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Nº 5790
Opinião

Oportunidades

MARCOS DAVI MELO * “Porque sempre por via irá dereita / Quem do oportuno tempo se aproveita.” Camões, Os Lusíadas 1,76 Do que se viu da campanha presidencial até agora, a maior parte não agradou, principalmente os debates entre os candidatos. Para o

Por | Edição do dia 27/09/2002 - Matéria atualizada em 27/09/2002 às 00h00

MARCOS DAVI MELO * “Porque sempre por via irá dereita / Quem do oportuno tempo se aproveita.” Camões, Os Lusíadas 1,76 Do que se viu da campanha presidencial até agora, a maior parte não agradou, principalmente os debates entre os candidatos. Para o último então, já se criara previamente um tal clima de hostilidade entre dois dos candidatos, que a expectativa (confirmada) era de confronto pessoal, e não de discussão civilizada das questões mais importantes para a sociedade brasileira. Assim, o país está vendo se esvair mais uma oportunidade de se trazer ao lume, em horário nobre e com grande audiência, a chance de se conhecerem e se debaterem assuntos de real interesse coletivo e que precisariam ser melhor visualizados pela opinião pública nacional. Temas como emprego e segurança pública, pela sua premência, ainda tiveram algum espaço (jamais aprofundamento necessário nos debates), mas as questões relacionadas à saúde, suas complexas variáveis, foram praticamente ignorados, a não ser os chavões conhecidos e repetidos. Realidades registradas com grande impacto no meio científico e que ameaçam balançar alguns conceitos e práticas públicas, como o trabalho apresentado pelos professores Malaquias Baptista Filho, da Universidade de Pernambuco (UFPE), e Carlos Monteiro, da Universidade de São Paulo (USP), no último Congresso Brasileiro de Epidemiologia, sobre os contrastes brasileiros entre desnutrição e obesidade, foram solenemente ignorados pelos candidatos. Os professores constataram em seus estudos que a obesidade é um problema tão grande quanto a desnutrição. Tomando como base de estudos o Nordeste, os professores concluíram que as taxas de desnutrição e obesidade andam lado a lado. “Em maio de 2001, 1,9% da população da região entre 1 e 4 anos teve desnutrição e 2,7% obesidade. Das pessoas entre 10 e 17 anos, 5,9% estavam desnutridas e 4,6% obesas. Já entre a população com mais de 20 anos, 5,9% estavam com problemas de desnutrição e 8,5% de obesidade”, frisou. A questão pela importância (alimentação e saúde), não é só de interesse acadêmico. Pode até ser inicialmente árido para os políticos, mas será inevitável o enfrentamento desta e de outras realidades, que estão a mudar no país. Como a prevalência das doenças crônico-degenerativas (mormente as cardiopatias e o câncer), que apresentam relevante morbidade no país e na região. Se os candidatos forem manter o clima hostil de desconstruções e agressões anteriores nos próximos debates – evitando e perdendo a oportunidade vital do amadurecimento da sociedade -, será mais um desperdício injustificável. Sem alternativas, restará deplorar, desligar a televisão e lamentar pelos candidatos, seus marqueteiros e por todos nós, mais uma vez desprovidos da luz que pode vir, com a discussão franca e desarmada de todo e qualquer assunto, por difícil e delicado que o seja. (*) É MÉDICO

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