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Nº 5759
Opinião

Sacrif�cios em v�o

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Por | Edição do dia 24/09/2002 - Matéria atualizada em 24/09/2002 às 00h00

HUMBERTO MARTINS * O valor de real em face do dólar está patinando, há alguns dias, em torno de mais de três reais por um dólar. É uma situação parecida com a que ocorreu quando da primeira desvalorização do real, em 1998, logo após a reeleição do atual presidente da República, quando a moeda norte-americana saltou de um real para dois reais. A paridade da moeda de um país em desenvolvimento, com Produto Interno Bruto (Pib) insuficiente para atender as necessidades da sua população, com péssima distribuição de renda, com o dólar, salvo engano, foi uma formulação financeira baseada em premissas falsas. Serviu para proporcionar, de um pouco mais de sete anos – quase oito – até os dias atuais, uma pseudo-estabilidade que não resiste a uma análise mais profunda. Planos semelhantes ao Real foram adotados em várias outras nações, com as bênçãos do Fundo Monetário Internacional (FMI), e a agonia de todos é idêntica à que vive nosso País. O exemplo mais grave que pode ser citado é o da Argentina, que nas décadas de 40 e 50 era próspera, tinha um povo educado, com saúde, e que se transformou em um caos econômico e social. Até que a crise argentina eclodisse, o FMI era só aplausos para os responsáveis pela política econômica do nosso principal vizinho do Cone Sul, em especial com o ex-ministro da Economia, Domingos Cavallo. Aqui, em menor escala do que na Argentina, milhões de pessoas estão desempregadas, milhares de empresas faliram e parte da indústria está entalada porque a maioria dos brasileiros não tem poder aquisitivo para comprar o que essas indústrias produzem. Alardeia-se muito a relativa estabilidade da moeda – se é que se pode falar em estabilidade da moeda em meio à instabilidade cambial reinante – mas é pouco mencionado que os salários, assim como as aposentadorias, só receberam aumentos, nos últimos oito anos, insignificantes, enquanto energia, gás, telefone, combustíveis, remédios e alguns alimentos, entre outros artigos, multiplicaram seus preços. O fato de alguns desses preços que aumentaram muitas vezes mais do que salários e aposentadorias serem administrados pelo governo federal é demonstração patente da incoerência das colocações econômicas oficiais. Os pequenos progressos feitos pela nossa agricultura, pela nossa indústria, pelo nosso sistema de portos, comparados com o irrelevante crescimento econômico e com a insignificante distribuição de renda, com a degradação dos padrões sociais, dos serviços de saúde, da malha ferroviária e rodoviária, porventura compensam os sacrifícios desses últimos anos? A resposta, sem dúvida, para cada nove em dez brasileiros, é não, pois não podemos ficar submissos, exclusivamente, à vontade do FMI ou à de outros organismos internacionais. (*) É DESEMBARGADOR DO TJ/AL.

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