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Nº 5759
Opinião

Voto �til

MARCOS DAVI MELO * Como a maioria, acompanhei a distância a campanha eleitoral que ora finda. Um pouco pela televisão, um pouco pelo rádio do carro e pelos amigos mais chegados no dia-a-dia. No trabalho, como o tempo disponível para conversas alheias à m

Por | Edição do dia 04/10/2002 - Matéria atualizada em 04/10/2002 às 00h00

MARCOS DAVI MELO * Como a maioria, acompanhei a distância a campanha eleitoral que ora finda. Um pouco pela televisão, um pouco pelo rádio do carro e pelos amigos mais chegados no dia-a-dia. No trabalho, como o tempo disponível para conversas alheias à medicina é mínimo, pouco tive contato com os colegas sobre o assunto. Com a família, sempre os deixei livres para as suas avaliações e opções individuais. Onde mais convivi com o debate e a controvérsia foi nas caminhadas nas madrugadas da orla da Pajuçara. Os companheiros, profissionais liberais, pequenos empresários ou funcionários públicos se agrupam há mais de 20 anos ao amanhecer. Cidadãos que chegaram aos 45, 50 anos ou mais, estruturaram as suas vidas, formaram as suas famílias, têm e tiveram as suas dificuldades, as pequenas conquistas e vitórias, às custas dos seus próprios esforços. No labor como no lazer, compartilhar vivências semelhantes é salutar. O que se conseguiu na vida foi às custas do mais puro suor. Há mútuo respeito, também, por isso. As opiniões e opções foram e ainda são as mais variadas, principalmente em relação ao voto para a presidência da República. Alguns mudaram as suas tendências durante o transcorrer do processo. Houve bate-bocas. Colocações jocosas, gozações. Poucos engajamentos reais e nenhum estremecimento inconformável. Nada como as discussões quentes dos tempos da guerra fria. Não se desfizeram velhas amizades. Talvez sejam o desestímulo, o ceticismo, ou apenas a plena maturidade chegando, sob o manto plácido e sereno das madrugadas da Pajuçara. Assim a democracia consolida-se entre nós. Com as suas virtudes – entre elas a sempre difícil, mas não impossível alternância no poder -, e com todos os seus defeitos, entre eles a pronunciada força do vil metal e do poder no resultado das eleições. Embora, as perspectivas neste momento, na disputa planaltina, possam em princípio contrariar esta prerrogativa. Para a maioria dos eleitores, que votam sem expectativas de usufruto pessoal – mas almejam o melhor para o Estado e para o País -, e que até agora sobreviveram digna e duramente, às custas de seus próprios méritos e nunca come-ram um prato de feijão ou deram um copo de leite aos filhos por favorecimento político, este é sempre um momento sin-gular. É necessário se ser responsável e racional, mas um pouco de coração se justifica, probatum est. Não há motivos para entusiasmos ingê-nuos ou niilismos absolutos. Ab initio, eleição é apenas mais uma das imperfeitas pelejas humanas. Pode-se votar livremente, alheio até ao resultado final e sempre poderá ser um voto útil. Sendo o eleitor independente, sem débitos ou compromissos. A força do dinheiro, em detrimento de outros valores, na sua eleição. O voto bem intencionado, sem interesses subalternos, será sempre um voto útil, eleja-se ou não o candidato. Sublime-se neste momento, para não confundir, a assertiva de Noberto Bobbio, que dizia navegar a nau política por ventos eticamente turvos e insondáveis ao cidadão comum, o eleitor. (*) É MÉDICO

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