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Nº 5759
Opinião

Maldi��o de Pilatos

RONALD MENDONÇA * Confesso meu desapontamento com esses debates que costumam fechar o período de propaganda eleitoral eletrônica. Meio circenses, extremamente emocionais, tensos mesmo, os encontros pecam sobretudo pela exigüidade de tempo oferecido par

Por | Edição do dia 05/10/2002 - Matéria atualizada em 05/10/2002 às 00h00

RONALD MENDONÇA * Confesso meu desapontamento com esses debates que costumam fechar o período de propaganda eleitoral eletrônica. Meio circenses, extremamente emocionais, tensos mesmo, os encontros pecam sobretudo pela exigüidade de tempo oferecido para as respostas, quando é humanamente impossível o sujeito resumir decentemente uma proposta de trabalho sobre desemprego, segurança, saúde, educação e moradia, para ficar só nesses. Nessas horas, valem muito mais a esperteza, a desenvoltura, a verve, enfim, do candidato do que propriamente sua possível capacidade administrativa. É o que costumam chamar de “inteligência emocional”. Dizem que  nos Estados  Unidos, berço  do show business, foi o célebre confronto  entre os candidatos Kennedy  x Nixon, nos anos 60, que  conseguiu entortar o fiel da balança, virando o jogo em favor  de Kennedy que, com sua pinta  de galã de Hollywood, conseguiu passar uma imagem de  equilíbrio e energia, enquanto  Nixon, pálido, trêmulo e gago,  transmitia justamente o oposto. O resultado disso todos sabem: Kennedy venceria as eleições, mas não completaria o mandato. Antes de ser assassinado, lançou o seu país numa absurda e fracassada aventura bélica no Vietnã e, inconseqüente, quase metia o mundo numa guerra atômica; ele e o camarada Nikita Kruchev. Anos depois, Nixon, já mais desarnado, seria eleito presidente, contudo renunciaria ao cargo por ser flagrado patrocinando arapongagens no comitê do partido adversário. O fato é que o Brasil importou o modelo americano e a partir da primeira eleição livre para presidente, depois da queda da ditadura militar, temos assistido a esses cara-a-cara. Precedido por um poderoso esquema de divulgação, o debate dessa quinta-feira entre os presidenciáveis revelou-se surpreendente pela qualidade de explanação - e o evidente preparo- de determinados candidatos. Talvez a ampliação do tempo  tenha concorrido para a melhora do nível das discussões,  frustrando aos que alimentavam a fantasia de que iriam ver  um reality show “Padrão Ratinho de Qualidade”, até porque se temia  que o desespero pela iminência de derrota de algum candidato alimentasse sentimentos e ações menos  nobres. A decepção dessa vez ficou  por conta da tíbia participação  do líder das pesquisas, Lula, que talvez tenha se poupado para um, cada vez menos provável, 2o  turno. Outro que não disse pra que veio foi o Serra, devastado pelas suas ambigüidades e venenos. O detalhe hilário é que muita gente escolheria o Boner, moderador do programa, para presidente. Opção eleitoral é coisa muito complexa mesmo. Lembro de uma, há dois mil anos, quando um certo Pilatos, trêmulo e gago, implorou ao povo que escolhesse entre Barrabás e Jesus. É longo o caminho do aprendizado. (*) É MÉDICO E PROFESSOR DA UFAL

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