Medeiros Cavalcanti
ELIANA CAVALCANTI * Tinha tanto orgulho de ser jornalista que pediu para ser enterrado no Cemitério de Santo Amaro, onde está o mausoléu dos jornalistas. Hoje, seus ossos descansam na Igreja Conceição dos Militares, no centro de Recife, pois, mesmo não s
Por | Edição do dia 28/09/2002 - Matéria atualizada em 28/09/2002 às 00h00
ELIANA CAVALCANTI * Tinha tanto orgulho de ser jornalista que pediu para ser enterrado no Cemitério de Santo Amaro, onde está o mausoléu dos jornalistas. Hoje, seus ossos descansam na Igreja Conceição dos Militares, no centro de Recife, pois, mesmo não sendo católico pertencia, curiosamente, à irmandade daquela igreja. Sustentou-nos e educou-nos com o seu salário de funcionário público federal. Mas isso, ele mal mencionava, apesar de ter trabalhado muitos anos no extinto IAPI e, mais tarde, como fiscal do INSS. Nascido em Maceió, em 29 de setembro de 1922, já em 1935, ao ingressar no Liceu Alagoano, escreve o seu 1o conto. Aos 15 anos começa a trabalhar como revisor na Gazeta de Alagoas. Em 38, já consegue publicar seus trabalhos no Jornal de Alagoas e no jornal A Notícia. Em 46, passa a escrever no Diário do Povo e dois anos depois, na Gazeta de Alagoas. Recebe louvor da Assembléia Legislativa pelas suas reportagens com Aldemar Paiva sobre a catástrofe de 49 e começa, neste período, a escrever para a Rádio Difusora de Alagoas, 1950, foi um ano marcante: estréia a opereta O Herdeiro de Naban, com história sua, libreto de Linda Mascarenhas e música do prof. Lavenáre, passa a ser presidente do teatro do Diretório Acadêmico, membro do Centro Cultural Emílio de Maya, cronista de cinema do Jornal de Alagoas, forma-se na Faculdade de Direito de Alagoas e sai da Difusora por antagonismo político, retornando a ZYO-4, sob o governo de Arnon de Melo. Em 52, abandona Maceió por Recife. Vai para a PRA-8 Rádio Clube de Pernambuco, onde passa a escrever até 22 programas semanais e, ao mesmo tempo, escrever para o Diário de Pernambuco. Porém, sem esquecer a sua terra natal, durante vários anos envia para a Gazeta de Alagoas os famosos Bilhetes de Olinda. O seu programa Almanaque do Almoço, devido ao sucesso de público, passa muitos anos no ar. Como membro fundador da Associação dos Cronistas Teatrais de Pernambuco, escreve várias peças de teatro, entre elas O Jacaré Azul, premiada no Rio de Janeiro. Na década de 60, trabalha como produtor e noticiarista internacional da TV Jornal do Commercio e produtor da TV Universitária. Assina, por um longo período, a coluna de teatro do Jornal do Commercio, justamente quando o Recife, como 3a capital do País, efervescia culturalmente falando, não só produzindo como recebendo os melhores artistas nacionais e internacionais. Para então a ser muitíssimo elogiado e reverenciado como grande crítico de arte. Sem perder tempo, forma-se em Dramaturgia pela Escola de Belas Artes do Recife, termina o Curso da Adesg, é agraciado com a Comenda Bispo Azeredo Coutinho e, por último, torna-se membro imortal da Academia Pernambucana de Artes e Letras. Não fez esforço nenhum para publicar um livro, mas em seu livro, intitulado A Via-Crúcis da Crônica, lançado em 1990, foi resultado de um concurso da Secretaria de Cultura de Alagoas, do qual participou por forte insistência minha. Sem dúvida, um homem brilhante, de muita cultura e retidão de caráter. Um alagoano notável de quem tenho a honra de ser filha. Pena que tenha falecido tão cedo (1990), quando poderia estar, aos 80 anos, ainda prestando sua contribuição à arte e à cultura do País. (*) é bailarina