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sexta-feira, 09/05/2025 | Ano | Nº 5962
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Opinião

Sete Coqueiros

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MARCOS DAVI MELO * A visão, há alguns dias, de um dos Sete Coqueiros quebrado ao meio, uma parte dele mero pedaço de pau ainda encravado no chão, olhando para o alto e a outra porção, com as palhas e alguns cocos prostrados no chão, foi dolorosa. Os Sete Coqueiros são um daqueles cartões-postais de nossa terra que mexem com as nossas melhores emoções. Quando uma asma brônquica renitente em um irmão nos trouxe de Palmeira dos Índios para cá, no início do anos cinqüenta, Maceió terminava ali. A Pajuçara era um amorável pequeno bairro de uma cidade também pequena e sossegada. Na porta do cinema Rex, aos domingos na matinê, a pixotada fazia intenso comércio de gibis usados. A sorveteria situada bem em frente tinha o melhor picolé de baunilha de todos os tempos e era o complemento inevitável do filme da tarde. Aos domingos, ninguém precisava sair dali à procura de praias mais distantes. Nas imediações do CRB, além de um bom bate-bola com os pais e tios, todos tomavam depois um refrescante banho de mar. As águas eram mornas e límpidas. Nos dias de semana, depois das aulas, pescávamos siris com rústicas tetéias e poucos metros da praia. Nos currais de pesca na então distante e indevassada Ponta Verde, com pequenos mergulhos se pegavam pencas de lagostins. Era só algumas braçadas em direção aos currais, que ficavam há 50 metros da praia e o tira-gosto estava garantido. Os Sete Coqueiros só deixaram de ser o último limite ao norte de Maceió, quando se erigiu na Ponta Verde o Alagoinhas. O Iate Clube deixou de ser a única referência social do bairro, aquele que disputava com a Fênix a primazia dos melhores bailes de carnaval da cidade. O novo clube, apesar da inconveniência de sua localização, quebrando a harmonia natural do local, gozou de curto e intenso prestígio na sociedade de então. O calçamento ia só até os Sete Coqueiros e dali para a frente a estrada era uma estreita trilha de areia, que não comportava mais que um carro de cada vez. Depois dali só existiam o mar esverdeado, as jangadas dolentes e as tardes quentes de amor, camufladas entre as sombras conciliatórias dos coqueirais. Os Sete Coqueiros já foram mais de sete. Hoje são alguns poucos sobreviventes. Quatro, cinco talvez. Tristes e alquebrados. Envelhecidos e desprotegidos, já não formam o exuberante buquê floral que encantava a todos os que os viam. São como os últimos membros de uma família que agoniza, prestes a se extinguir e que pede clemência aos homens e piedade aos céus. São um marco na vida de muitos que os cantaram em verso e prosa e de tantos que os amaram em silêncio, se acostumaram a vê-los todos os dias, como a um parente, um amigo que se gosta e com o qual se compartilhou os melhores momentos de suas vidas. (*) É MÉDICO

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