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Nº 5821
Opinião

Dia de reflex�o

Muito já se disse e se repetiu sobre a efemeridade do poder e sobre o sua força de sedução. Igualmente se repetiu que, em termos de julgamento dos detentores do poder, cabe a história o veredicto definitivo. Nem sempre essas máximas são compreendidas e o

Por | Edição do dia 31/03/2004 - Matéria atualizada em 31/03/2004 às 00h00

Muito já se disse e se repetiu sobre a efemeridade do poder e sobre o sua força de sedução. Igualmente se repetiu que, em termos de julgamento dos detentores do poder, cabe a história o veredicto definitivo. Nem sempre essas máximas são compreendidas e o canto de sereia finda prevalecendo – audição justificável, posto serem simples humanos os poderosos de cada momento. A data 31 de março oferece aos brasileiros ótimas oportunidades para reflexões sobre tudo isso. Há 40 anos, o movimento de tanques a partir de Minas Gerais provocou uma das mais significativas viradas políticas na história do Brasil e da América Latina. Há 40 anos, o poder era empolgado por uma poderosa conjugação de forças, englobando as próprias forças armadas, a esmagadora maioria das forças econômicas e financeiras, parte expressiva das forças políticas e uma parcela do povo (com destaque para um segmento de grande poder de influência, a classe média). A Redentora, como foi batizada a ação golpista, não era um simples eufemismo – representava uma visão ufanista, mas representativa, de importantes setores da sociedade brasileira. Deveria redimir o Brasil de vários “riscos ideológicos” e de um passado de atraso, corrupção e inconstância de estratégias. Quarenta anos depois, a Redentora não parece ter como redimir nem a si mesma. Escorraçada, escrachada, teve seus parâmetros ideológicos fulminados até pela derrocada do que seria “o grande perigo vermelho” e, numa contradição que seria incompreensível para quem se aferra a rótulos – o mais destacado do pensamento militar contemporâneo brasileiro só encontra respaldo para as teses de fortalecimento nacional em lideranças pensantes de esquerda (setores que também combatem o que seria uma submissão e subserviência do nacional ao global). Durante os seus 20 anos de poder, os “de 64” não conseguiram – mesmo com o propalado “milagre brasileiro” – superar o atraso, nem estabilizar estratégias desenvolvimentistas, e muito menos, reduzir a corrupção. Como saldo mais expressivo e indelével, ficaram o sangue e as violências dos “anos de chumbo”. Mesmo com todo o apoio e força de quarenta anos atrás, a Redentora foi efêmera. E trágica. Mas legou ensinamentos que não estão restritos ao poder advindo de golpes e valem muito para o Brasil de hoje.

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