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Nº 5759
Opinião

Vest�gios

DOUGLAS APRATTO TENÓRIO * A historiografia alagoana apresenta grave deficiência ao não estabelecer de forma clara a espaciologia da colonização. A documentação insuficiente não impediu o surgimento de trabalhos com informações sobre os dois pólos de ocup

Por | Edição do dia 21/09/2002 - Matéria atualizada em 21/09/2002 às 00h00

DOUGLAS APRATTO TENÓRIO * A historiografia alagoana apresenta grave deficiência ao não estabelecer de forma clara a espaciologia da colonização. A documentação insuficiente não impediu o surgimento de trabalhos com informações sobre os dois pólos de ocupação que se formaram nos extremos do seu território, Penedo, em 1570, e Porto Calvo, em 1590. O pólo intermediário, porém, o que se estabeleceria em Alagoas do Sul, em 1611, incorporando o breve fastígio de Santa Luzia do Norte (1608), ambas situadas na região das grandes lagoas, não teve a mesma atenção das duas primeiras. E é justamente nele que vai surgir a área mais dinâmica do modelo espacial colonizador da terra alagoana. O território onde a sociedade senhorial açucareira se edificará com mais fortaleza e concentrará a sua administração, primeiro no período colonial, depois, com a primeira capital, Alagoas do Sul, em 1817, após a emancipação política e logo a seguir, em 1839, com a nova capital Maceió. Ali, com todas as limitações de um modelo espacial urbano distante de centros mais desenvolvidos como Recife e Salvador, se construiriam as bases da sociedade escravagista alagoana, regime de família e propriedade. Ali teríamos o início da literatura e do ensino e das artes com o convento e as dezenas de igrejas reunidas na vila de Santa Maria Madalena da Alagoa do Sul, rivalizando com o distante burgo sanfranciscano de Penedo. Não se pode esquecer ainda que muito antes os ancestrais pré-históricos dos atuais alagoanos escolheram a região lagunar explorando os seus férteis recursos ambientais e se instalando na região, nas praias, perto das lagoas, manguezais, restingas e matas da encosta, o que lhes garantia comida o ano inteiro. O desprotegido conjunto arquitetônico colonial de Marechal Deodoro, nome moderno da antiga Alagoas do Sul, simbolizado no Palácio Provincial, no convento de S. Francisco e outros monumentos, ainda hoje guarda os resquícios do período áureo dessa região, pólo econômico, político e administrativo do território austral da Capitania de Pernambuco. Mas onde ficavam os estabelecimentos agroindustriais que circundavam as fronteiras entre a antiga e a nova capital na região das grandes lagoas? A historiografia alagoana se ressente de um estudo esclarecedor sobre as pequenas unidades de produção açucareira, sobres as fazendas, os grandes latifúndios ou as chamadas instituições de manutenção, as instituições econômicas que regularizam aspectos imprescindíveis em qualquer sociedade. Um acontecimento alentador verificou-se durante a execução do projeto de posicionamento, cadastramento e estudo dos sítios arqueológicos pré-históricos do complexo lagunar Mundaú-Manguaba. Foram encontrados no local chamado Boca da Caixa, completamente encobertos pelo mato, vestígios de casa grande e senzala que permitem inferir sobre o funcionamento dessas unidades econômicas movidas pela força da água ou por tração animal. A extensão do sítio descoberto, os alicerces e os restos de paredes, ainda de pé, indicam que alguma coisa ainda sobreviveu ao tempo e são testemunhas vivas de importante período da região lagunar. O que teria existido ali antes da influente Vila Eponina? D. Pedro II, em sua famosa viagem em 1859, passou por aquele trecho da lagoa, parou e cumprimentou os seus moradores. Um lugar de pouco destaque na geografia imperial não mereceria tamanha atenção do poderoso monarca. A captação de água potável através de um braço do Rio dos Remédios, a existência de uma igreja nas proximidades, informações pelos antigos moradores sobre grandes proprietários e cemitério de escravos, tijolos retangulares utilizados na construção de edifícios coloniais de 41 x 20 x 7, livros de receitas de doces caseiros são complementos que permitem indicar a necessidade urgente de uma exploração do referido sítio por uma equipe de arqueólogos e historiadores. Antes que se percam completamente pela ação implacável do tempo ou pela ação predatória do homem. Para responder a muitas interrogações da historiografia alagoana até hoje sem respostas. Ou ainda visando ao turismo cultural e ecológico, numa região privilegiada que pode melhorar com a recuperação da área e a preservação daquele sítio histórico, as estatísticas nesse setor dinâmico da economia moderna. (*) É DOUTOR EM HISTÓRIA

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