Indaga��es educacionais
DOM FERNANDO IÓRIO * Fixando o nosso hoje, vem-nos a indagação: Quem será, no futuro, o protagonista da educação o ser humano, o livro ou a máquina? Permita-se-me interrogar: para que serve o ser humano, bem assim a palavra viva, nesta cultura, que
Por | Edição do dia 24/09/2002 - Matéria atualizada em 24/09/2002 às 00h00
DOM FERNANDO IÓRIO * Fixando o nosso hoje, vem-nos a indagação: Quem será, no futuro, o protagonista da educação o ser humano, o livro ou a máquina? Permita-se-me interrogar: para que serve o ser humano, bem assim a palavra viva, nesta cultura, que já possui impressos todos os seus saberes (ainda mais limitados) que, muito em breve, estarão codificados, em números e imagens? Quem será o agente imediato da educação o seu programador e idealizador, os grupos humanos com suas minorias cognitivas, a sociedade, com a soma de seus indivíduos manipulados, a máquina do Estado, os poderes econômicos e ideológicos mundiais, ou o ser humano? A essas perguntas podemos acrescentar estas outras: como se pode chegar a ser pessoa e a permanecer pessoa ou aperfeiçoá-la? Na relação da palavra e do olhar, do tato e do contato; na relação muda e silenciosa entre o ser humano e o livro, entre a pessoa e a máquina? Teremos, porventura, a energia necessária para realizar a tarefa de ser humanamente humanos? E, em sendo humanos, teremos a força exigida para ajudar os demais a nascer, a crescer e a permanecer humanos, agindo no sentido de que não fiquem os demais manipulados pela técnica impiedosa e pela sociedade neutralizada? Se não tivermos consciência dessa ignorância, somente, projetaremos sombra e incerteza em volta de nós. Se, ao menos, soubermos perceber esse nosso não saber, talvez possamos chegar à capacidade crítica de distinguir o pão daquilo que não é trigo, a água daquilo que é orvalho, deixando-nos guiar pelo instinto até a fonte das cristalinas águas e ao celeiro do verdadeiro pão. Para tanto, descer às raízes da identidade e superar os limites do já estabelecido faz-se necessário ao ser humano. No dizer do inspirado poeta Ramón Jiménez para se educar hoje são necessárias raízes para voar e asas para se enraizar. No final das contas, educar procurando formar é preciosa arte. A formação é arte. Diverge da técnica. A arte é criativa. Alimenta-se da fantasia. É imprevisível. Diante da máquina, ela a contempla, cobrindo-a de amorosidade. Diante da técnica, a arte transforma-a com toques de beleza e graça. A arte de formar não se confunde com teorias específicas. Ela escalona técnicas diversas, pensamentos vários. Organiza as riquezas das invenções humanas, atribuindo-lhes valores diversos, sem confundir banalidades com genialidades. A arte de formar é mestra em estender longos varais culturais e históricos para ordená-los, hierarquizá-los, desenvolvendo a tolerância, em respeito à diferença. Somente no diálogo com a técnica, com o progresso, com a máquina, com o ser humano e a transcendência de Deus seremos seres livres, conscientes e humanos. Formamo-nos, humanizando-nos. Somente nos humanizamos pela abertura à beleza, à verdade, ao bem e à transcendência. (*) É BISPO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS