reclama, gesticula, distrai-se – a rodilha na cabeça gradualmente se desfaz, - o pote escorrega e se espatifa no chão. Abobalhada, fica olhando, tentando refletir, enquanto a água vai sendo absorvida pela terra seca e ávida. Por que perdera esse pote d’água? Anos mais tarde, oprimida por terríveis dificuldades, abandona sua terra natal e arriba para a capital. Com sorte, consegue um local para trabalhar, numa casa de família de classe média. E aí tudo é surpresa: a máquina de lavar, o fogão elétrico, a geladeira, o “freezer”, o forno de microondas. Uma coisa a extasia: a água que jorra das torneiras, forte, contínua, desperdiçada nas pias e banheiros. E ninguém liga. De si para si, reflete: como explicar ser tão difícil a água em sua terra e tão farta aqui nessa cidade grande? São muitos os problemas ambientais de difícil solução. Entretanto, há coisas certas: a consciência ambiental gradualmente se amplia, a educação ecológica é analisada e discutida nas escolas, entidades e meios de comunicação. Serão soluções-chaves dos tempos futuros. (*) É MÉDICO E EX-SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE

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