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Nº 5821
Opinião

Major Lu�s

GUILHERME PALMEIRA * Alagoas seguramente deplora a morte de Luís Cavalcanti, uma das mais festejadas expressões não só da política alagoana, como também do cenário nacional, no qual deixou a marca de sua inconfundível personalidade. Se todo o Estado te

Por | Edição do dia 02/10/2002 - Matéria atualizada em 02/10/2002 às 00h00

GUILHERME PALMEIRA * Alagoas seguramente deplora a morte de Luís Cavalcanti, uma das mais festejadas expressões não só da política alagoana, como também do cenário nacional, no qual deixou a marca de sua inconfundível personalidade. Se todo o Estado tem razões para prantear a sua morte, eu particularmente sinto-me duplamente atingido. Em primeiro lugar, pela admiração que sempre lhe votei fazendo de muitas de suas posturas um exemplo para a minha vida pública. E em segundo lugar por ter sido, na qualidade de suplente de meu pai, como senador, que ele iniciou uma fecunda e exemplar carreira de homem público. As conquistas que alcançou como político não foram menores nem menos expressivas que o brilho de sua carreira militar, iniciada em 1930, aos 17 anos de idade. Não havia quem, em Alagoas, não o conhecesse pela patente de major, alcançada em 1951, quando assumiu a diretoria geral da Comissão de Estradas de Rodagem de Alagoas, muito embora ao assumir o governo do Estado, em memorável campanha, já tivesse atingido o posto de coronel. Essa condição de uma categoria que nos altos escalões das Forças Armadas era conhecida como a dos “anfíbios”, isto é, militares com trajetória política e parlamentar, permitiu-lhe circular com desenvoltura em todas as crises que precederam e sucederam o regime militar. São conhecidos os episódios em que se envolveu para garantir a posse de Jango, depois da surpreendente renúncia de Jânio Quadros. Sua firmeza e serenidade, reconhecidas e respeitadas tanto entre os políticos como entre seus colegas de farda, foram decisivas para conseguir dos ministros militares a aceitação da fórmula política encontrada pelos líderes civis para pôr fim a uma das mais graves crises políticas da segunda metade do século passado. Sua posição tornou-se mais acatada e respeitada quando, vendo violado o pacto expressamente firmado com o presidente, ao insistir por todos os meios em pôr fim ao parlamentarismo, rompeu com ele de forma clara e ostensiva, engrossando a fileira dos que se aliaram à oposição militar, convencidos de que o País voltava a correr o risco de uma ruptura institucional. Esta mesma firmeza ele revelou em todos os momentos de sua carreira política, quando se confrontou, serena e decisivamente, com as posições políticas tanto do presidente Geisel, quando de seu sucessor, o general Figueiredo. Tendo alcançado notoriedade nacional por suas posições políticas, depois de ter representado Alagoas na Câmara e no Senado, nunca deixou de ser para seus conterrâneos o mesmo “Major Luís” que, no governo, administrava paternalmente e com reconhecida competência e tolerância os destinos de sua terra. Todas as suas posições revelavam um cidadão dotado de invejável devotamento cívico, sem nunca ter abandonado suas profundas convicções democráticas. Quando se opôs à forma como o PDS e o palácio do Planalto pretendiam impor a reforma política, não atendia a conveniências políticas, partidárias ou eleitorais. Cingia-se a sua convicção de que as questões institucionais interessavam não a este ou aquele governo, mas a toda a sociedade e ao País inteiro, independentemente de preferências ou interesses pessoais. Era com atitudes como estas que granjeava o respeito de todos, a admiração de muitos e o reconhecimento geral de quantos viam nele um cidadão exemplar, um militar devotado a sua carreira e um homem público dotado das mais excepcionais virtudes cívicas. Que o exemplo do Major Luís possa inspirar a política alagoana e servir de norte para as futuras gerações que, conhecendo a sua vida reta e segura, haverão de pranteá-lo como faço hoje, em nome de minha geração. (*) É MINISTRO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO

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