Dez anos depois
Naquela manhã ensolarada de terça-feira, 11 de setembro de 2001, Fernanda, estudante de medicina da Ufal, não estava em sala de aula: a Ufal estava em greve. Mesmo assim, ao contrário de muitos outros colegas e professores, não estava na praia. Estava est
Por | Edição do dia 10/09/2011 - Matéria atualizada em 10/09/2011 às 00h00
Naquela manhã ensolarada de terça-feira, 11 de setembro de 2001, Fernanda, estudante de medicina da Ufal, não estava em sala de aula: a Ufal estava em greve. Mesmo assim, ao contrário de muitos outros colegas e professores, não estava na praia. Estava estudando em casa. Quando o primeiro avião esfacelou-se contra uma das torres,os seus colegas na praia não se alteraram. Só quando a segunda aeronave despedaçou-se, foi que a maioria tomou conhecimento e voltou para casa, interrompendo o ensolarado movimento paredista praiano. Alguns grevistas mais radicais permaneceram firmes e não abandonaram a praia nem a plataforma grevista. Dra. Fernanda formou-se em 2005. Passou um ano no PSF em Cacimbinhas, se organizando. Em seguida passou na residência médica em patologia da Santa Casa de São Paulo, onde, em face de seu desempenho, logo após concluir a residência, foi contratada para o quadro daquela instituição. Desde então, sempre teve disponibilidade do material inerente à sua especialidade: o diagnóstico histológico das enfermidades, sem o qual não existe tratamento. Ultimamente lhes faltam materiais e itens básicos para fazer os diagnósticos: como parafina e as pequenas lâminas de vidro. Em alguns momentos eles precisaram tirar do bolso o dinheiro para os comprar. Outros setores da instituição, como a cardiologia, que implantava o maior número de marca-passos para o SUS em São Paulo (muito mais que o INCOR), limitou-se a só fazê-lo para os casos extremamente graves, deixando na inviável fila a imensa maioria. O seu pronto-socorro, o maior da capital paulista, reduziu os leitos pela metade. Do outro lado da cidade, na superpovoada zona leste, o também filantrópico Hospital Santa Marcelina, simplesmente cerrou as portas do único pronto-socorro da região. A Santa Casa de São Paulo têm uma dívida de 120 milhões de reais com os fornecedores, que aumenta em 300 mil a cada dia de atendimento ao SUS. O governo paulista repassa 1,8 milhão de reais em auxílio mensal; insuficientes para minimizar a calamitosa situação. O atendimento ao SUS se agrava em todo o País: os hospitais a cada atendimento aumentam o seu prejuízo. O auxilio que alguns conseguem com os governos estaduais ou municipais, apenas prolonga a agonia, que tende para uma redução a cada dia maior dos atendimentos à população. Nestes dez anos, este foi o único setor que regrediu drasticamente no País:os leitos hospitalares para o SUS. Esta tragédia tem matado muito mais brasileiros que os diversos atentados terroristas pelo mundo afora. (*) É médico.