Opinião
O legado de Arnon de Mello para Alagoas

>> FERNANDO COLLOR DE MELLO é senador ?Vi-o, muitas vezes, deixar os próprios afazeres particulares, durante horas e dias, para, desinteressadamente, servir a amigos ou conhecidos que lhe solicitavam a assistência, no campo daqueles mesmos afazeres ou em outro qualquer terreno. Hoje, vejo-o deixar tudo, todos os interesses, os comerciais e os da amizade particular, para entregar-se de todo à sua vocação de servir ? de servir em esfera mais ampla: à terra, aos conterrâneos, à gente de Alagoas.? Dentre as inúmeras referências que pude encontrar feitas por renomadas personalidades da cultura brasileira, talvez esta seja a mais autêntica e a que melhor traduz o espírito e a trajetória de nosso pai, Arnon de Mello. Seria ela, por si só, suficiente em seu integral objetivo se não fora, contudo, expressada em 1950, por ninguém menos do que Aurélio Buarque de Holanda, cuja importância e autoridade dispensam comentário. Da mesma forma, inspirado pelos ares e pelo espírito deste augusto Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, poderia ter citado manifestações de figuras do porte intelectual de Gilberto Freyre, José Lins do Rego, Juraci Magalhães, Regis Bittencourt, Carlos Lacerda, Gilberto Amado, Raimundo Magalhães Júnior, Humberto de Campos, Costa Rego ou Juraci Camargo, todos com claros e sinceros testemunhos pessoais registrados acerca do jornalista, advogado, empresário e político Arnon de Mello, que teve em nossa mãe, Leda Collor de Mello, sua grande inspiração. Tenho convicção de que, ao longo de 2011, as comemorações do Centenário de nascimento de nosso pai foram também capazes de, mais do que verter e elucidar a plenitude de sua personalidade, de reconhecer a magnitude de sua obra. Hoje mesmo, nesta solenidade de encerramento, todos tiveram a oportunidade de conhecer mais ainda a vida, o perfil e o trabalho de Arnon de Mello, graças à brilhante palestra do deputado, secretário de Estado, acadêmico, médico e professor José Medeiros. Por isso, como filho responsável por participar desta justa e oportuna homenagem, também por delegação de minha irmã Ana Luísa, resta-nos, talvez, sem recorrer a repetições, a mais difícil das missões, a começar pela natural emoção que nos acolhe neste momento. No campo do trabalho, restrinjo-me a lembrar que Arnon de Mello foi jornalista, redator-chefe e diretor-geral de jornal, mas não sem antes ter sido agente de assinaturas e repórter. Foi advogado de uma associação comercial, mas não sem antes ter sido secretário jurídico desta mesma entidade. Foi também empresário de sucesso, mas não sem antes ter sido office-boy e comerciante no ramo imobiliário. Foi ainda escritor ? com a publicação de quatro livros e inúmeros artigos e ensaios ? mas não sem antes ter sido revisor de textos. Foi por fim, político ? de deputado federal a senador, passando pelo governo de Alagoas ?, mas não sem antes ter sido presidente do grêmio estudantil. Foi este o seu permanente labor e sua maior vocação: a incansável luta pelo crescimento, de cuja experiência ele transferiu e soube aplicar no planejamento e na execução de políticas públicas voltadas para o País e, notadamente, para a nossa gente das Alagoas. Como conduta pessoal, Arnon de Mello soube ousar em tudo o que realizou, sempre por meio de atitudes precisas e de uma rara e peculiar determinação. De seus ensinamentos, aprendemos a salutar diferença prática entre a ilusão de apenas acompanhar o que se pretende e a realidade do imponderável valor de perseguir o objetivo concreto até alcançá-lo efetivamente. Daí a capacidade que temos de extrair sua lição maior, que a ação é o verdadeiro fruto do conhecimento. No plano particular, Arnon de Mello deixou um imenso e intenso legado à família, aos amigos, e, em especial, aos filhos, a começar por nos ensinar a amar e a respeitar Alagoas, suas instituições, seu povo e suas peculiaridades. Deu-nos, ainda, a oportunidade e a missão de dar prosseguimento à sua valiosa trajetória política e empresarial. A primeira, mediante o exercício de uma carreira vitoriosa e dedicada à causa pública. A segunda, consolidada neste aglomerado edificado, peça por peça, no setor das comunicações, qual seja, a Organização Arnon de Mello, a maior do estado e uma das três maiores do Nordeste brasileiro. Ressalto aqui o notável crescimento que a Organização vem registrando ao longo dos anos, fruto do trabalho dedicado, criativo e obstinado de todos aqueles que a vêm fazendo, e da população alagoana, que têm, todos, na Organização Arnon de Mello, o seu orgulho. Sim, seu orgulho, porque nosso pai sempre nos dizia: ?meus filhos, eu sou filiado a um partido político, mas as Gazetas não são. Na realidade, o verdadeiro proprietário da Organização é o povo alagoano, a nós cabendo apenas administrá-la?. E, quando indagado por que investia tanto nas empresas em Alagoas, já que poderia obter melhor retorno financeiro aplicando seus recursos no sudeste do País, a resposta vinha incontinenti: ?o que faço ao investir tanto Alagoas é muito pouco diante do tanto que o povo me concedeu em carinho, atenção, compreensão e, sobretudo, a oportunidade de poder servi-lo.? Arnon era essencialmente um jornalista. Gostava de estar em permanente contato com as redações e com as oficinas, numa época em que a mídia eletrônica ainda não havia se estabelecido. Da redação das Gazetas saíram profissionais por ele formados e que despontaram e despontam com intenso brilho nos meios de comunicações do Sudeste brasileiro. Portanto, gostaria de fazer agora, aquilo que, tenho certeza, ele nos inspiraria dizer neste momento: a todos vocês que construíram a Organização Arnon de Mello e fizeram de seus veículos líderes em todas as suas áreas, o nosso mais profundo agradecimento. Sem a dedicação da família gazeteana, este notável êxito não teria sido possível alcançar. Por tudo isso, e na tentativa de delinear com a máxima nitidez o perfil deste indelével empreendedor alagoano, apego-me às palavras do escritor inglês Samuel Butler, para quem ?toda obra de um homem é sempre um autorretrato?. Ou seja, a melhor imagem de Arnon de Mello ele mesmo a fez ao externá-la em sua própria obra, seja ela na arena empresarial e política, seja no terreno da literatura e na sua postura humanista. Foi ele o mais completo modelo, o melhor exemplo que conhecemos para confirmar a máxima aristotélica de que ?realizando coisas justas, tornamo-nos justos; realizando coisas moderadas, tornamo-nos moderados; realizando coisas corajosas, tornamo-nos corajosos?. Sem dúvida, Arnon de Mello conseguiu conciliar, com denodo, presteza e respeito, essas três virtudes das quais não devemos jamais esquecer e delas extrair o parâmetro maior de nossas vidas: justiça, moderação, coragem! Outra sensata expressão dos valores, conceitos e concepção de vida de Arnon de Mello, encontramos em suas próprias palavras manifestadas em seu livro ?Uma Experiência de Governo?, no qual, mais do que esclarecer, ele ensina seu modo de administrar e agir ante as dificuldades naturais da vida pública: ?A linha de objetividade e impessoalidade, de isenção e serenidade, que me impus como um dever de consciência, não se rompeu ao choque das lutas, e circunstâncias e acontecimentos não a comprometeram, nem me desviaram do caminho escolhido?. Assim refletia, assim se comportava Arnon de Mello. Por fim, aproveitando a presença de notáveis intelectuais e de representantes dos diversos setores ligados à informação pública, gostaríamos de asseverar nossa opinião acerca do exercício, das atividades e do papel dos meios de comunicação, como forma de reafirmar o posicionamento de nosso pai em relação ao tema, já que nossos pontos de vista foram e são inteiramente convergentes, em todos os sentidos. Sempre defendemos a liberdade de expressão, o maior pilar da democracia. Somos contrários a qualquer tipo de regulação e controle dos órgãos de comunicação. Continuamos discordando de qualquer proposta de regulamentação do exercício profissional do jornalismo. Todavia, a defesa desses princípios demanda sempre a devida responsabilidade pública por parte dos meios e seus profissionais. Senhoras e senhores, familiares, amigos e ilustres convidados aqui presentes, antes de encerrar, não poríamos deixar de nos congratular com o que, merecidamente, foram hoje agraciados com a comenda Senador Arnon de Mello: o deputado, governador, senador, prefeito e ministro Guilherme Palmeira ? referência de integridade e honradez ?, o professor e médico dr. Humberto Gomes de Melo ? provedor da Santa Casa de Maceió, entidade que se tornou, sob o seu comando, um marco do sistema de saúde de nossa região ?, o engenheiro Álvaro Cezar de Almeida ? diretor da Braskem, empresa líder do polo cloro-ácool-químico ? e os Empresários José Guido do Rego Santos ? líder classista do Comércio, inovador na área de Marketing, grande incentivador da instalação da TV Gazeta e seu primeiro anunciante. Vale lembrar que Alagoas era, em 1975, o único estado da Federação sem uma emissora de televisão ? e Álvaro Mendonça Alves ? que, acreditando no futuro de nossa terra, desenvolve um vitorioso projeto empresarial, aliado a uma profunda consciência social. A todos os senhores, os nossos parabéns e os votos de continuado êxito em suas vidas pessoais e profissionais. Nas pessoas do dr. Carlos Mendonça e do dr. Luis Amorim, dirigimo-nos, Ana Luísa e eu, a todos àqueles que, com extrema dedicação, participaram e viabilizaram a realização dessa homenagem pelo centenário de nosso pai, registrando os nossos mais profundos e sinceros agradecimentos. E a todos que aqui enaltecem ainda mais esta solenidade com suas presenças, o nosso muito obrigado. * Discurso proferido durante a solenidade de encerramento das comemorações em homenagem ao centenário de nascimento do jornalista Arnon de Mello